Poster de "A Garota da Agulha"
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A Garota da Agulha

Avaliação:
8/10

8/10

Crítica | Ficha técnica

A Garota da Agulha revela que o diretor sueco Maguns von Horn, de Sweat (2020), pode trazer uma visão tão cruel sobre o mundo quanto Yorgos Lanthimos, cineasta célebre por essa característica. Indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional, o longa é mais perturbador do que a obra de Lanthimos porque se inspira em acontecimentos verídicos. A descrença na humanidade que permeia a sua história penetra com uma dor dilacerante. Entre todos os seus personagens, apenas um demonstra bondade, todos os outros são maus.

O cenário colabora para essa visão pessimista. Copenhague, capital da Dinamarca, em 1919, afunda na pobreza junto com toda a Europa. Essa crise impacta a vida de todos os cidadãos. A protagonista Karoline (Vic Carmen Sonne) não consegue pagar sozinha o aluguel do apartamento onde morava com o marido, Peter (Besir Zeciri), que desapareceu na guerra. Despejada, se muda para um imóvel imundo e cheio de ratos.

Karoline trabalha como costureira em uma fábrica, daí o título do filme. Magnus von Horn aproveita esse ambiente para filmar a saída das empregadas pelo portão como uma homenagem ao famoso trecho dos pioneiros Irmãos Lumière. A cena é breve e conecta com a aproximação entre a personagem e o dono da fábrica, Jørgen (Joachim Fjelstrup). Karoline se vale da atenção especial como uma chance de melhorar a sua vida. Engravida de Jørgen e lhe propõe o casamento. Mas, não espere que a trama se desenrole como um novelão. A intenção principal se mantém em revelar o mau caráter das pessoas.

O mal impregnado em todos

Jørgen, por exemplo, aceita se casar com Karoline, mas a mãe dele, uma baronesa, ameaça deserdá-lo se fizer isso. Covarde, ele decide abandonar a moça. Karoline, por sua vez, expulsa o marido de casa quando ele, surpreendendo-a, retorna da guerra, mas com o rosto desfigurado. Ele, que acaba sendo exibido num circo como um monstro, é justamente a única pessoa boa dessa história – e será o porto seguro para os momentos de desespero da protagonista.

Vários personagens, mesmo os secundários, exalam maldade. O senhorio que despeja Karoline não demonstra nenhum dó, e a mulher que visita o apartamento para alugar, além de esbofetear a filha por um comentário mimado, afirma que vai entrar no imóvel no dia seguinte.

Mas, a pior de todas é Dagmar (Trine Dyrholm), que se oferece para receber o bebê indesejado de Karoline, mediante um certo valor, para encontrar um novo lar para ele. Num dos vários momentos chocantes do filme, Karoline, já trabalhando para Dagmar, descobre o que sua chefe realmente faz com os bebês. Essa personagem, encarnação do mal, solta a frase que declara a visão que esse filme traz: “O mundo é um lugar horrível, mas precisamos acreditar que não é.” Essa lógica integra a sua defesa nos tribunais, afinal, as mães que entregaram os bebês também não agiram certo, mas pensar que eles teriam uma vida melhor acalma a consciência delas.

Uma dor bem filmada

A fotografia ostenta um preto e branco acentuado, mais próximo do Expressionismo Alemão (presente também em trechos como a cena em que Karoline sobe as escadas de seu apartamento, marcada pela parede inclinada) do que do Neorrealismo Italiano. O diretor de fotografia é Michal Dymek, o mesmo de EO (2022), de Jerzy Skolimowski, longa também indicado ao Oscar de Filme Internacional. Alguns jump cuts bem empregados igualmente se destacam na forma de A Garota da Agulha. Não deixe de notar, além disso, o breve olhar para a câmera de Karoline, pedindo perdão ao espectador, perto do final, pelo seu único ato caridoso. Talvez ela peça perdão em nome de Maguns von Horn, por realizar uma obra tão devastadora. Sem dúvida, é uma experiência dolorosa, mas filmada com indiscutível talento.

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Ficha técnica:

A Garota da Agulha | Pigen med nålen | 2024 | 123 min. | Dinamarca, Polônia, Suécia | Direção: Magnus von Horn | Roteiro: Magnus von Horn, Line Langebek Knudsen | Elenco: Vic Carmen Sonne, Trine Dyrholm, Besir Zeciri, Ava Knox Martin, Joachim Fjelstrup, Tessa Hoder, Ari Alexander, Per Thiim Thim, Søren Sætter-Lassen, Benedikte Hansen.

Distribuição: MUBI.

Onde assistir:
Vic Carmen Sonne em "A Garota da Agulha"
Vic Carmen Sonne em "A Garota da Agulha"
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