O diretor Neil Jordan despontou como cineasta de obras com toques de originalidade. Entre eles, Mona Lisa (1986), Traídos Pelo Desejo (The Crying Game, 1992) e Entrevista com o Vampiro (Interview with the Vampire: The Vampire Chronicles, 1994). Mas depois optou pelo caminho dos filmes de gênero. Os dois últimos são o terror fantástico Byzantium (2012) e o suspense hitchcockiano Obsessão (Greta, 2018). Agora, mira o film noir, embora o título nacional Sombras de um Crime desperdice essa referência mais evidente no seu nome original, Marlowe.
O roteiro se baseia no livro “A Loura de Olhos Negros” (The Black-Eyed Blonde), de Benjamin Black, lançado em 2014. Portanto, apesar de contar com Philip Marlowe como personagem principal, não se trata de um livro de Raymond Chandler. E a escalação de Liam Neeson para o papel afasta ainda mais as semelhanças com o Marlowe que conhecemos de outras adaptações cinematográficas – principalmente o de Humphrey Bogart em À Beira do Abismo (The Big Sleep, 1946). Mais velho, mais falante e mais violento, parece que nem Jordan nem Neeson se preocuparam em manter um Marlowe mais próximo da criação de Chandler. Tanto que, na parte final do filme, Marlowe entra matando a tiros como se fosse um justiceiro. Ou seja, fica mais próximo dos protagonistas dos filmes de ação que Neeson costuma interpretar.
Meio noir
Em alguns quesitos, Sombras de um Crime segue o estilo film noir. A paleta de cores verdes faz as vezes do preto e branco do auge desses filmes. Luzes que fazem sombras através da persiana, ângulos inclinados, e outros elementos típicos do estilo estão no filme. Aliás, o enredo se passa em Los Angeles em 1939, também fazendo jus à essa época. Na trama, como costuma acontecer, uma mulher casada, Clare Cavendish (Diane Kruger), contrata o detetive particular Philip Marlowe (Liam Neeson) para encontrar o seu amante que desapareceu. E a trama é complexa, como muitos films noirs costumam ser.
Porém, Sombras de um Crime não tem o ritmo ágil dos clássicos do gênero. Traz cenas muito longas, com diálogos prolixos que cansam o espectador. Além disso, não apresenta uma femme fatale contundente. Nem Clare Cavendish nem sua mãe, Dorothy Quincannon (Jessica Lange) se prestam a esse papel, embora um diálogo expressamente indique que Dorothy seria essa mulher traiçoeira. E esse Philip Marlowe não tem o carisma que os protagonistas do noir costumam ter. Nesse ponto, sentimos falta de uma narração em primeira pessoa.
Pelo menos, Neil Jordan sabe filmar. Capricha nos enquadramentos que, alinhados às belas locações, sugerem um noir chique, que não é gratuito, pois Marlowe se envolve com a alta sociedade para investigar o caso. Inclusive, com gente do cinema, pois Dorothy foi uma atriz famosa quando jovem.
Enfim, como film noir, Sombras de um Crime desaponta. Mas é um razoável filme de época policial, dirigido por um cineasta que ainda não perdeu a mão.
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Ficha técnica:
Sombras de um Crime | Marlowe | 2022 | 109 min | Irlanda, Espanha, França | Direção: Neil Jordan | Roteiro: William Monahan, Neil Jordan, John Banville | Elenco: Liam Neeson, Diane Kruger, Alan Cumming, Jessica Lange, Stella Stocker, François Arnold, Darrell D’Silva.
Distribuição: Diamond / Galeria.