Tempo traz uma nova incursão original de M. Night Shyamalan no cinema fantástico. Uma história criativa, bem amarrada e que provoca reflexões.
A trama
Em um resort paradisíaco, alguns hóspedes são convidados a passarem um dia numa escondida praia deserta. Eles compõem quatro grupos:
- a família protagonista formada por Guy e Prisca, com seus filhos Trent (6 anos) e Maddox (11);
- o médico Charles com sua esposa Chrystal, sua filha Kara (4) e sua mãe idosa;
- o rapper Mid-Sized Sedan e sua paquera que sumiu;
- a psicóloga Patricia e seu marido Jarin.
Eventos estranhos, e até mortes, se sucedem, e esses turistas descobrem um terrível fenômeno. Nessa praia, o tempo passa de forma acelerada. A cada dia, eles envelhecem cerca de 50 anos. E, por algum motivo desconhecido, cada um desses núcleos de pessoas possui alguém com alguma enfermidade.
Mistério
Na crítica desse filme, não revelaremos mais, porque esse tipo de história funciona melhor sem spoilers. Na verdade, o trailer já entrega demais sobre o enredo, e estraga algumas surpresas. Inclusive, um dos seus poucos momentos assustadores.
E Shyamalan se preocupa em ser bem didático nas explicações sobre o fenômeno que acontece nessa praia. Portanto, nada fica em aberto, então, não há necessidade de elucidar nada nada aqui nessa resenha.
Ao contrário de outros filmes do diretor, como O Sexto Sentido (1999) e A Vila (2004), o espectador não se assusta com Tempo. Talvez até exista essa intenção, originalmente. Porém, ela é pouco eficaz, em parte pela estratégia de sua divulgação comercial. Por exemplo, o momento em que o primeiro cadáver aparece perde seu efeito porque está exposto no trailer. Assim, resta como cena arrepiante apenas a personagem que morre com o corpo contorcido.
Por outro lado, Tempo prefere apostar no clima de mistério, porque confia na originalidade de sua história para manter o espectador engajado. Quanto a isso, o filme alcança o seu objetivo, pois até o seu último frame o desenvolvimento do roteiro convence e instiga o público.
Personagens
No entanto, o roteiro e a direção pecam na construção dos personagens. Afinal, nenhum deles conquista a empatia do espectador.
Assim, o médico com transtorno psicótico é, claramente, um dos vilões do filme, assim como é desprezível a sua mulher obcecada pela sua beleza. E os demais, mesmo os protagonistas, carecem de carisma, ou pelo menos de simpatia, para conseguirem cativar o público. De fato, se analisarmos a filmografia de Shyamalan, esta é uma fraqueza recorrente na sua obra.
Curiosamente, neste filme, Shyamalan faz mais do que uma breve aparição no estilo Hitchcock. Ele interpreta o motorista da van que conduz os hóspedes para a praia, e possui uma participação estendida na tela.
Reflexão
Além do mistério, Tempo traz momentos de reflexão sobre a efemeridade. Nesse sentido, o ponto alto é a conversa privada entre os dois membros mais jovens do grupo. Em poucas horas, eles deixam de ser crianças e se tornam adolescentes. Então, numa cena triste, lamentam por perderem vários momentos de felicidade que teriam feito parte de sua vida numa situação normal. Da mesma forma, o casal principal aprende a dar valor ao que é mais importante. Provavelmente, este é o ponto em que muitos espectadores deixarão as lágrimas escaparem.
O desfecho do filme apresenta uma crítica às grandes corporações que ignoram a moralidade para atingir as suas metas. No entanto, o essencial dessa história é nos lembrar que o tempo passa rápido e não pode ser parado. Por isso, devemos aproveitar a vida da melhor forma possível.
Por fim, Tempo remete aos melhores episódios da clássica série Além da Imaginação (Twilight Zone, 1959-1964), criada por Rod Serling. Ou seja, uma história impactante e provocativa, fundada no humanismo.
Ficha técnica:
Tempo | Old | 2021 | EUA | 1h48min | Direção e roteiro: M. Night Shyamalan | Elenco: Gael García Bernal, Vicky Krieps, Rufus Sewell, Alex Wolff, Thomasin Mackenzie, Abbey Lee, Nikki Amuka-Bird, Ken Leung, Francesca Eastwood, Eliza Scanlen, Aaron Pierre, Embeth Davidtz, Emun Elliott.
Distribuição: Universal.
Trailer:
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