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Poster do filme "A Roda da Fortuna"
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A Roda da Fortuna

Avaliação:
9/10

9/10

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Crítica | Ficha técnica

A Roda da Fortuna (The Band Wagon) marca a terceira e última contribuição entre Vincente Minnelli e Fred Astaire. Antes, o diretor contou com o ator e dançarino em três segmentos de Ziegfeld Follies (1945) e no longa Yolanda e o Ladrão (Yolanda and the Thief, 1945). Mais do que nunca, Minnelli acentua a elegância de sua direção, privilegiando, assim, essa mesma característica que é tão forte em Astaire. Muito diferente, aliás, quando dirige Gene Kelly, atlético e acrobático.

Por esse motivo, a câmera em A Roda da Fortuna se movimenta menos. Ou melhor, desloca-se bastante, lateralmente e para frente e para trás, mas não se arrisca em voos em gruas como em outros filmes. Nas duas sequências mais famosas – “A Shine on your Shoes” (o sapateado com o engraxate [Leroy Daniels]) e “Dancing in the Dark” (o pas de deux no Central Park ao lado de Cyd Charisse) – a câmera acompanha os protagonistas. Isso, evidentemente, já gera muita movimentação, mas a câmera não entra na coreografia da dança, até perdendo o dançarino principal, como acontece em Sinfonia de Paris (An American in Paris, 1951), e outros com Gene Kelly. No filme em pauta, se sobressaem os cortes cirúrgicos, nos quais o editor (Albert Akst) mantém a continuidade dos movimentos de dança, com incrível destreza.

Apresentando o protagonista

Na cena de abertura, Minnelli se aproxima de Alfred Hitchcock em Janela Indiscreta (Rear Window, 1954) – ou o contrário, pois A Roda da Fortuna foi lançado um ano antes – ao apresentar o protagonista através das imagens.

Hitchcock partia das fotos na parede, da máquina fotográfica, do porta-retrato, até chegar a James Stewart com a perna engessada. Dessa forma, o filme revelava que o personagem é um fotógrafo, noivo de uma mulher sofisticada, que acabou de sofrer um acidente.

Minnelli, por sua vez, parte da cartola e da bengala, do cartaz do leilão, até o locutor (sim, Minnelli aqui é menos rígido que Hitchcock em relação a ser exclusivamente imagético), para apresentar o protagonista que era um famoso dançarino, mas agora está desprestigiado.

Espelho da realidade

O enredo, aliás, flerta com a realidade. Fred Astaire já não estava no auge de sua carreira (de 1935 a 1940). E seu personagem, Tony Hunter, também enfrenta esse declínio. Por isso, tenta uma volta no teatro. Mas, se sente intimidado pela sua parceira, Gabrielle Gerard (Cyd Charisse), mais jovem e uma estrela do balé em ascensão.

O espelho com a realidade está também no fato de os escritores da peça, Lester Marton (Oscar Levant) e Lily Marton (Nanette Fabray), serem um homem e uma mulher, como os roteiristas do filme, Adolph Green e Betty Comden.

Além disso, o produtor da peça, Jeffrey Cordova (Jack Buchanan), pretende ser também o diretor, mas acaba deixando essa função para Tony Hunter. Delegação semelhante ao que o talentoso produtor Arthur Freed fazia ao contratar Minnelli como diretor de seus filmes.

Contrastes

O tema principal de A Roda da Fortuna é a dialética. Cordova vem do teatro clássico, acaba de encerrar a temporada de “Édipo Rei”. E quer transformar a peça musical dos Martons em um “Fausto” moderno. Esse contraste entre arte culta e o show business ganha força na incompatibilidade entre o balé de Gabrielle Gerard e a dança de sapateado de Tony Hunter, além da diferença de idade entre os dois personagens. Por isso, Gabrielle e Tony se antipatizam ao se conhecerem, sentimento que perdura durante os ensaios. O encontro entre seus estilos, na dança no Central Park, marca a reconciliação entre os dois, e até o despertar de um amor. O romance começa na dança, ao invés de na cama.

E o fracasso da noite de estreia da peça de Cordova põe um fim em sua pretensão erudita. Daí para a frente, os talentos do entretenimento tomarão a liderança e criarão os números musicais criativos e alegres que o filme apresenta. Entre eles, o inventivo trecho com Astaire, Charisse e Buchanan como bebês trigêmeos (“Triplets”). Nesse terço final, o filme praticamente rasga o roteiro para se livrar de qualquer amarra. A música e a dança prevalecem sobre o enredo.

As músicas

Ingredientes essenciais para um musical, as canções em A Roda da Fortuna conquistam facilmente o espectador. “By Myself” traz a melancolia de Tony Hunter, solitário e agora em declínio. A sua mudança de atitude chega com a empolgação de “A Shine on your Shoes”, com direito a exibir que Astaire ainda está em forma. Os engraçados “Triplets” (um trava-línguas para quem tentar acompanhar a letra), “I Love Louisa”, e “Louisiana Hayride” (o momento solo para Nanette Fabray) fazem parte da explosão criativa sem amarras. Há espaço, até, para um número musical noir (“Girl Hunt”), com Cyd Charisse como femme fatale em versão morena e loira, e Astaire como investigador particular.

O fechamento com “That’s Entertainment” resume o que essa produção hollywoodiana tem a dizer. Ou seja, que o show business também é arte. E quem é capaz de contrariar diante dessa obra-prima de Vincente Minnelli?

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Ficha técnica de “A Roda da Fortuna”:

A Roda da Fortuna | The Band Wagon | 1953 | 112 min | EUA | Direção: Vincente Minnelli | Roteiro: Betty Comden, Adolph Green | Elenco: Fred Astaire, Cyd Charisse, Oscar Levant, Nanette Fabray, Jack Buchanan, James Mitchell, Robert Gist, Ava Gardner, Julie Newmar.

Onde assistir:
Fred Astaire segura Cyd Charisse (loira) em um número de dança
Cena de "A Roda da Fortuna"
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