tick, tick...BOOM! (filme)
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tick, tick… BOOM!

Avaliação:
8/10

8/10

Crítica | Ficha técnica

tick, tick… BOOM! é o musical semiautobiográfico composto por Jonathan Larson antes do sucesso Rent, que ele nunca pôde aproveitar em vida, pois morreu antes, aos 35 anos. Ele compôs apenas três obras em sua curta vida.

Na abertura, o filme já revela sua morte, o que acrescenta dramaticidade no início da trama e confere mais um ponto de chegada para a contagem regressiva do seu título, um que o compositor não poderia prever quando escreveu a peça. Outros três pontos de chegada cabem no enredo e deviam estar na sua mente ao escolher o tema. Um deles é o dia do workshop, a apresentação para convidados e produtores do seu primeiro trabalho, o musical “Superbia”, que ele criou ao longo de oito anos. O outro é o seu 30º aniversário, que acontece dois dias depois do workshop. Por fim, o ticking clock marca, também, o tempo se esgotando para os amigos infectados pela AIDS. A história se passa em 1990, e a doença espreita como uma ameaça para a jovem geração.

Larson era talentoso e não desaponta com suas composições nesse musical prévio ao seu sucesso. Nem todas as músicas são excelentes, mas as melhores surgem em momentos estratégicos do filme, que, por isso, nunca perde sua força. A potente canção de abertura, “30/90”, e a tocante nova música para o clímax do workshop, são as melhores. Essa última, “Come to Your Senses” é essencial para a trama, pois Jonathan (Andrew Garfield) consegue, finalmente, se colocar no lugar de sua namorada Susan (Alexandra Shipp), através da música.

Direção

O diretor Lin-Manuel Miranda, além de possuir uma sólida carreira como ator, escreveu o musical da Broadway Hamilton, que se transformou em filme que ele mesmo protagonizou. Além disso, Miranda também é o autor de Em Um Bairro de Nova York, que também ganhou adaptação para as telas. Em tick, tick… BOOM!, ele se aventura, pela primeira vez, na direção de um longa. Para isso, conta com o roteirista Steve Levenson, que adaptou Querido Evan Hansen para as telas.

O resultado surpreende pela ousadia em sua estrutura narrativa. No filme, várias situações reiteradamente surgem na tela, sem uma correlação cronológica. Por exemplo, aquela com Jonathan apresentando este mesmo musical em formato “rock monologue”, acompanhado de uma banda. Entre os trechos desse show, destaca-se a performance de Jonathan ao lado da cantora da banda, Karessa (Vanessa Hudgens), num dueto cômico intercalado com a dramática briga do compositor com Susan. A discussão inspirou essa música, portanto, é uma montagem desafiadora, pois aproxima dois momentos distantes no tempo e no tom (drama x comédia).

Elenco

A escalação de Andrew Garfield como Jonathan Larson constitui outra ousadia. Afinal, ele nunca cantara antes num filme. De fato, sua voz não tem o alcance de um cantor, e o dueto com Vanessa Hudgens deixa isso evidente. Porém, como ele interpreta um compositor, e não um vocalista, essa limitação é aceitável. Aliás, como era para o próprio Jonathan Larson. Por outro lado, Garfield comprova sua versatilidade como ator. Ele já foi o Homem-Aranha, um padre em Silêncio (2016), um soldado em Até o Último Homem (2016), e um personagem baseado em Nicolas Cage em Mainstream (2020), entre outros. A aposta deu certo, e sua atuação em tick, tick… BOOM! lhe garantiu o prêmio Golden Globe de melhor ator em comédia ou musical.

O roteiro acerta, também, na criação de alguns dos personagens secundários. Entre eles, o melhor amigo Michael (Robin de Jesus), pivô dos momentos mais dramáticos do filme. Da mesma forma, a durona agente de Larson, Rosa Stevens (Judith Light), rouba a cena quando aparece na tela. Contudo, o par romântico Susan passa superficialmente pela história, apesar de sua importância para o protagonista. Ademais, o desfecho do romance é morno e frustrante.

Montagem

A montagem do filme é ágil, com planos curtos para que as cenas, longas na sua maior parte, passem rapidamente para o público. Mesmo assim, algumas sequências poderiam ser encurtadas. Por exemplo, o dispensável telefonema para a companhia de energia após o corte no apartamento de Larson. E, também, a canção em homenagem a Michael, que Garfield não consegue segurar sozinho ao piano por tanto tempo. Nesse trecho, o alongamento exagerado demanda até que se repitam alguns trechos de vídeos caseiros que já foram mostrados antes.

Em suma, a atuação de Garfield, a maior parte das canções, e a montagem audaciosa, tornam esse musical muito acima da média. Uma bela homenagem ao jovem compositor cuja morte precoce nos privou de apreciar a integralidade do seu talento.

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Ficha técnica:

tick, tick… BOOM! | tick, tick… BOOM! | 2021 | Estados Unidos | 115 min | Direção: Lin-Manuel Miranda | Roteiro: Steven Levenson | Elenco: Andrew Garfield, Alexandra Shipp, Robin de Jesus, Vanessa Hudgens, Joshua Henry, Jonathan Marc Sherman, Michaela Jaé (MJ) Rodriguez, Ben Levi Ross, Judith Light, Bradley Whitford, Laura Benanti, Gizel Jimenez, Kate Rockwell.

Distribuição: Netflix.

Onde assistir:
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