Poster de "Trilha Sonora Para um Golpe de Estado"
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Trilha Sonora para um Golpe de Estado

Avaliação:
10/10

10/10

Crítica | Ficha técnica

O cineasta belga Johan Grimonprez eleva a barra de qualidade dos documentários com seu extraordinário longa Trilha Sonora para um Golpe de Estado. O filme, indicado ao Oscar de Melhor Documentário trata um evento histórico com uma abordagem abrangente, desenvolvendo as suas repercussões e explicando o cenário mundial da época, sem deixar de fora um inspirado toque artístico.

O fato principal é o golpe de estado que derrubou o primeiro-ministro do Congo, Patrice Lumumba, em setembro de 1960, apenas 12 semanas após assumir o cargo. O filme, como esperado, revela o desenrolar desse conflito político no país e na África. Lumumba, revela o enredo, foi um líder proeminente do movimento de descolonização do continente, e um promotor da criação dos Estados Unidos da África. Vale apontar que, como resultado desses esforços, nasceu a República do Congo em junho de 1960. Mas, sendo um relato nada ingênuo, aponta que a Bélgica conseguiu manter o poder sobre a maior riqueza do país, a mineradora Union Minière, sediada no estado separatista Catanga. Preso pelo novo governo do Congo, Lumumba foi transferido para Catanga, onde foi assassinado pelo presidente desse novo país, Moïse Tshombe.

Abrangente

Mas, o recorte é abrangente e vai muito além. Depoimentos de várias personalidades internacionais reconstroem a perspectiva dos outros países, centrando-se na ONU (Organização da Nações Unidas). Por sinal, os Estados Unidos são tratados como defensores da manutenção do colonialismo – e daí vem a abertura para a inserção do jazz que predomina no filme inteiro. Os grandes gênios desse gênero musical eram financiados pelo governo estadunidense para se apresentarem em turnês mundiais, incluindo os países africanos, o Congo entre eles, para o que, no fundo, seria uma colonização cultural. Quando perceberam que estavam sendo usados para esse fim, os jazzistas se revoltaram e recusaram a manter essa contratação. Como figuras emblemáticas desse processo, Max Roach e Abbey Lincoln abrem e fecham Trilha Sonora para um Golpe de Estado, como participantes de um protesto dentro da ONU.

Outros porta vozes do movimento de Lumumba incluem Malcolm X e outros músicos. E, o primeiro-ministro da União Sovietic, Nikita Khrushchev, cujos discursos enfáticos na ONU causaram temor no mundo ocidental, que via com apreensão uma união dos países asiáticos e africanos apoiada pelos soviéticos.

A diversidade de materiais – das performances musicais aos registros em vídeo de jornalistas e de órgãos oficiais, passando por entrevistas de pessoas importantes defendendo posições diferentes – contribui para que Trilha Sonora para um Golpe de Estado faça uma varredura exaustiva do golpe de estado no Congo. Assim, convida e permite uma análise profunda sobre o que aconteceu. Como documentário, um padrão a ser perseguido.

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Ficha técnica:

Trilha Sonora para um Golpe de Estado | Soundtrack to a Coup d’Etat | 2024 | 150 min. | Bélgica, Holanda, França | Direção: Johan Grimonprez | Roteiro: Johan Grimonprez | Com Malcolm X, Louis Armstrong, Thelonious Monk, Dizzy Gillespie, John Coltrane, Abbey Lincoln, Max Roach, Nina Simone.

Distribuição: Pandora Filmes.

Trailer:

Onde assistir:
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