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A Tabacaria (filme)
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A Tabacaria

Avaliação:
6/10

6/10

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Crítica | Ficha técnica

O livro A Tabacaria, de Robert Seethaler, chega aos cinemas pelas mãos do diretor e co-roteirista Nikolaus Leytner. A obra vendeu mais de 500.000 cópias só na sua versão em alemão.

Nikolaus Leytner é um experiente diretor de filmes para a televisão, apesar de já ter realizado alguns longas-metragens para o cinema. E A Tabacaria claramente evidencia sua bagagem televisiva.

Freud

A estória inclui um personagem histórico real, Sigmund Freud como um dos protagonistas, mas o relato é fictício. O filme conta como o jovem de 17 anos Franz sai de sua boa vida numa pequena cidade no interior da Áustria para a capital Viena. Lá, ele trabalha e dorme numa tabacaria pertencente a Otto Trsnjek, antigo namorado da mãe de Franz.

Freud, na época com 80 anos, é cliente da loja e inicia uma amizade com Franz. Logo, Freud dá conselhos ao rapaz em seu primeiro relacionamento amoroso da vida, com Anezka. Essa garota da Bavária, que trabalha no vaudeville, logo se mostra bem mais experiente que Franz, em todos os sentidos. O rapaz se apaixona, mas ela se envolve com homens mais maduros para ganhar a vida.

Os fatos acontecem na primeira metade do século 20, quando os nazistas começam a ocupar a Áustria. Aos poucos, a política começa a afetar a vida de Franz. A polícia nazista prende Otto, acusado de ser amigo dos judeus, entre eles Freud, que precisa fugir para a Inglaterra. Com a ausência de Otto, Franz assume a responsabilidade de cuidar da tabacaria. Porém. ao assumir posição contrária aos nazistas, ele também sofre repressão.

Apesar do ambiente conturbado que é retratado em A Tabacaria, o filme opta por evitar cenas de violência explícita. Assim, aquelas com potencial de chocar são apenas sugeridas. Por exemplo, o suicídio do personagem comunista, que aparece sem detalhes sangrentos. Mas esse distanciamento entre o que os personagens enfrentam e o que está nas telas enfraquece o poder do filme em sensibilizar o espectador.

Tom leve

Provavelmente, essa opção resulta do currículo do diretor Nikolaus Leytner. Afinal, ele costumava dirigir filmes para a televisão em tempos em que a telinha não aceitava cenas muito violentas. Consequentemente, Leynter não se decide quanto ao tom de seu filme. Então, A Tabacaria começa como um agradável retrato da vida na Áustria da metade do sédulo 20, tanto no interior como na capital. E o tom é tão leve que faz graça até da morte do companheiro da mãe, que é atingido por um raio enquanto nada no lago. Esse tom nostálgico bem-humorado dá lugar às dores sofridas por Franz durante seu amadurecimento, aprendendo responsabilidade e amor. Por fim, surge a violência do autoritarismo nazista.

Não criticamos mudar completamente o gênero do filme durante sua exibição, como faz genialmente Quentin Tarantino. Mas a falha de A Tabacaria é transitar por esses diferentes climas sem se aprofundar em nenhum deles.

Cenários artificiais

Além disso, a experiência televisiva do diretor Leytner deve ter conduzido a outros problemas na produção de A Tabacaria. Por exemplo, a direção de arte cuida apenas superficialmente das ambientações. Por isso, não consegue afastar a impressão de cenários visivelmente construídos em estúdio. Aliás, como os que estamos acostumados a ver em novelas de emissoras brasileiras de tv aberta. Nesse sentido, até mesmo a própria tabacaria, importantíssima para a trama, sofre desse artificialismo da direção de arte. Repare também como o quarto de Franz na casa da mãe é o mesmo nos fundos da tabacaria, nem mesmo a posição da sua cama foi mudada.

E alguns personagens de menor importância e extras atuam de forma tão forçada que era melhor que nem estivessem no filme. Não fariam falta e deixariam o filme mais natural. Como exemplo disso, vejam a expressão do cliente da boate de vaudeville que não entende o motivo de Franz sair no meio do espetáculo. Difícil soar mais falso.

Sonhos

O que torna A Tabacaria um pouco mais interessante são os sonhos e as imaginações de Franz, apesar de que há demasiado uso dessas últimas. As imaginações mostram na tela o que Franz gostaria que fosse verdade, como quando o vemos socar o namorado de Anezka, mas logo a cena corta para o que realmente acontece.

E, quanto aos sonhos, eles são delírios repletos de simbolismos. Considerando que Freud participa do filme como um dos protagonistas, essas representações oníricas aparecem na tela sem soarem forçadas. Pelo contrário, estão justificadas e fornecem a possibilidade de o espectador exercitar uma conexão básica entre o surrealismo do sonho com o que Franz está sentindo.

Assim, A Tabacaria parece mais um filme morno de televisão, mas pelo menos possui esse atrativo das sequências de sonho que dão margens a interpretações. Aliás, o seu final permite que se conclua que Franz foi também preso pelos nazistas, pois Anezka encontra no chão em frente à tabacaria, que foi fechada, o pedaço de vidro que Franz encontrara no lago ao lado da casa onde morava com a mãe e que sempre o acompanhava. O retorno desse vidro para o lago representa o final desse ciclo, ou seja, o que assistimos representou a breve vida de Franz.

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Ficha técnica:

A Tabacaria (Der Trafikant, 2018) Áustria/Alemanha. 117 min. Dir: Nikolaus Leytner. Rot: Nikolaus Leytner, Klaus Richter. Elenco: Simon Morzé, Bruno Ganz, Johannes Krisch, Emma Drogunova.

A2 Filmes

Trailer ao trailer do filme A Tabacaria:

A Tabacaria
Onde assistir:
A Tabacaria (filme)
A Tabacaria (filme)
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