Depois de dirigir as partes 2 e 3 de Sexta-Feira 13, o diretor Steve Miner resolveu arriscar a mistura de horror com comédia. Essa tendência ganhou força com Uma Noite Alucinante – A Morte do Demônio (Evil Dead, 1981), de Sam Raimi, que era 90% terror e não deixava o humor estragar o clima assustador, como acontece em A Casa do Espanto (House). O filme só chegou aos cinemas brasileiros em 1987, por isso ganhou esse título local para aproveitar o sucesso de A Hora do Espanto (Fright Night, 1985), de Tom Holland, que estreou por aqui em 1986.
A solidão de Cobb
A Casa do Espanto começa amedrontando no seu prólogo, que termina com um a surpresa assustadora. Mas quando entra o personagem principal, Roger Cobb (William Katt), visitando a tal casa do título com um corretor meio caricato, a comédia começa a predominar. Essa cena, aliás, não faz muito sentido, pois Roger morou há pouco tempo nessa casa, que pertencia à tia recentemente falecida. Foi lá que o seu filho desapareceu, tragédia que levou ao fim do seu casamento com Sandy Sinclair (Kay Lenz) e a um trauma que ainda o perturba.
Como costuma acontecer no cinema, Cobb é um escritor que fez sucesso com seu primeiro livro, mas agora tem dificuldades de escrever o segundo. O tema evoca outro trauma de Cobb: durante a Guerra do Vietnã, sua omissão deixou um companheiro à mercê das torturas dos inimigos. Sozinho na casa, ele pretende agora ter a paz necessária para terminar sua obra. Enquanto digita, imagens da guerra surgem em flashbacks, assim como outras lembranças que recriam o momento em que seu filho sumiu.
Porém, sua concentração não dura muito. Além do vizinho bisbilhoteiro – o personagem cômico Harold (George Wendt) – estranhas criaturas começam a aparecer. Todas são feitas com modelagens e efeitos práticos – ainda não existia a computação gráfica. A primeira delas, a que sai do armário, cumpre o seu papel, principalmente porque o diretor Steve Miner não a mostra demais. Porém, ele não toma o mesmo cuidado com a versão monstruosa de Sandy, cuja exposição exagerada elimina qualquer possibilidade de essa evidente fantasia de pano assustar.
Da fofura e do preto total
Não sabemos se Steve Miner pensou em colocar criaturas quase fofas como os bichos papões que querem levar o menino embora. Mas, se pensou, pelo menos justifica essa escolha não assustadora, seja por representarem assombrações infantis, seja por interagirem com um ator mirim. Já o soldado morto-vivo é o mais bem construído no filme, e lembra a figura do Eddie do Iron Maiden, em especial aquele da capa de “Aces High”.
E a trilha musical acompanha essa transição de tom do filme. Começa com uma composição sinistra, com piano. Porém, depois insere canções pop alegres, como “You’re No Good”, de Clint Ballard Jr., acompanhando cenas em que os monstros aparecem.
Em relação ao visual, merece destaque o mundo sobrenatural, criado como um lugar onde tudo é escuro, e criaturas aladas atacam. O preto total, onde Cobb cai, antecipa a cena de hipnose em Corra! (Get Out!, 2017), de Jordan Peele. Mas A Casa do Espanto não tem as mesmas pretensões. Poderia até aprofundar a história aproveitando os traumas que atormentam o protagonista. A intenção, no entanto, é cair no sobrenatural mesmo. Sem complicar muito, apostando na mistura de terror e comédia. Mas fica no meio do caminho, nem assusta muito, nem faz rir.
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Ficha técnica:
A Casa do Espanto | House | 1985 | 93 min | Direção: Steve Miner | Roteiro: Ethan Wiley | Elenco: William Katt, Kay Lenz, George Wendt, Richard Moll, Mary Stavin, Michael Ensign, Susan French.
Distribuição: Alvorada Filmes.
Assista ao trailer aqui.