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A Balada de Buster Scruggs (2018)
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A Balada de Buster Scruggs

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

Com A Balada de Buster Scruggs, os Irmãos Coen, juntamente com Alfonso Cuarón, são responsáveis por quebrar o estigma de que a Netflix não consegue produzir longas metragens de qualidade.

Afinal, A Balada de Buster Scruggs e Roma representam o mais puro cinema autoral tanto dos Coen como de Cuarón, respectivamente. São cineastas cujas obras possuem suas próprias identidades singulares. E isso contradiz a receita de sucesso da Netflix, que se vangloria por produzir filmes e séries com base em algoritmos que garantiriam seu êxito. Como é sabido, a empresa de streaming avalia seus resultados em termos de visualizações de seu conteúdo. Ora, talvez o método funcione em termos de negócio, mas não em relação a arte. Portanto, reside aí a importância de A Balada de Buster Scruggs e Roma como indicadores de um novo caminho para a Netflix.

O filme

Joel e Ethan Coen contam seis estórias em A Balada de Buster Scruggs, que se inicia com um livro que se abre para ser lido. O filme procura recriar na tela a experiência do leitor diante desses contos ambientados no Velho Oeste dos EUA. Cada um possui um tom diferente, porém todos com a presença da violência e da morte naqueles tempos difíceis dos pioneiros.

A primeira estória leva o nome do filme e reverencia os caubóis cantantes do cinema nos anos 1930, como Gene Autry e Roy Rogers. Os Coens brincam com o lado demasiadamente ingênuo desse subgênero. Por exemplo, fazendo graça com o som abafado que sai de dentro do violão, em sintonia com o plano de câmera com essa visão de dentro para fora. E, também, com o eco das montanhas fazendo o coro da canção, enquanto a câmera aponta para cada lado delas. Até que o herói começa a falar diretamente para a câmera, num close extremo que só daria certo na tela pequena. Com isso, os Coens mostram que consideraram a janela de exibição do streaming ao pensar nesse plano, que ficaria absurdamente exagerado numa tela de cinema.

Buster Scruggs

Então, vemos o traje branco e arrumadinho de Buster Scruggs (Tim Blake Nelson), com uma feição que lembra Jerry Lewis. Ainda por cima, ele é um caubói cantante. Enfim, tudo isso conduz o espectador a uma concepção que logo será quebrada com uma cena violenta. Os Irmãos Coen a filmam com os malabarismos que os tornaram notórios em seu segundo filme, Arizona Nunca Mais (1987). E que serão ainda mais utilizados nesse segmento, principalmente no duelo que remete ao faroeste Rápida e Mortal (1995), dirigida por Sam Raimi, outro mestre nesse recurso. Em seguida, o conto “Próximo a Algodones” continua a resgatar o estilo vigoroso do começo de carreira de Joel e Ethan Coen.

Melancolia

Outros segmentos se distanciam do humor negro e da violência para focar em outro aspecto da cinegrafia dos Coen: a tristeza, a melancolia, quando a dura realidade interrompe os sonhos. Um pouco disso encontramos no bucólico acampamento do garimpeiro que procura ouro à beira de um riacho de águas límpidas em um belíssimo vale. Porém, a tristeza impera mesmo em “Tíquete Refeição” e “A Garota que Ficou Chocada”, num tom próximo a Inside Llewyn Davis (2013).

Por fim, o conto que fecha o filme nos revela uma faceta desconhecida de Joel e Ethan Coen. Ou seja, a do cinema fantástico, uma homenagem à série Além da Imaginação, de Rod Serling, e outras do gênero. Afinal, faz todo o sentido inserir esse tipo de estória em uma produção para a tela pequena.

Dessa forma, A Balada de Buster Scruggs trafega por diferentes gêneros, sempre com seus diretores buscando o inusitado, seja no plano da câmera como nas viradas do roteiro. Além disso, com fotografia lindíssima da paisagem do oeste americano, acompanhada de trilha sonora igualmente bela, pelas mãos de Bruno Delbonnel (diretor de fotografia) e de Carter Burwell (compositor da trilha sonora). Em suma, é uma jornada pelo cinema dos Irmãos Coen, inclusive do que ainda está por vir.


A Balada de Buster Scruggs (2018)
A Balada de Buster Scruggs (2018)
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