A Itália produziu várias imitações de produções norte-americanas. Fez isso com épicos, faroestes, terror, suspense etc. Com isso, gerou seus próprios subgêneros, notadamente os spaguetti westerns e os giallos. Mas, na sua maioria, eram filmes de segunda classe, como este Tentáculos (Tentacles), dirigido pelo produtor Ovidio G. Assonitis, sob o pseudônimo Oliver Hellman.
Assonitis teve o mérito de conseguir que John Huston, Shelley Winters e Henry Fonda participassem do projeto, a fim de dar um pouco de credibilidade ao filme. Mas, seus méritos param por aí. A intenção não-disfarçada é de explorar o sucesso do blockbuster Tubarão (Jaws, 1975). Começando pelo título, que, como no original de Steven Spielberg (“mandíbula”), menciona a parte letal do predador da trama. O enredo, também, copia o longa hollywoodiano, com um ser marítimo que causa várias mortes numa praia californiana. Além disso, traz um especialista que alerta sobre o perigo e as autoridades que preferem acobertar a situação. Até mesmo o trecho com ameaças às crianças reaparece nessa cópia descarada.
A emulação de cenas, que consegue divertir o espectador, tem pouco espaço. Surge no objeto que aparece à tona sendo puxado pelo predador, no jump scare com a cabeça do cadáver, com os ataques com visão subjetiva… Contudo, no geral, as abordagens do polvo gigante são mal filmadas, não dão a dimensão do seu tamanho e do seu perigo. Com boa vontade, podemos dizer que as cenas filmadas dentro da água com o molusco atacando para cima ou para baixo até convencem. Mas, de qualquer forma, são poucas.
Maré baixa
De qualquer forma, até conseguimos engolir efeitos especiais e visuais malfeitos em uma produção barata; e, ainda assim, gostar do filme. Acontece que, em Tentáculos, o roteiro é ruim, muito longo, com personagens demais, e muita falação. Com isso, o ritmo fica lento, e parece que o filme se arrasta sem sair do lugar. Logo depois que a personagem de Shelley Winters sai de cena, temos a impressão de que todos os personagens restantes são secundários. E não nos importamos mais com ninguém.
Por fim, o desfecho traz uma solução de filme infantil. Um treinador de orcas de um parque de diversões pede que elas ajudem a acabar com o polvo gigante. E, elas obedecem! A luta entre duas orcas e o molusco é convincente, pois foi filmada com animais de verdade (o polvo já estava morto). Mas o diretor mantém esse embate por muito tempo, alternando com o resgate de um dos personagens. Além disso, escolhe uma trilha sonora errada (mais adequada para filmes de aventura), e Assonitis ainda inventa de congelar as imagens durante o ataque às crianças, criando um efeito bizarro.
Se ainda fosse rápido e rasteiro, até poderia divertir. Mas Tentáculos é maçante. Prefira Sharknado (2013), que tira sarro de si mesmo, ou Piranha (1978), uma lição de Joe Dante sobre como realizar um filme B.
Ficha técnica:
Tentáculos | Tentacles | 1977 | 1h42 | Itália | Direção: Ovidio G. Assonitis (Oliver Hellman) | Roteiro: Jerome Max, Tito Carpi, Steven W. Carabatsos | Elenco: John Huston, Shelley Winters, Bo Hopkins, Henry Fonda, Delia Boccardo, Cesare Danova, Alan Boyd, Sherry Buchanan, Claude Akins.