Sr.ª Harris Vai a Paris (Mrs. Harris Goes to Paris) é um conto de fadas. Diferenciado, mas ainda assim um conto de fadas. No lugar de uma jovem princesa, uma senhora viúva que sonha não com um príncipe encantado mas com um vestido de alta costura. Como pano de fundo, a luta de classes na Paris de 1957.
Curiosamente, a atriz principal do filme, Lesley Manville, já interpretou uma personagem em um conto de fadas. Ela fez a Flittle em Malévola (Maleficent, 2014) e em sua sequência. Mas a maioria se lembra dela por seus papéis em Trama Fantasma (Phantom Thread, 2017) e Nosso Amor (Ordinary Love, 2019). Aqui em Sr.ª Harris Vai a Paris, Lesley Manville vive a personagem do título, uma viúva que trabalha limpando casas em Londres. Seu sonho é comprar um vestido da Dior, na época uma marca de restrita exclusividade. Com muito suor, e um pouco de sorte, ela junta o dinheiro suficiente, e parte para Paris. Porém, no ateliê de Christian Dior, ela descobre o preconceito social, principalmente por causa da diretora da empresa, Claudine Colbert (Isabelle Huppert).
Luta de classes
Mas um dos aspectos mais interessantes (e menos fantasiosos) de Sr.ª Harris Vai a Paris é o ambiente social de sua trama. A classe trabalhadora estava em ebulição em Paris (aliás, quando a capital francesa está tranquila?). Nas ruas, o lixo está espalhado, pois os coletores estão em greve. E esse sentimento de solidariedade é que evita que a viagem de Ada Harris não seja um desperdício. Assim, o contador da Dior e uma das modelos interferem para permitir que Ada tenha o direito de comprar o seu vestido. Ao longo do filme, outros apoiam a trabalhadora, que depois retribui liderando um movimento contra uma demissão em massa.
Essa consciência social distingue Sr.ª Harris Vai a Paris dos contos de fadas tradicionais. É um ponto que contrasta com as cores saturadas e o teminha musical onipresente, elementos típicos de filmes do gênero. Assim com são típicas algumas soluções mágicas na narrativa, a ingenuidade e a bondade da protagonista. Já a humanização da vilã Claudine revela uma tendência mais atual dos filmes de contos de fadas (vide Cruella [2021], outro filme sobre moda). Por fim, a pegada romântica fica para os personagens coadjuvantes, ainda que Ada viva uma desilusão amorosa para depois descobrir o “amor que está ao nosso lado”.
Simpático, mas ingênuo como esses filmes costumam ser, Sr.ª Harris Vai a Paris não podia deixar de fora sua moral da história: “Siga o seu sonho!”.
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Ficha técnica:
Sr.ª Harris Vai a Paris | Mrs. Harris Goes to Paris | 2022 | 115 min | Reino Unido, Canadá, França, Hungria, Bélgica | Direção: Anthony Fabian | Roteiro: Carroll Cartwright, Anthony Fabian, Keith Thompson, Olivia Hetreed | Elenco: Lesley Manville, Isabelle Huppert, Lambert Wilson, Alba Baptista, Lucas Bravo, Ellen Thomas.
Distribuição: Universal.