A Primeira Noite de Crime já é o quarto filme da franquia iniciada com “Uma Note de Crime” (2013), que deu origem também a uma série disponível na Prime Video, atualmente no quarto episódio. A criação é da Blumhouse Productions, produtora de Jason Blum que realiza filmes de terror de baixo orçamento que conseguiram ótimas bilheterias e até elogios da crítica, como “Corra!” (2017).
A estória de “A Primeira Noite de Crime”, escrita por James DeMonaco (diretor e roteirista de “Uma Noite de Crime”), se passa dois anos antes do primeiro filme. O governo dos EUA realiza uma experiência piloto do “purge”, uma noite onde os crimes não serão punidos. A ação se passa em Staten Island, um dos cinco distritos de Nova York. Lançado com o objetivo de estudar a psicologia dos habitantes do local, a intenção dissimulada do governo é reduzir a população. Por isso, contrata mercenários altamente armados para vasculhar o distrito provocando mortes. Porém, a gangue de Dmitri defenderá a sua ex-namorada Nya e o irmão dela, Isaiah, desses ataques.
Em seu segundo longa-metragem, o diretor Gerard McMurray começa o filme de forma interessante. Coloca várias telas com noticiários que informam ao espectador a situação daquele momento de crise urbana, lembrando muito esse recurso em “Robocop: O Policial do Futuro” (1987). Há manifestações contra e a favor do experimento do governo, mas a estória começa de fato quanto soa o alarme que dá início ao “purge”.
Tensão moderada
Apesar de tiros e explosões a rodo, de sangue espirrando na tela, o filme só atinge uma tensão moderada. Um dos problemas é o político vilão, o único individualizado, mas ele nunca deixa sua sala de comando. Assim, quem vai para as trincheiras são os mercenários contratados, um bando de gente não identificada portando máscaras. Logo, eles vão matando indiscriminadamente pessoas que também não são individualizadas. Dessa forma, fica difícil o espectador se envolver na estória, e a violência acontece sem provocar nenhuma empatia pelas vítimas.
Somente quando a ação envolve os personagens principais, Dmitri, Nya e Isaiah, o filme consegue tocar o público. Isso acontece, principalmente, quando aparece Skeletor, o bandido do bairro. Esse psicopata malucão é violento até mesmo antes do “purge”. Por exemplo, o filme o mostra cortando Isaiah com um canivete. Quando começa a noite de crime, então, ele é um perigo constante. Sua imprevisibilidade e suas frases ameaçadoras fazem dele um tipo de Coringa. Com isso, ele é o melhor personagem do filme, causando tensão no espectador sempre que está na tela. Pena que ele some durante boa parte do filme.
Questão social
Por outro lado, “Uma Noite de Crime” tenta levantar uma questão social. Nesse sentido, denuncia o pouco caso com os pobres, negros, asiáticos e latinos nos Estados Unidos. O filme evidencia esse preconceito mostrando mercenários com capuzes no estilo Ku Klux Klan e um comandante com sobretudo preto de vinil com uma faixa no braço, lembrando Hitler. Considerado ainda que o diretor e a maioria do elenco são negros, fica clara a intenção da Blumhouse de repetir a proposta de “Corra!”.
Sem dúvida, este é um dos filmes mais fracos dessa franquia, principalmente em comparação ao primeiro. Inclusive, é até menos pretencioso. Por exemplo, em 2013, os atores principais eram conhecidos, Ethan Hawke e Lena Headey. Desta vez, o nome mais famoso é o de Marisa Tomei, em uma pequena participação como a psicóloga do projeto governamental.
Com esse filme, a interessante premissa criada por James DeMonaco em “Uma Noite de Crime” parece condenada ao esgotamento, pelo menos para longas-metragens.
Ficha técnica:
A Primeira Noite de Crime (The First Purge, 2018) EUA. 98 min. Dir: Gerard McMurray. Rot: James DeMonaco. Elenco: Lex Scott Davis, Patch Darragh, Mo McRae, Steve Harris, Y´lan Noel, Chyna Layne, Jermel Howard, Qurrat Ann Kadwani, Joivan Wade, Mugga.