A Ilha (Grand Isle) entra na lista de filmes pequenos nos quais Nicolas Cage costuma atuar a rodo. Só em 2019, ano deste lançamento, ele esteve em seis longas.
O diretor de A Ilha, Stephen S. Campanelli, está na indústria desde os anos 1980, em diversas funções técnicas. Mas, na direção, este é apenas o seu terceiro filme. Aqui ele realiza um trabalho, no máximo, razoável.
Pelo menos, consegue extrair boas atuações do trio de protagonistas. Nicolas Cage fica no limite do caricato ao encarnar, com olhos esbugalhados, o traumatizado ex-fuzileiro Walter que virou alcoólatra. KaDee Strickland chama a atenção como sua esposa Fancy, sedenta pelo sexo que o marido lhe nega. E, por fim, fecha o trio o jovem Buddy (Luke Benward), que pega o serviço de concertar a cerca da casa de Walter e vira alvo da sedução de Fancy. Mas, vários deslizes da direção e do roteiro arruínam o longa.
Esse triângulo de protagonistas sustenta a interessante primeira metade do filme. O desequilibrado Walter permanece como uma constante ameaça diante do jogo de sedução de sua esposa, que se insinua para Buddy. Porém, o veterano de guerra está constantemente entorpecido pelo álcool, o que rende momentos de tensão, pois não sabemos quando ele despertará, ou mesmo se ele está apenas fingindo. Para agravar o conflito, tanto Walter como Fancy batalham pela confiança de Buddy.
O segredo do porão
No entanto, o roteiro dos inexperientes Iver William Jallah e Rich Ronat almeja ir além. É aí que a coisa degringola. Ainda durante a primeira metade, Fancy já (estupidamente, diga-se de passagem) quase que confessa que ela esconde algo sinistro no porão da casa. Ademais, os próprios noticiários dentro do filme servem como spoilers da trama. Então, quando o segredo vem à tona, o público já antecipou do que se trata. E, exceto pelo bom susto durante a fuga de Buddy, a revelação do crime surge de uma maneira anticlimática.
Aliás, o roteiro se perde justamente quando insere o mistério do porão. Não faz sentido o que o casal faz com o ladrão levou um tiro no prólogo do filme, pois a motivação de Fancy para cometer seus crimes estava relacionada com sua incapacidade de engravidar. Na delegacia, no final do interrogatório de Buddy, chega a ser patética a teoria do detetive que acredita que o rapaz é culpado. O desfecho, então, com Walter perdendo o controle total, soa como uma desastrada tentativa de refletir os problemas psicológicos dos veteranos de guerra que surtam e protagonizam tiroteios.
Outros erros
Além disso, o roteiro erra a mão ao construir a personagem Lisa (Emily Marie Palmer), a jovem esposa de Buddy. Os dois namoram desde o 6º ano da escola, e acabam de ter uma filha. Mas nada explica por que a esposa seja tão intolerante com o marido. Além de não sentir mais vontade de fazer sexo, ela age descontroladamente quando ele avisa que não conseguirá chegar em casa antes da tempestade, pois seu carro quebrou. Depois, não lhe dá a mínima confiança quando ele vai preso, nem mesmo quando é libertado. Dessa forma, fica difícil acreditar que os dois se amem tanto assim, como a história indica.
Por fim, o filme se encerra com um epílogo desnecessário. Nele, explica a conclusão da trama, como se o espectador não fosse capaz de entendê-la. Enfim, A Ilha está repleta de equívocos. Se não fosse pelo interessante jogo de sedução da primeira parte, o filme seria um verdadeiro desastre.
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Ficha técnica:
A Ilha | Grand Isle | 2019 | 1h37 | EUA | Direção: Stephen S. Campanelli | Roteiro: Iver William Jallah, Rich Ronat | Elenco: Nicolas Cage, KaDee Strickland, Luke Benward, Kelsey Grammer, Zulay Henao, Oliver Trevena, Emily Marie Palmer.