Ursinho Pooh: Sangue e Mel 2 atesta a esperteza de Rhys Frake-Waterfield. Ele correu para ser o primeiro a aproveitar que o livro “Winnie-the-Pooh” (1926), de A. A. Milne, entrou em domínio público e lançou a versão maligna dos personagens no filme de 2023. O longa que ele fez é sofrível, mas a curiosidade do público deu retorno financeiro. Por isso, atraiu o interesse por uma sequência, com um orçamento bem melhor.
Por outro lado, o novo filme comprova também a falta de talento de Frake-Waterfield. O resultado, pelo menos, é mais profissional, já que o diretor foi sensato o suficiente para se assessorar no roteiro e na edição, funções que ele assina em conjunto com outras pessoas. Da mesma forma, o filme traz uma fotografia e uma direção de arte melhores e, o que é essencial para um slasher, efeitos especiais convincentes (e não aquele enorme olho redondo que salta de uma vítima no longa anterior, só para exemplificar).
Nesse quesito, Frake-Waterfield esbanja o investimento que teve em mãos. O gore aqui vem em doses cavalares, e com detalhes para revirar o estômago. O diretor faz questão de manter vivas as vítimas com membros arrancados, ou com o rosto desfigurado, só para explorar esse tipo de impacto. E a violência explícita chega ao extremo, enchendo a tela de cabeças e membros decepados, e ataques sádicos com ácido, furadeira e, claro, serra elétrica. Enfim, atração perfeita para os cinemas grindhouse.
Monstros pouco assustadores
Ursinho Pooh: Sangue e Mel, de 2023, estava repleto de defeitos. Mas sua sequência, apesar de ser uma produção maior, não resolve o principal deles: a caracterização dos serial killers monstruosos. Basicamente, o Ursinho Pooh é um homem alto com uma máscara – que continua dura, impedindo suas expressões, apesar de alguns closes tentarem provar o contrário. O Leitão e o Tigrão (que tem uma entrada triunfal, porém também decepciona) repetem essa mesma configuração. Só mesmo o Corujão parece realmente ágil e ameaçador – e lembra mais um gavião.
Desta vez, o roteiro explica, sem surpresas mas adequadamente, a origem desses seres. O antropozoomorfismo resulta de experiências de um cientista, que mistura o DNA de animais em crianças. Uma dessas crianças era o irmão de Christopher Robin, que deu origem ao Ursinho Pooh – daí a aproximação afetiva entre eles. Então, considerando que Pooh era metade homem metade urso, ele bem que poderia ter uma figura muito mais aterrorizante. A explicação para manter a mesma máscara tola do primeiro filme, que devia ser o que o orçamento permitia, só pode ser o medo de deixá-lo diferente demais de um filme para outro. Mas, seria um ganho enorme que compensaria qualquer justificativa que o roteiro criasse.
A trama
O enredo, aliás, também tem falhas. No início, coloca novamente uma animação com narração, para manter o gancho com o conto infantil. Passou-se um ano do massacre do filme anterior. Christopher Robin caiu no ostracismo na pequena cidade de Ashdown, pois a maioria da população não acredita na sua versão do que aconteceu e acha que ele é o culpado. Os monstros estão famintos, e volta a atacar – a trama não cria um motivo melhor para a pausa das suas investidas. E nem para outros detalhes, como o fato de Pooh matar os pais e poupar os irmãos.
Por fim, é nítido que Ursinho Pooh: Sangue e Mel 2 aprimora o primeiro filme, que é péssimo. O orçamento maior permite efeitos especiais congruentes com a proposta de ser um slasher de extrema violência. Porém, falhas no roteiro, e as figuras nada assustadoras dos monstros ainda persistem. A sequência é um filme superior ao primeiro, mas ainda assim é fraco.
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Ficha técnica:
Ursinho Pooh: Sangue e Mel 2 | Winnie-the-Pooh: Blood and Honey 2 | 2024 | 100 min | Reino Unido | Direção: Rhys Frake-Waterfield | Roteiro: Rhys Frake-Waterfield, Matt Leslie | Elenco: Scott Chambers, Tallulah Evans, Ryan Oliva, Teresa Banham, Peter DeSouza-Feighoney, Alec Newman, Lewis Santer, Thea Evans.
Distribuição: Imagem Filmes.
Assista ao trailer aqui.
