Algo Diferente é o primeiro longa-metragem da diretora Vera Chytilová e, também, um dos primeiros filmes da nouvelle vague tcheca. Além disso, sua narrativa traz um peculiar paralelo entre duas mulheres com vidas aparentemente muito diferentes.
De um lado, acompanhamos a árdua preparação da ginasta Eva e sua participação vitoriosa numa importante competição. Do outro, a dona de casa Vera cuida do filho pequeno e da casa. Em comum, as duas situações retratam mulheres se esforçando, ou mesmo se sacrificando, para dar conta de suas atividades. Da mesma forma, o homem mais próximo a elas são desagradáveis. O treinador de Eva é radicalmente exigente e o marido de Vera não lhe dá atenção e ainda a trai.
Estilo rebuscado
Apesar da abordagem naturalista dessas estórias cotidianas, o estilo de filmagem é rebuscado. Vera Chytilová usa closes muito próximos dos personagens, câmera em movimento, uma quantidade grande de planos curtos. As narrativas se intercalam, e, em algumas transições entre as personagens, há um capricho em sincronizar o movimento das cenas.
As duas narrativas não se cruzam, se mantêm em paralelo. Ou seja, a intenção é retratar o cotidiano de duas mulheres na sociedade tcheca da época, que vivia o regime comunista. Porém, não há um viés político, o foco é no social. Da mesma forma, Vera Chytilová não busca o tema feminista, apesar de retratar o ponto de vista de duas mulheres. Afinal, em nenhum momento há indícios de que ela as julga.
Com isso, os retratos não atraem por idealismos, mas podem cativar o espectador pela identificação. Nesse sentido, não só as mulheres em situações similares, mas também todos que conseguem se colocar no lugar delas.
Desfechos algo diferentes
Por fim, os desfechos possuem resultados opostos. Após vencer a competição, Eva se torna uma treinadora, e reinicia o ciclo de treinamento com uma jovem pupila. Já Vera segue em seu casamento, mesmo após a traição do marido. Ou seja, esses finais mostram as vidas delas continuando com uma ligeira mudança dentro do mesmo cenário. Algo Diferente, assim, se destaca em sua forma e seu estilo, mas a narrativa se fortaleceria com um elo mais forte entre as duas realidades.
