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Um Domingo Maravilhoso
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Um Domingo Maravilhoso

Avaliação:
7/10

7/10

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Crítica | Ficha técnica

Akira Kurosawa é lembrado principalmente pelos seus filmes de época com personagens samurais. Porém, ele dirigiu também verdadeiras pérolas contemporâneas. Entre elas, antes de sua obra-prima Viver (1952), Kurosawa realizou outro belo drama existencial: Um Domingo Maravilhoso.

Mesmo sem seguir os dogmas do neorrealismo italiano, Um Domingo Maravilhoso segue o seu fundamento de retratar a realidade como ela é. Assim como a Itália, o Japão também enfrentou um período de extrema pobreza após a Segunda Guerra Mundial. Então, é nesse cenário que um casal de jovens namorados tenta passar um domingo juntos em Tóquio, com pouco dinheiro para gastar.

A garota Masako é otimista e tenta durante todo o filme animar o desencantado Yuzo. De fato, isso fica simbolizado na cena em que se encontram. O rapaz está prestes a colocar na boca uma bituca de cigarro que ele pegou do chão, quando a namorada aparece e dá um tapa na sua mão. Ela impede, assim, que ele se comporte como um mendigo.

Apesar dessa diferença de atitudes entre os dois, os personagens não são unidimensionais. Por isso, o rapaz Yuzo consegue se animar em alguns trechos do filme, como quando joga beisebol. Por outro lado, Masako também fica triste, principalmente quando a relação do casal parece condenada a não dar certo.

Capitalismo

Um Domingo Maravilhoso também evidencia a chegada do capitalismo, herança recente dos Estados Unidos, vencedores da guerra. Diante da dificuldade de encontrarem um lugar para morarem juntos, que caiba no pequeno orçamento do casal, Masako comenta com o namorado que muitas famílias em Tóquio vivem em casas grandes. Então, segundo a moça, elas poderiam ceder um dos quartos para quem precisa, uma ideia que não cabe na filosofia capitalista.

O capitalismo selvagem, porém, surge quando os dois se animam para assistir a uma apresentação de orquestra. Eles, claro, só têm condições de comprar os ingressos mais baratos, que custam 10 ienes. Porém, um cambista um pouco à frente deles na fila da bilheteria adquire todos os ingressos restantes do setor mais barato, e começa a revendê-los por 15 ienes.

Apesar do título do filme, Um Domingo Maravilhoso possui momentos de profunda melancolia. Por exemplo, Yuzo se torna agressivo quando dominado pela depressão. Nesse sentido, é rude com a namorada, e tenta até forçar uma relação sexual que a faz sair correndo do apartamento dele. Para não perder o namorado, a inexperiente Masako decide entregar sua virgindade a ele, mas aos prantos. O bichinho de pelúcia que ela carrega em sua indica ao rapaz a inocência da moça, e ele a acolhe gentilmente, compreendendo-a.

Frank Capra

Por fim, Um Domingo Maravilhoso foge do neorrealismo italiano nas sequências finais, quando o rapaz absorve o otimismo da namorada. No livro “The Films of Akira Kurosawa”, Donald Richie aponta a clara influência de Frank Capra na cena em que o casal fantasia estarem trabalhando no café que eles sonham um dia abrir. Richie até indica que as interpretações de Isao Numasaki e Chieko Nakakita são influenciadas por James Stewart e Jean Arthur.

Se essa bela cena fosse a conclusão do filme, Um Domingo Maravilhoso seria um filme ótimo. Mas, a história continua e leva o casal ao local onde aconteceu à tarde a apresentação da orquestra. E essa longa sequência mostra que o namorado volta a ficar depressivo novamente, e acompanhamos durante longos minutos ele, finalmente, aceitando a fantasia e regendo uma orquestra imaginária. O que torna esse momento ainda mais fraco é seu fechamento pedante. Nele, a garota se dirige à câmera e pede ao público (imaginário assistindo a orquestra e os espectadores do cinema) para aplaudir junto com ela e incentivar Yuzo a acreditar nos seus sonhos.

Enfim, a última cena resgata o clima antes dessa sequência da orquestra, e o filme funcionaria melhor se esta viesse logo após o trecho da fantasia do café. Nessa conclusão, Yuzo se despede de Masako na estação de trem e encontra uma bituca de cigarro no chão. Há um certo suspense para sabermos se ele o pegará, o que significaria que ele aceita ou não permanecer na sua condição de pobreza.

Fenômeno natural

Como costumeiro em sua filmografia, Kurosawa utiliza os fenômenos da natureza para indicar o tom do filme. Por exemplo, a chuva marca os momentos mais tristes de Um Domingo Maravilhoso. Quando o sol reaparece, o rapaz Yuzo se anima para sair à rua, depois da forte briga com Masako. E, finalmente, o vendaval atrapalha a fantasia do rapaz na condução da orquestra.

Um Domingo Maravilhoso é outro grande exemplar de drama contemporâneo de Akira Kurosawa. Realista e existencial, retrata com sensibilidade a dureza do pós-guerra no Japão.

 

Um Domingo Maravilhoso
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