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Um Estranho no Ninho (filme)
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Um Estranho no Ninho

Avaliação:
10/10

10/10

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Crítica | Ficha técnica

“Um Estranho no Ninho” choca e emociona

“Um Estranho no Ninho” conseguiu a façanha de ganhar os cinco principais prêmios do Oscar de 1975. Ou seja, melhor filme (Saul Zaents e Michael Douglas), ator (Jack Nicholson), atriz (Louise Fletcher), diretor (Milos Formam) e roteiro adaptado (Lawrence Hauben e Bo Goldman, baseado no livro de Ken Kesey). Aliás, com méritos, porque é um drama contundente que conduz a emoção do espectador habilmente para atingir o âmago de seus sentimentos.

A trama

R.P. McMurphy (Jack Nicholson), condenado à prisão, é transferido a um manicômio por suspeitarem de sua sanidade mental. Porém, o médico chefe da instituição suspeita que ele somente finge sua loucura, pois acredita que a vida lá dentro seja menos desagradável que atrás das grades. De fato, McMurphy aparenta ser mais lúcido que seus colegas internos, mesmo entre os menos afetados, que participam de uma terapia em grupo comandada pela durona enfermeira Ratched (Louise Fletcher).

Se o novato possui alguma loucura, essa pode ser seu completo desprezo pelas regras, o que o coloca em confronto direto com a disciplinadora Ratched. Assim, no primeiro grande embate entre os dois personagens, McMurphy pede, depois exige, que sintonizem a televisão para que assistam à final do campeonato de beisebol. Mesmo que tenha atendido os critérios que a enfermeira determina para liberar a demanda, ela não autoriza ligarem a TV.

Contrariando a expectativa de uma reação violenta de McMurphy, ele se senta em frente ao televisor e começa a narrar um jogo imaginário, e logo seus companheiros o seguem, animados. Com isso, ainda que não tenham conseguido assistir ao jogo, puderam se divertir. Então, um close-up extremo no rosto de Ratched enfatiza sua indignação diante da sua derrota. Sua desforra, porém, não tardaria.

McMurphy se choca com o fato de que alguns dos internos se voluntariaram para entrar no manicômio, para tratarem alguma deficiência de comportamento que sentiam. Ou seja, a liberdade que ele tanto deseja não e tão importante para essas pessoas, pois o convívio social fora de lá se tornara mais doloroso.

Atos rebeldes

McMurphy proporciona um gosto de liberdade, e alegria, aos pacientes quando sequestra o ônibus do manicômio com os internos dentro, e os leva para uma pescaria em alto mar. As cenas no barco demonstram uma felicidade contagiante no rosto dos pacientes, o que questiona o método rigoroso utilizado pela enfermeira que jamais permitiria uma experiência desse tipo.

A primeira oportunidade para Ratched se vingar surge após uma briga na qual McMurphy se envolve. Era 1963, e ainda se aplicavam tratamentos de choque elétrico nos manicômios. O absurdo dessa prática explode na tela quando vemos Jack Nicholson aterrorizado, com um mordedor na boca, prestes a receber as voltagens. Porém, essas não são tão altas, e o interno retorna à terapia de grupo. A experiência, entretanto, transforma seu modo de pensar, e um longuíssimo close-up em seu rosto, em silêncio, demonstra essa mudança.

Na derradeira traquinagem de McMurphy, o manicômio vira um caos, com bebedeira, mulheres, tentativa de fuga. De manhã, a chegada de Ratched com seus modos punitivos sobre pessoas mentalmente instáveis provoca uma tragédia. McMurphy explode de raiva diante de uma decisão de Ratched e comete um ato radical. Desta vez, sua punição será severa, e um fade out alongado provoca expectativa no espectador. O terrível resultado surge visualmente na tela. A aparência de Jack Nicholson e, sem explicação narrada, um corte na cabeça são suficientes para contar o que aconteceu. O evento é prova suficiente para o interno Chefe Bromden (Will Sampson) concluir que não poderia mais suportar aquele lugar.

Metáfora

Por outro lado, “Um Estranho no Ninho” permite uma leitura adicional como metáfora da ditadura existente em vários países na época da realização do filme, 1975, inclusive no Brasil, Argentina e Chile. A personagem totalitária da enfermeira Ratched, impondo disciplina aos pacientes, é um paralelo dos ditadores que silenciavam rebeldes como McMurphy, através do uso de choques elétricos ou mesmo assassinatos. A morte de McMurphy, com seus pensamentos próprios, acontece com a lobotomia que sofre.

Elenco e direção

Jack Nicholson recebeu um papel muito próximo à sua personalidade pública histriônica e um tanto indisciplinada. Assim, seu casting é perfeito para McMurphy, que ainda lhe permite expressar momentos de reflexão, difíceis de se representar. Já Louise Fletcher criou uma das maiores vilãs do cinema na pele da enfermeira Ratched, transformando-se numa daquelas pessoas que o público odeia mortalmente. Como resultado, ambos ganharam o Oscar por suas interpretações. No entanto, se existisse um prêmio coletivo, certamente o grupo de internos de “Um Estranho no Ninho” também levaria.

Afinal, todos conseguem se destacar e o público os diferencia como personagens distintos. Por exemplo, Danny DeVito se destaca e está quase irreconhecível, fugindo da comicidade e de alusões a sua baixa estatura. Enquanto isso, Sydney Lassick consegue evitar o pastiche em um dos personagens mais afetados da história (Cheswick), assim como o jovem Brad Dourif (Bibbit). Outro futuro comediante, Christopher Lloyd, também se sobressai como Taber.

O diretor tcheco Milos Forman, que venceria outro Oscar futuramente por “Amadeus” (1984), acerta ao alternar os climas de “Um Estranho no Ninho”. Os momentos tensos, principalmente nos confrontos entre McMurphy e Ratched, se alternam com outros alegres e com toques de humor, proporcionando uma empatia do público pelos internos. Dessa forma, o desfecho trágico surge como um baque naquele momento, mas, após uma reflexão sobre o filme, concluímos que os eventos inevitavelmente levariam a esse desenlace.


Um Estranho no Ninho (filme)
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