A Assistente apresenta um retrato realista do assédio sexual institucionalizado na indústria do entretenimento, especificamente numa produtora de filmes em Nova York. O movimento contra esse comportamento se espalharia, com a alcunha #metoo.
Rotina
O filme acompanha um dia na longa rotina de Jane (Julia Garner) em seu trabalho como assistente numa produtora de filmes, emprego que ela iniciou há 5 semanas. Ela é a primeira a chegar no escritório, pois precisa deixar tudo em ordem antes que todos comecem a trabalhar. Entre suas funções, estão atividades nada desafiadoras, como tirar cópias, imprimir documentos, lavar a louça, limpar as salas e pedir comida via delivery. Normalmente, ela é a última a ir embora, pois ela aguarda a saída do seu supervisor direto, que é o presidente da empresa.
Nesse dia em particular, ela resolve tomar uma atitude em relação ao que mais a incomoda nesse trabalho. Ao acompanhar uma nova assistente até o hotel que a empresa a hospeda, uma estadia de luxo que não corresponde ao seu cargo, ela descobre que a jovem, belíssima, não tem nenhuma experiência na função. Fica, então, evidente que o seu chefe, um poderoso executivo do setor, assedia sexualmente essas belas mulheres em troca de uma oportunidade profissional. Durante essa tarde, ele tem três encontros com essa intenção.
Mas quando Jane se dirige ao RH, o gerente a desencoraja a denunciar ou tomar alguma ação em relação à sua desconfiança. Logo ela perceberá que todos na empresa sabem do assédio sexual do presidente da empresa, mas, sendo ele poderoso na indústria, todos preferem fazer vista grossa e fingir que nada acontece.
A direção
Apesar de A Assistente se passar em um ambiente físico restrito, o escritório da produtora, o filme nunca parece entediante, porque a diretora e roteirista Kitty Green utiliza planos curtos e variados. Ainda assim, o clima é depressivo e reflete a opressão que a protagonista sente o tempo todo, não só pelo assédio sexual que o chefe pratica com algumas mulheres, mas também porque ele assedia moralmente os seus empregados, gritando com eles quando fica nervoso. Jane, além disso, sofre com os colegas de trabalho, principalmente os dois que ficam em sua sala, que se acham superiores a ela.
Acertadamente, o filme não tem praticamente trilha sonora, exceto no início e no final. O silêncio ocupa boa parte de sua duração, ressaltado pela interpretação maravilhosa de Julia Garner no papel principal. Ela expressa sua angústia fisicamente, em vários close ups, já que ela não tem ninguém com quem desabafar dentro da empresa. Essa indiferença fica evidente na ausência dos nomes dos colegas de trabalho. Do chefe, não vemos nem seu rosto.
A Assistente é muito mais realista do que o filme O Escândalo (Bombshell, 2019). Essa produção de maior porte, com as estrelas Charlize Theron, Nicole Kidman e Margot Robbie no elenco, se baseia em acontecimentos reais (o caso de Roger Ailes na Fox News), mas possui um tom mais glamuroso e com final feliz. O filme independente de Kitty Green não permite concessões e mostra o que realmente acontece em muitas empresas do setor.
___________________________________________
Ficha técnica:
A Assistente (The Assistant, 2019) EUA. 87 min. Dir/Rot: Kitty Green. Elenco: Julia Garner, Matthew Macfadyen, Makenzie Leigh, Kristine Froseth, Jon Orsini, Noah Robbins, Stéphanye Dussud, Juliana Canfield, Alexander Chaplin, Dagmara Dominczyk, Bregje Heinen, Liz Wisan, Clara Wong.