“Zootopia: Essa Cidade é o Bicho”, o novo lançamento da Disney, traz componentes necessários para uma obra inesquecível. Personagens interessantes e ricamente desenhados, técnica de animação de alto nível, e temas universais como tolerância, convivência em paz, igualdade racial e sexual, justiça. Porém, não consegue chegar lá porque desenvolveu a trama de forma errada.
Em um mundo urbano habitado por animais, onde humanos não existem, a trama acompanha a coelhinha Judy iniciando sua carreira como policial, posição até então sempre ocupada pelos animais predadores. Considerada pequena demais, recebe a função de guarda de trânsito. Mas, ao se envolver com um raposo malandrão, acaba envolvida numa trama misteriosa e de enormes proporções, que incluem até transformações monstruosas.
“Zootopia” esbarra na necessidade de utilizar fórmulas prontas de sucesso para se reduzir os riscos do investimento. A história, que entra no gênero policial e suspense, revela uma injeção artificial de ação e mistério para mantê-la em andamento. A forçada de barra talvez fosse desnecessária, considerando que os primeiros minutos do filme, que contam a origem da personagem Judy, possuem seu vigor natural, conquistando a atenção dos espectadores e, além disso, sua identificação.
O relato poderia ter tomado outros caminhos, mas preferiu uma direção que destoa com esse início cândido, quebrando as expectativas ao rumar para um tom mais sombrio. É como se os produtores esperassem que as crianças que gostaram da abertura amadurecessem em trinta minutos para enfrentar temas bem mais pesados.
“Zootopia” cai no mesmo erro daquele filme em que o preguiçoso gato Garfield se torna um super-herói no longa-metragem de animação. E que “Snoopy & Charlie Brown: Peanuts, o Filme” (The Peanuts Movie, 2015) comprovou que o espírito geral dos personagens deve ser preservado. Imagine Charlie Brown e sua turma precisando desvendar mistérios e enfrentar bandidos. Ainda que Judy seja uma nova personagem, recém-criada, seu desenvolvimento foi tão bem construído durante a primeira parte de “Zootopia”, que gostaríamos de vê-la envolvida em situações mais apropriadas para o seu perfil.
