Sequência de filme de diretor estreante é sempre um risco. Sorria (2022), primeiro longa do diretor e roteirista Parker Finn, se tornou um daqueles raros casos de filmes B feitos com e por talentos desconhecidos que conquistam enorme sucesso no boca-a-boca. Com um orçamento maior (provavelmente, pois o número ainda não foi oficialmente divulgado), uma atriz conhecida (Naomi Scott) como protagonista e outra em participação especial (Drew Barrymore), Parker Finn tem a chance de repetir o sucesso em Sorria 2. Porém, acaba desvirtuando a sua própria criação.
O filme original é intenso. Transforma o singelo ato de sorrir num sinal amedrontador. Na sua estória, quando alguém testemunha o suicídio de uma pessoa com um estranho sorriso no rosto, ela recebe uma maldição. Então, passa a ter alucinações até enlouquecer e também tirar a sua vida, de forma violentíssima.
O enredo da sequência retrabalha esse mesmo fenômeno, mas com outros personagens. Dá para assistir esse filme sem ter visto o anterior, pois não existe uma conexão narrativa entre eles. E, para quem não conhece, o processo de transmissão da maldição é novamente explicado quando uma pessoa oferece uma solução para a protagonista Skye Riley, interpretada por Naomi Scott – uma das protagonistas de Aladdin (2019), de Guy Ritchie, e As Panteras (Charlie’s Angels, 2019), de Elizabeth Banks.
Alucinações
Skye era uma cantora pop de sucesso quando sofreu, há um ano, um acidente automobilístico que tirou a vida de seu namorado e deixou com sequelas. Apesar das dores dos ferimentos e, principalmente, do trauma, ela tenta retomar a sua carreira, com o apoio, ou seria a cobrança (?), de sua mãe e empresária. Mas, ao buscar analgésicos com seu traficante de drogas do passado, Skye testemunha um suicídio agonizante – que a faz vomitar de nervoso, como dita esse irritante lugar comum dos filmes atuais. Outro truque batido é virar a tela de cabeça para baixo, que o diretor Parker Finn usa para mostrar a paisagem urbana, ilustrando assim que a vida da protagonista ficou do avesso.
No entanto, o que mais prejudica Sorria 2 é insistir somente num artifício para provocar medo no espectador. Os sustos sempre decorrem das alucinações cada vez mais constantes de Skye. Na primeira parte, até dá certo, com as assustadoras presenças da menina e do esquisitão do meet & greet. Mas, nem todas as pessoas ameaçadoras imaginadas possuem esse sorriso horripilante desses dois personagens. O ataque em turma dos dançarinos, uma tímida tentativa de inserir uma sequência musical num filme de terror, chega a ser embaraçoso.
A conclusão, involuntariamente, lembra o recente A Substância (2024), de Coralie Fargeat, com aberrações chocantes surgindo em cima do palco diante de um público. Um pouco antes, um ser monstruoso aparece na tela, como a manifestação concreta dessa maldição, repetindo o que trouxe o primeiro Sorria, no único trecho que não funcionou tão bem naquele filme.
Menos empolgação com Finn
Desta vez, Parker Finn apostou demais nas alucinações. Embora o diretor saiba construir jump scares eficientes, a insistência na mesma situação torna-os previsíveis. Além disso, deixa óbvia demais a alusão ao arco da personagem central que precisa controlar os seus demônios (as drogas e as alucinações). Para tal, precisa ter certeza do que é real e o que é imaginação. Por outro lado, tem violência a rodo, para que nenhum fã desse tipo de terror reclame. Contudo, é uma sequência muito inferior ao original, o que derruba a expectativa que Finn deixou com sua estreia.
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Ficha técnica:
Sorria 2 | Smile 2 | 2024 | 127 min. | EUA, Canadá | Direção: Parker Finn | Roteiro: Parker Finn | Elenco: Naomi Scott, Kyle Gallner, Drew Barrymore, Rosemarie DeWitt, Ray Nicholson, Lukas Cage, Dylan Gelula, Peter Jacobson.
Distribuição: Paramount Pictures.