Shazam! Fúria dos Deuses (Shazam! Fury of the Gods) repete o que deu certo em Shazam! (2019). Ou seja, a liberdade de tirar sarro do que é evidentemente ridículo nesse super-herói que já ganhou uma adaptação para as telas numa série de Tv dos anos 1970. O principal ponto difícil de engolir está no conceito de um adolescente se transformar num super-herói adulto ao pronunciar uma palavra mágica. Ponto que, aliás, fica ainda mais bizarro em versão live action, pois necessita que atores distintos interpretem cada fase. Além disso, o filme não deixa escapar os detalhes. Por exemplo, o próprio Shazam (Zachary Levy) comenta que um outro herói veste roupa vermelha com um raio amarelo no peito, referindo-se ao Flash. Para bem do filme, essa sequência mantém o tom cômico em relação a tudo isso.
O primeiro filme se concentrou na origem do Shazam. Com isso, pôde colocar a comédia em primeiro lugar, ao mostrar como o garoto órfão Billy Batson (Asher Angel) se adaptaria a essa bizarra nova responsabilidade. Mas, agora chegou a vez de colocar mais ação nessa jornada. Então, a trama insere uma ameaça real com um pé nas raízes míticas do super-herói. Surgem, assim, as Filhas de Atlas, deusas que querem retomar o poder que lhes foi roubado. Embora sejam irmãs, elas representam diferentes gerações: Hespera (Helen Mirren), Kalypso (Lucy Liu) e Anthea (Rachel Zegler). Ótimas atrizes, como podemos ver; duas já consagradas e a revelação da versão de Spielberg para Amor, Sublime Amor (West Side Story, 2021).
A ação e o tema
Os combates no filme exploram os superpoderes dos heróis e dos vilões. Assim, evita lutas corporais e se concentra no uso das habilidades especiais de voar, de se mover velozmente, de lançar raios, de controlar as mentes, de mover a matéria (lembrando o filme A Origem [Inception, 2010]) etc. Enfim, fantasia pura, incluindo até um dragão, unicórnios ferozes e seres monstruosos (que podem ser assustadores para crianças menores e que resgatam a especialidade do diretor do filme, David F. Sandberg, que começou no terror antes de embarcar nessas produções da DC Entertainment).
Shazam! Fúria dos Deuses levanta o tema do trabalho em equipe. No filme, todos os amigos órfãos que moram com Billy Batson ganham a oportunidade de usar os superpoderes que receberam no final da aventura anterior. E, juntos, enfrentam as poderosas deusas que, aliás, seriam invencíveis se não quebrassem esse espírito e brigassem entre si. Mas, para não desvirtuar o foco no personagem principal, o roteiro dá um jeito de isolar Shazam para o embate decisivo. Até porque o melhor amigo de Billy, Freddy Freeman, disputava o protagonismo nesse enredo. Na verdade, esse personagem é mais interessante (passa por um arco de aprendizado para lidar com os superpoderes sem prepotência), e o ator que o interpreta, Jack Dylan Grazer, é muito mais carismático que Asher Angel.
O que virá em seguida?
Enfim, Shazam! Fúria dos Deuses, apesar de investir agora mais na ação, continua tão divertido como o primeiro filme. Mas, enfrenta uma sinuca de bico para uma nova sequência. Billy Batson já é quase um adulto (aqui tem 17 anos), então, como ficará a concepção dele?
Afinal, a outra adulta da turma, Mary, é interpretada pela mesma Grace Caroline Currey em suas versões como pessoa normal e super-heroína. Provavelmente, essa solução não funciona mais para Billy/Shazam, já que nos acostumamos com Asher Angel/Zachary Levy. Sem contar que, com o amadurecimento, Billy não será mais o adolescente perdido. A aparição surpresa de uma famosa super-heroína da DC (devidamente ovacionada na sessão de cinema na qual vi o filme) talvez indique um novo rumo para Shazam.
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Ficha técnica:
Shazam! Fúria dos Deuses | Shazam! Fury of the Gods | 2023 | EUA | 130 min | Direção: David F. Sandberg | Roteiro: Henry Gayden, Chris Morgan | Elenco: Zachary Levi, Helen Mirren, Rachel Zegler, Lucy Liu, Asher Angel, Jack Dylan Grazer, Adam Brody, Meagon Good, Grace Caroline Currey, Marta Milans, Djimon Hounsou.
Distribuição: Warner.