Por trás da mensagem patriótica, A Carta Que Não Se Enviou é um grande filme de aventura.
A trama
Antes de mais nada, A Carta Que Não Se Enviou vangloria, já em sua introdução, a dedicação dos cidadãos que realizam trabalhos pioneiros em prol do país, a União Soviética. Em seguida, notamos que esse é o caso dos dois mineradores e dois geógrafos que chegam à remota região da Sibéria para procurar diamantes numa missão governamental.
Juntamente com os obstáculos físicos da natureza selvagem do local, surgem também alguns conflitos pessoais. Os jovens geógrafos, Tanya e Andrey, são namorados, mas um dos mineradores do grupo, Sergey, começa a flertar com a moça, conforme a estória avança. Enquanto isso, o líder Konstantin lamenta por não ter postado uma carta para sua amada Vera antes de partir.
Apesar das dificuldades, o grupo consegue atingir o objetivo da missão, que consiste em encontrar indícios de uma mina de diamantes. No entanto, logo após a descoberta, um incêndio de proporções gigantescas na floresta os deixa isolados. A partir de então, sobreviver para levar o mapa do local onde há diamantes se torna prioridade máxima.
Estilo
Além dessa trama interessante, A Carta Que Não Se Enviou se destaca pela sua fotografia. Primeiramente, ele é filmado em preto e branco com a câmera na mão se movimentando muito ao acompanhar os personagens se entrincheirando no meio da natureza selvagem. Dessa forma, antecipa o estilo do Cinema Novo que veríamos em Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), que assim retratava seus personagens lutando contra uma paisagem hostil.
Por outro lado, A Carta Que Não Se Enviou busca influências no expressionismo, já que utiliza as sombras e o contraste entre o branco e o preto para imprimir um sentimento de opressão. Ao mesmo tempo, é também moderno, como atestam os belíssimos planos com as silhuetas dos personagens caminhando ao lado do incêndio, bem como o olhar para a câmera da personagem Tanya buscando desesperadamente por Andrey.
Contexto e referências
Apenas para contextualizar, o diretor Mikhail Kalatozov realizou este filme logo depois do sucesso que obteve com seu Quando Voam as Cegonhas (1957), vencedor da Palma de Ouro em Cannes. Desse filme, Kalatozov trouxe a atriz Tatyana Samoylova e, igualmente, o diretor de fotografia Sergey Urusevskiy, que chamou a atenção justamente por seu uso da câmera na mão.
Paralelamente, podemos sugerir que A Carta Que Não Se Enviou dialoga com O Tesouro de Sierra Madre (1948), de John Huston. Afinal, em ambos, as pessoas partem atrás de um metal precioso em condições desfavoráveis, e ficam cegados por essa obsessão. Mas, se no filme de Huston o motivo era a ganância, aqui o objetivo é servir à pátria. Enfim, nos dois filmes, por trás das questões ideológica e existencial, está uma empolgante aventura.
Por fim, destacamos que esse filme de Kalatozov está presente na programação da 1ª Mostra Mosfilm de Cinema Soviético, porém com o título A Carta Que Não Foi Enviada, no canal do CPC-UMES Filmes no Youtube.
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Ficha técnica:
A Carta Que Não Se Enviou (Neotpravlennoe pismo) 1960. União Soviética. 96 min. Direção: Mikhail Kalatozov. Roteiro: Grigoriy Koltunov, Valeri Osipov, Viktor Rosov. Elenco: Innokentiy Smoktunovskiy, Tatyana Samoylova, Vasiliy Livanov, Evgeniy Urbanskiy, Galina Kozhakina.