A psicóloga Sibyl decide parar com os seus atendimentos terapêuticos. A partir de agora, ela pretende focar no livro que está escrevendo, com base nas experiências de seus pacientes. Porém, ela mantém alguns deles, e aceita um novo caso, o da atriz Margot.
Por um lado, ela abre essa exceção por causa do desespero da jovem Margot, que está grávida do ator principal do filme em que trabalha. Mas, ele é o namorado da diretora. Por isso, ela teme ser despedida e, assim, prejudicar sua carreira.
Por outro lado, Sibyl se empatiza com ela porque viveu uma experiência similar com Gabriel, o pai de sua primeira filha. No entanto, o maior motivo é que o caso pode render um material interessante para o seu livro.
Em paralelo, o filme acompanha o atendimento de Sibyl a um menino. Em breves inserções ao longo da trama central, esse caso serve para demonstrar que a protagonista consegue ser uma profissional competente.
Contudo, a linha narrativa principal acompanha o desmoronamento da vida pessoal de Sibyl. Ela está casada e com dois filhos, um do atual marido e a outra de Gabriel. Conforme ela se aprofunda no tratamento de sua nova paciente Margot, mais intensos são os flashbacks de seu caso com esse homem que a engravidou e partiu. Logo, ela se deixa envolver demais, rompendo os limites éticos de sua profissão
Assim, vai ao set de filmagens e conhece Igor, o ator que engravidou Margot, e a diretora do filme, namorada dele. Esse ambiente desperta seus desejos, e Sibyl se entrega ao sexo e às bebidas, destruindo seu estável casamento.
Mulheres à beira de um ataque de nervos
O filme retrata suas personagens femininas em estados emocionais instáveis. Além de Sibyl, há três protagonistas secundárias importantes.
Uma delas é a sua irmã Edith, que não superou a morte da mãe se sente uma perdedora. Outra personagem é Margot, a atriz insegura com a gravidez não planejada. Apesar de Igor preferir que ela tenha o bebê, Margot resolve abortar, temendo perder seu papel no filme.
Por fim, a diretora desse filme dentro do filme perde seu controle também, ao descobrir a infidelidade do namorado Igor. Com isso, perde o controle e abandona o set de filmagem.
Homens centrados
Os homens, pelo contrário, são caracterizados no roteiro como pessoas mais centradas. Igor possui um poder de sedução irresistível, e conquista as três mulheres em sua órbita. Diante da gravidez, ele propõe assumir a paternidade, mas Margot resolve abortar. Igualmente sedutor, e sensato, parece ser o pai da primeira filha de Sibyl, como indica o inesperado encontro no parque de diversões.
Já o marido atual é o homem correto que não aceita o comportamento insensato da esposa. Por fim, há ainda o terapeuta de Sibyl, a quem ela ouve atentamente porque está perdida, como mostra a cena que abre o filme.
Direção
Sibyl é o terceiro longa-metragem ficcional da diretora Justine Triet, que retrata com competência essa narrativa com vários momentos de picos dramáticos. Para isso, insere, em doses e momentos corretos, as situações de apoio que acompanham a história principal. Nesse sentido, temos os flashbacks das cenas de sexo de Sibyl e Gabriel, recorrentes durante todo o filme, num crescendo de sensualidade que acompanha o que se passa em sua vida atual.
Da mesma forma, Justine Triet insere, de tempos em tempos, breves cenas do atendimento ao paciente menino, das conversas com o terapeuta e das sessões de Alcóolicos Anônimos. Com isso, a protagonista ganha várias dimensões, acentuando a sua complexidade.
Elenco
Justine Triet dirige pela segunda vez Virginie Efira, com quem trabalhou em seu filme anterior, Na Cama com Victória (2016). A atriz vive a complexa protagonista Sibyl, uma personagem com diferentes facetas. Competente e segura no trabalho, ela alterna momentos de instabilidade e decisões precipitadas, com moralidade questionável. Ou seja, um grande desafio que Virgine Efira consegue vencer, num desempenho tão bom quanto o de Um Amor Impossível (2018).
No papel de Margot Vasilis, está Adèle Exarchopoulos, que ganhou fama no picante Azul é a cor mais quente (2013). Em Sibyl, ela pode novamente mostrar sua sensualidade na cena romântica no filme dentro do filme. Mas, essencialmente, sua personagem atravessa um momento de desespero.
Ainda nos papéis femininos, que ganham maior destaque no filme, estão duas atrizes conhecidas. A alemã Sandra Hüller, de As Faces de Toni Erdmann (2016), faz a diretora de cinema. Enquanto isso, Laure Calamy, da série Dix pour cent e do filme Minhas Férias com Patrick (2020), interpreta a irmã de Sibyl, sendo a pivô dos breves alívios cômicos da trama.
Stromboli
As filmagens do filme que está sendo realizado dentro da história de Sibyl acontecem na pequena ilha vulcânica na Sicília que serviu de locação para o filme Stromboli (1950), de Roberto Rossellini. Então, isso amplia a metalinguagem de Sibyl, pois, durante as rodagens desse filme. Rossellini teve um caso com a atriz principal, que era Ingrid Bergman. A sueca já era uma celebridade nos EUA, e essa infidelidade conjugal foi repudiada pelo conservador público norte-americano. Como resultado, o escândalo arruinou sua carreira nos EUA, pelo menos temporariamente. Essa situação parece ter inspirado a história de Sibyl.
Avaliação
Apesar da boa direção, do elenco afiado, e da bela produção, o sexismo simplificador do roteiro de Sibyl incomoda. Essa trama com mulheres desequilibradas e homens centrados, definitivamente, não convence.
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Ficha técnica:
Sibyl (Sibyl) 2019, França/Bélgica. 1h40min. Direção e roteiro: Justine Triet. Elenco: Virginie Efira, Adèle Exarchopoulos, Gaspard Ulliel, Sandra Hüller, Niels Schneider, Laure Calamy, Paul Hamy.
Distribuição: Imovision.