O Foo Fighters se diverte fazendo cinema em Terror no Estúdio 666 – muito mais do que os espectadores assistindo ao filme.
O líder da banda, Dave Grohl, criou a história que virou roteiro nas mãos de Jeff Buhler – de Maligno (The Prodigy, 2019) e Cemitério Maldito (Pet Sematary, 2019) – e Rebecca Hughes, cujos créditos se restringem a um filme para o cinema (Der Vulkan, 1999), um para a TV e alguns poucos episódios de séries. E, para levar o roteiro para as telas, entra BJ McDonnell, um requisitado e experiente operador de câmera com alguns trabalhos como diretor. Anteriormente, McDonnell dirigiu só um longa de ficção, o modesto Terror no Pântano 3 (Hatchet III, 2013). No entanto, sua escolha para Terror no Estúdio 666 se deve à sua conexão com a banda Slayer, já que filmou três videoclipes de suas músicas e ainda rodou o documentário Slayer: The Repentless Killogy (2019). Aliás, é por isso que o guitarrista do Slayer, Kerry King, participa deste filme como um técnico de som que morre eletrocutado.
Além de Dave Grohl, todos os outros membros atuais do Foo Fighters participam do filme como personagens principais. Eles não são atores profissionais, mas como interpretam a si mesmos, o desafio não é tão grande. Nesse quesito, Grohl até surpreende, com uma atuação bem natural. Já os outros, nem tanto, e o músico Pat Smear é o mais travado de todos.
Stacked Actors
Em resumo, a trama é bem simples. O Foo Fighters precisa gravar o novo álbum, o décimo da carreira, e o produtor pressiona Dave Grohl para que o façam urgentemente. Em crise criativa, o músico resolve procurar um lugar diferente para inspirar novas composições e trazer um som novo para a banda. Tal como fez o (Led) Zeppelin, diz ele. Então, acabam numa velha casa em Encino, bairro de Los Angeles. Porém, o espectador já sabe que nesse imóvel, em 1993, aconteceram mortes horríveis envolvendo uma outra banda, Dream Widow, como revelou o prólogo.
Terror no Estúdio 666 mistura comédia e terror. As melhores piadas são aquelas em que os músicos tiram sarro de si mesmos. Por exemplo, quando Dave Grohl finalmente apresenta uma composição nova e começa a tocar “All My Life”, música que o Foo Fighters lançou há 20 anos. Já o terror começa no pico e vai decrescendo. O prólogo é muito intenso, com violência gráfica e clima digno de boas produções do gênero. Ao longo do filme, há mais gore, em tom cada vez mais exagerado, até ficar totalmente artificial e sem graça na parte final, com entranhas mal disfarçadas exposta ao forte sol californiano. Os fantasmas que surgem, em vãs tentativas de jump scares, nunca assustam. Na verdade, até porque os vultos pretos com olhos vermelhos se parecem com a aparição de Tio Boonmee, Que Pode Recordar suas Vidas Passadas (Loong Boonmee raleuk chat, 2010), que não tinha intenção de amedrontar.
Everlong
Aliás, é na parte final que Terror no Estúdio 666 perde o interesse. Parece até ironia, mas, da mesma forma que o Dave Grohl do filme não consegue terminar uma canção que já conta com 44 minutos, o filme também se estende desnecessariamente em seu desfecho. O trecho final, longo demais, repleto de explicações desnecessárias e revelações inconsistentes, torna complexa uma empreitada que divertia justamente por seu tom farsesco.
Os fãs do Foo Fighters, no entanto, vão apreciar ver os seus ídolos na tela grande, simulando um processo de gravação de um álbum. Mas, Terror no Estúdio 666 serve apenas como um aperitivo “engana fome” para a apresentação da banda no Lollapalooza em São Paulo, no próximo dia 27 de março.
Por fim, fica a dica para o BJ McDonnell: que tal na próxima fazer um filme de terror extremo com o Slayer?
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Ficha técnica:
Terror no Estúdio 666 | Studio 666 | 2022 | EUA | 106 min | Direção: BJ McDonnell | Roteiro: Jeff Buhler, Rebecca Hughes | Elenco: Dave Grohl, Nate Mendel, Pat Smear, Taylor Hawkins, Rami Jaffee, Chris Shiflett, Whitney Cummings, Will Forte, Jeff Garlin, Leslie Grossman, Kerry King, Jenna Ortega, Marti Matulis, Lionel Richie, Jason Trost, John Carpenter.
Distribuição: Sony.