Vingança (2017)
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Vingança

Avaliação:
7/10

7/10

Crítica | Ficha técnica

No filme Vingança, seu primeiro longa-metragem, a diretora francesa Coralie Fargeat constrói um belo exemplar de thriller de ação que incorpora elementos de Mad Max, Quentin Tarantino, Hiroshi Teshigahara e John Carpenter.

A trama

Filmado no deserto de Marrocos, Vingança remete seu primeiro plano àquela famosa cena de Lawrence da Arábia (Lawrence of Arabia, 1962). O herói do filme se aproxima da tela muito vagarosamente. Primeiro como um ponto muito minúsculo, distante nas areias, até que seja possível compreender sua forma, montado em um camelo. A diferença é que, aqui, os protagonistas se locomovem em um helicóptero. Na estória, o bem-sucedido francês Richard (Kevin Janssens) contratou esse meio de transporte para levá-lo com sua jovem amante até uma luxuosa casa isolada no meio do deserto. Então, vestindo minissaia e chupando um pirulito, surge Jen (Matilda Lutz). Ela representa uma Lolita que passará por um amadurecimento radical durante os acontecimentos extremos que se sucederão durante o filme.

A primeira noite transcorre como desejado pelos dois amantes. Mas, na manhã seguinte, chegam ao local Stan e Dmitri, os amigos de Richard com quem ele se aventura em uma caçada em lugares diversos do planeta, um encontro só para homens. A presença de Jen desequilibra o grupo. Ainda mais depois que ela se apresenta sensualmente para os três, com direito a uma dança particular com Stan. Quando Richard se ausenta do local, Stan violenta a garota, com a conivência de Dmitri. Para encobrir esse crime, Jen é jogada de um penhasco, mas sobreviverá para se vingar.

Protagonismo feminino

A temática da violência protagonizada por uma heroína feminina e a paisagem desértica logo trazem à mente Mad Max: Estrada da Fúria (Mad Max: Fury Road, 2015). Além disso, a personagem Jen se conecta com a recente onda de protagonismo das mulheres em filmes de ação. Nos anos 1980, houve uma tentativa infrutífera nessa direção, com filmes como A Lenda de Billie Jean (The Legend of Billie Jean, 1985) e Cherry 2000 (1987). Aliás, este último, estrelado por Melanie Griffith e pela recentemente falecida Pamela Gidley, já era baseado nos filmes de Mad Max com Mel Gibson.

Referências

A diretora Coralie Fargeat emprega em Vingança várias referências a outros filmes. Por exemplo, a trilha sonora eletrônica lembra o diretor e compositor John Carpenter (Halloween de 1978), principalmente na cena de Richard no chuveiro na parte final da estória. Adicionalmente, Fargeat, consciente ou não, evoca o diretor Hiroshi Teshigahara, de A Mulher da Areia (Suna no onna, 1964), ao comparar os personagens com animais. Nesse sentido, enquanto Jen é simbolizada por uma águia, os homens ganham símbolos menos nobres, como insetos e répteis. E os fãs da violência que explode na tela nos filmes de Quentin Tarantino apreciarão o banho de sangue que surge no epílogo do filme Vingança.

Aliás, o filme de Fargeat se aproxima do gore em algumas cenas. Por exemplo, a morte com a faca nos olhos e o cadáver afogado todo inchado, ou a cirurgia que Jen realiza em si mesma para extrair um galho que atravessa sua barriga. Há, ainda, uma longa cena onde um dos homens tenta tirar com seu dedo um caco de vidro que cortou seu pé.

Gramática do cinema

Por outro lado, merece destaque positivo o uso de alguns recursos da gramática cinematográfica em prol da narrativa. O close extremo, por exemplo, é empregado em várias situações. Quando Dmitri descobre seu amigo violentando Jen, a câmera mostra sua boca comendo um doce com marshmallow em detalhe tão aproximado que causa nojo no espectador. Dessa forma, isso reforça a repulsa por ele não intervir para salvar a garota. O foco no detalhe também surge quando Jen abandona uma maçã mordida no balcão da cozinha. Logo, ela começa a escurecer e formigas começam a subir nela, simbolizando os homens se aproximando da jovem.

E a câmera em plongée é usada como a visão julgadora de um ser superior, quando os amantes estão na cama. Ou, então, para provocar suspense, na cena em que os homens se aproximam do penhasco para ver o corpo de Jen, e esta se move para se esconder deles, em uma cena que funciona perfeitamente. Preste atenção, também, no som abafado que surge depois de Jen levar um tiro na orelha, que traduz bem o que o personagem deve ter passado após o incidente.

Virada

Há uma solução interessante para representar a virada da personagem Jen. Ou seja, ela toma uma droga alucinógena para se livrar do galho que está enfiado em seu corpo, e usa uma lata de cerveja para suturar o ferimento. Então, o logotipo da bebida, uma águia, fica estampado no seu corpo, revelando que Jen agora caçará seus malfeitores, simbolizados por insetos e répteis durante as alucinações. Essa é uma sequência essencial para a estória e foi muito bem filmada. Porém, outra cena importante, não funciona tão bem. É aquela em que Jen, que caiu do penhasco e cima de uma árvore seca, e tem sua barriga perfurada por um dos galhos, consegue se soltar queimando essa árvore. Ao espectador não é oferecido nenhum plano que mostre visualmente que isso a libertaria.

Com tudo isso, o filme Vingança ganha a simpatia do público por apresentar a transformação da garota. Em outras palavras, ela chega como um “produto americano” à venda igual aos produtos do comercial na TV. Depois, na parte final do filme, ela enfrenta os homens em pé de igualdade. Como curiosidade, até mesmo o tempo de nudez do traseiro do ator Kevin Janssens supera o de Matilda Luz.

Enfim, o filme confirma a assunção sobre a obra de estreia de um diretor. Segundo esta, o debut é um depositório da ânsia de incluir todas as ideias que o artista acumulou em prévios anos de estudos e observações. De fato, o entusiasmo por trás da câmera está evidente no filme Vingança.

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Ficha técnica:

Vingança (Revenge, 2017) França, 108 min. Dir/Rot: Coralie Fargeat. Elenco: Matilda Anna Ingrid Lutz, Kevin Janssens, Vincent Colombe, Guillaume Bouchède.

Fênix Distribuidora

Trailer:
Onde assistir:
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