Terra Violenta (In a Valley of Violence) foge do faroeste clássico hollywoodiano. Já na abertura, o zoom até o personagem bem distante logo entrega uma influência do spaguetti western. Os créditos de abertura, também, fazem referências aos filmes italianos que emulavam a produção americana. Estamos adentrando na seara da filmografia de Quentin Tarantino, ao que parece. E, conforme a história avança, a violência gráfica constata essa observação. Aliás, essa característica se insere, igualmente, na carreira do diretor e roteirista do filme, Ti West, um especialista no gênero terror. Além disso, também da produtora, a Blumhouse. Assim, terror mais faroeste, essa parece ser a fórmula deste longa.
O ingrediente do terror se encontra mesmo na violência, não no tom do filme. A garganta cortada por uma navalha, espalhando sangue pela banheira, representa o melhor exemplo disso. Mas, há também um elemento típico do terror, na alucinação ou no pesadelo que explica o motivo de o protagonista Paul (Ethan Hawke) ter desistido do exército para ser um desertor. Esse trecho se passa no escuro, com rápidos flashes com luz, em preto e branco, com intenções de assustar.
Tema e tom
Quanto ao tom do filme, este fica entre o tema da vingança do faroeste italiano e o toque jocoso de Tarantino. Paul cruza o deserto do Oeste americano com sua companheira, a cachorra Abby. Quando um valentão, Gilly (James Ransone), filho do xerife de uma cidadezinha, e seus companheiros matam Abby e jogam Paul em um desfiladeiro para morrer, Paul retorna à cidade para se vingar.
Mais um vilarejo do que uma cidade, Denton está isolada no deserto, e se assemelha a Lago, de O Estranho Sem Nome (High Plains Drifter, 1973), o faroeste à italiana dirigido por Clint Eastwood que tem trama semelhante. Além disso, o fato de o atirarem do penhasco lembra Vingança (Revenge, 2017), de Coralie Farjeat, mas esta se passa na atualidade com uma protagonista feminina. Já a vingança por conta da morte de um cachorro remete a John Wick: De Volta ao Jogo (John Wick, 2014), também com trama contemporânea.
Em relação ao humor de Tarantino, este não ganha uma adaptação apropriada. Chega muito próximo no duelo final, entre Paul e Gilly. O pai de Gilly, interpretado por John Travolta, entra no meio dos dois para evitar o confronto, mas acaba sendo alvo de quase todos os tiros trocados entre os duelistas. Uma morte absurda, violenta, típica de Tarantino. Podemos tentar, também, argumentar que a perspectiva da cachorra Abby, que escuta os agressores se aproximando (e nós compartilhamos o que ela ouve), tem um pouco do diretor de Pulp Fiction (1994). Por outro lado, o humor levemente mais escrachado, como as discussões entre as irmãs Mary-Anne (Taissa Farmiga) e Ellen (Karen Gillan), soam fora desse contexto e prejudicam o filme.
Personagens e atuações
O personagem Paul, supostamente o herói do filme, não empolga muito. De interessante, ele representa uma atualização do clichê do ex-militar extremamente fatal devido ao seu treinamento para combate, como em Rambo: Programado para Matar (Rambo, 1988). Mas, não é muito coerente que Paul suplique, completamente amedrontado, para que Gilly e seus comparsas o soltem. E, muito menos, que ele mate impiedosamente os três amigos de Gilly, mas hesite em acabar com este que é o principal responsável pela morte de sua amiga Abby.
Talvez por essa indefinição no tom, Terra Violenta traz atuações bem fracas de muitos atores. Ethan Hawke nunca convence como um homem do Velho Oeste. Taissa Farmiga e Karen Gillan se perdem entre a comédia e o drama, não funcionando em nenhum dos dois. Já James Ransone está exagerado, por isso, não consegue construir o vilão odioso que a trama precisa. Enfim, o único que se salva é John Travolta, num papel próprio para grandes medalhões do cinema. Com uma perna de pau, o xerife mandão possui carisma. Pena que este personagem, também, fique entre o homem que abusa do poder (ele coleta impostos altos dos moradores) e o sensato que reconhece as falhas do próprio filho, e quer que o forasteiro esqueça a vingança e siga em paz.
Mas, como seus personagens, Terra Violenta nunca define que tipo de filme aspira ser. Um faroeste moderno? Um faroeste misturado com terror? Uma sátira aos westerns? Só mesmo ouvindo o que o seu diretor e roteirista teria a dizer a respeito para descobrirmos, pois, na tela, ficamos sem resposta. Pelo menos, o filme é divertido.
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Ficha técnica:
Terra Violenta | In a Valley of Violence | 2016 | EUA | 104 min. | Direção e roteiro: Ti West | Elenco: Ethan Hawke, John Travolta, Taissa Farmiga, James Ransone, Karen Gillan, Toby Huss, Tommy Nohilly, Larry Fessenden, Michael Davis, James Cady, Burn Gorman, Kaius Harrison, Jumpy.