Max, de 25 anos, trabalha como freelancer na redação de uma revista em Londres, e consegue publicar alguns de seus contos. Mas, seu maior projeto é um ousado romance sobre prostituição na era digital. Para elaborar uma obra autêntica, ele mesmo se prostitui criando um perfil num site pornô usando o pseudônimo Sebastian. Cada encontro rende um capítulo. Porém, essa sua vida secreta começa a se sobrepor aos seus compromissos profissionais. Sem tempo para dar uma pausa e refletir se sua motivação é o prazer, a pesquisa ou o dinheiro, essa segunda vida o atropela. Eis aí a questão central dele, e do filme: a busca pela sua própria identidade.
Enquanto a vida dupla se mantém paralela, Max equilibra sua rotina. As coisas começam a sair do prumo, inicialmente, em dois acontecimentos que cruzam essas existências. Num deles, um atendimento mais louco, que o envolve num inédito sexo grupal, impede que ele entregue um serviço para a sua chefe na revista. Em outro momento, ele reconhece um de seus clientes em um evento de editores de livros. O risco de ser descoberto o faz correr por um corredor escuro, simbolizando esse lado sombrio que ele ignorava até então. Em outras palavras, reconhece os perigos dessa vida dupla.
Perigo real
De fato, no ponto de virada da trama, Max enfrenta um grave problema diante de um cliente que reage agressivamente ao descobrir que era usado para gerar material para um livro. A conversa do protagonista com a sua mãe, diante de um espelho que distorce a sua imagem, reflete o que ele sente naquele momento, ou seja, ele já não sabe quem ele é ou quem quer ser.
A conclusão do filme revela, através de cenas intuitivas, que ele, enfim, encontra sua identidade. Transa com um homem, mas já não se prostituindo. Troca a terceira pessoa do texto de seu livro pela primeira pessoa. E, por fim, olha diretamente para a câmera. O finlandês Mikko Mäkelä, neste seu segundo longa, faz um belo trabalho de direção em prol da narrativa. Nesse sentido, evita filmar cenas explícitas, mas mesmo assim consegue retratar com autenticidade e ousadia os vários encontros do protagonista.
Sebastian e Baby
Perto do brasileiro Baby (2024), de Marcelo Caetano, que estreia dia 9 de janeiro de 2025 nos cinemas, Sebastian é um retrato menos duro. Embora os protagonistas dos dois filmes sejam jovens que se prostituem, Max tem uma condição mais privilegiada (conta com uma família que o apoia e já está fazendo mestrado) que Wellington, que passou três anos na Fundação CASA, e cai na prostituição das ruas e no tráfico de drogas. O personagem brasileiro não sofre crise de identidade, mas precisa de um rumo para sua vida. Nos desfechos desses filmes, Max se encontra e tem tudo para construir um belo futuro como pessoa e escritor; já Wellington enfrenta com um sorriso um caminho ainda incerto.
Com lançamentos nos cinemas em datas muito próximas, esses dois filmes conversam muito entre si. Comprovam como a estrutura basilar, da educação e da família, são essenciais para a vida madura dos jovens. Tanto Max quando Wellington perdem o rumo, mas o primeiro consegue se reestabelecer, enquanto o segundo fica à mercê da sua sorte. Vale muito aproveitar essa oportunidade de assistir a esses dois filmes, para pensar sobre retratos diferentes do mesmo tema.
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Ficha técnica:
Sebastian | 2024 | 111 min. | Reino Unido | Direção: Mikko Mäkelä | Roteiro: Mikko Mäkelä | Elenco: Ruaridh Mollica, Hiftu Quasem, Jonathan Hyde, Ingvar Sigurdsson, Dylan Brady, Pedro Minas.
Distribuição: Imovision.