Em Volveréis, o cineasta espanhol Jonás Trueba quebra as convenções do casamento e do cinema.
Casados há 15 anos, Álex (Vito Sanz) e Ale (Itsaso Arana) decidem se separar. Mas, estão bem em relação a isso, como gostam de frisar. Inclusive, seguindo o conselho do pai de Ale, farão uma festa pela separação. Começa, então, o processo de preparação do evento e, acima de tudo, de comunicar os amigos e parentes, que logicamente estranharão a ideia.
No meio cinematográfico
O cinema está intrinsecamente ligado ao enredo de Volveréis. Ale é diretora e está no processo de edição de seu novo filme, que tem Álex interpretando um dos protagonistas. Por isso, o círculo de amigos deles também está dentro da indústria. Essa relação induz Jonás Trueba a brincar com a metalinguagem, entrando num maneirismo que encantará os cinéfilos. E que, para ele, significa jogar em casa, pois ele é filho do diretor Fernando Trueba (que interpreta o pai de Ale no filme).
Assim, depois da cena de abertura noturna, na cama, quando Ale e Álex conversam sobre a separação e sobre a festa, vemos Álex na cozinha preparando o café. A sequência conduz o espectador a acreditar que ele já está morando sozinho. Principalmente porque, em seguida, a tela está dividida, com Ale de um lado e Álex no outro. Então, Ale desce a escada e Álex está na cozinha, com a tela dividida por um batente de porta. Na verdade, já não é mais tela dividida, mas os dois na mesma casa, em cômodos separados.
Em outra brincadeira, Ale está na sala de edição com o editor, e o que aparece na tela é Álex atravessando uma ponte, para logo depois cortar para ele entrando num atelier onde ele tem aulas de pintura. A transição tênue desafia o espectador a separar o enredo e o filme dentro do filme.
Encantador
Além disso, há vários jump cuts em diversos trechos, geralmente quando a narrativa envolve algum desconforto, como o momento em que Álex conta a sua mãe sobre a separação. Jonás Trueba ainda deixa viva a ideia da metalinguagem ao mostrar na tela a procura do foco na câmera ou a posição do melhor enquadramento. Em certa cena, a voz de Ale parece que foi captada por acaso, e não com os equipamentos devidos.
O filme brinca até com seus defeitos. Por exemplo, o jantar com o casal de amigos do cinema parece já assunto esgotado. Dá a impressão de que o enredo vai seguir explorando a comunicação da separação para mais e mais personagens. E, após a exibição do primeiro corte do novo filme de Ale, um dos amigos critica o filme justamente por ser repetitivo – como se Trueba se desculpasse por esse problema que ele já percebeu. Afinal, é isso. Volveréis tem seu encanto nessa troca entre a vida e o cinema.
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Ficha técnica:
Volveréis | 2024 | 114 min. | Espanha, França | Direção: Jonás Trueba | Roteiro: Jonás Trueba, Itsaso Arana, Vito Sanz | Elenco: Vito Sanz, Itsaso Arana, Fernando Trueba, Andrés Gertrúdix, Francesco Carril, Ana Risueño, Naiara Carmona, Pedro Lozano.
Trailer:
