Vale dos Deuses é um dos filmes mais malucos que você verá em sua vida.
O roteiro e a direção são do diretor polonês Lech Majewskii. Talvez você se lembre de um dos seus filmes, Prisioneiro do Rio (1988), rodado por aqui com alguns atores brasileiros, numa trama sobre o ladrão Ronald Biggs. Porém, Majewskii costuma mesmo realizar filmes mais viajantes, como The Garden of Earthly Delights (2004), baseado no seu próprio livro.
E Vale dos Deuses segue nessa linha. A sua narrativa é complexa e, devemos admitir, indecifrável. Mas, o filme possui muitas belas imagens e, com algum esforço, conseguimos depreender algumas interpretações.
A trama
As belas paisagens do Monument Valley, marca registrada de John Ford, embelezam o filme. Este deserto é o destino de John Ecas (Josh Hartnett), um redator publicitário que entra em parafuso quando sua esposa o deixa por outro. Isolado nesse local inóspito, ele leva sua mesa e uma cadeira para o pé de uma formação rochosa e começa a escrever um livro. Aliás, se procuramos por um mínimo de racionalidade na trama, podemos considerar que todo o enredo fantástico que veremos é fruto do que ele escreve.
Essencialmente, Vale dos Deuses lida com o tema da proteção do território dos índios Najavo. Wes Tauros (John Malkovich) é o homem mais rico do mundo, e vive isolado num castelo gigantesco em cima de uma montanha. Ele está prestes a comprar os direitos de explorar urânio nas terras dos Navajos. Uma parte dos índios é a favor dessa venda, mas uma outra não. Para os que são contrários, isso violaria um local Sagrado.
Então, essa é a deixa para o filme explorar o misticismo das lendas indígenas, sem se preocupar com a realidade. Assim, vemos um índio fazendo sexo com a montanha e dela nascer um bebê das rochas. Este se torna gigante e destrói a cidade, num dos momentos mais bizarros de Vale dos Deuses. Na verdade, até chega a parecer ridículo, pelos efeitos visuais pouco convincentes.
Multimilionário faraônico
Este Wes Tauros de John Malkovich rivaliza com outro multimilionário excêntrico, o Adrian Veidt da série Watchmen, interpretado por Jeremy Irons. Veidt criava protótipos humanos e os catapultava no quintal de seu palácio. Já Tauros mantém pessoas presas no subsolo do seu castelo, para seu prazer, e catapulta um carro da rainha da Inglaterra que é uma raríssima peça de colecionador.
John Ecas se conectará com Wes Tauros porque escreverá a sua biografia. Por isso, consegue conversar com ele um pouco antes de seu ato final, um delírio de grandeza que o leva a emular os faraós. Ele tenta se preservar, pois sabe que os espíritos Navajos, na forma do bebê gigante, logo o destruirão.
Poucos apreciarão esse devaneio sem freios do cineasta Lech Majewskii. Talvez, aqueles que gostam de Brazil: o Filme (1985), de Terry Gilliam, ou Southland Tales: O Fim do Mundo (2006), de Richard Kelly. Gostando ou não, Vale dos Deuses é muito criativo, e suas imagens viajantes são difíceis de esquecer.
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Ficha técnica:
Vale dos Deuses | Valley of the Gods | 2019 | Polônia, Luxemburgo, EUA | 126 min | Direção e roteiro: Lech Majewskii | Elenco: Josh Hartnett, John Malkovich, Bérénice Marlohe, Keir Dullea, John Rhys-Davies, Jaime Ray Newman, Joseph Runningfox, Steven Skyler.
Distribuição: A2 Filmes
