Cronologicamente, Alien: Romulus se situa entre Alien: O 8º Passageiro (1979) e Aliens: O Resgate (1986). Na trama, cinco jovens fogem de uma colônia mineira que obriga seus empregados (escravos, na verdade) a acumularem uma grande quantidade de horas de trabalho para terem o direito de pedir uma rescisão. Vão até uma nave abandonada de onde pretendem resgatar cápsulas criogênicas para viajar até um planeta chamado Yvaga. Descobrem que a nave é uma estação espacial de pesquisa da Weyland-Yutani, a empresa dona da mineradora. A estação está dividida em duas partes, Romulus e Remus – daí o título do filme.
O protagonismo novamente é feminino. No lugar da Ripley de Sigourney Weaver entra a Rain de Cailee Spaeny. Nem tanto pelas atrizes (Sigourney tinha 30 anos na época do lançamento de Alien: O 8º Passageiro e Cailee tem hoje 26), mas as personagens delas parecem ter uma idade bem diferente. Rain parece bem mais nova, e isso fica ainda mais notório comparando os demais membros da tripulação nesses dois filmes. Provavelmente, uma estratégia dos realizadores para atrair o público mais jovem.
O primeiro filme da franquia, dirigido por Ridley Scott e escrito por Dan O’Bannon e Ronald Susett, serve como referência para Alien: Romulus em vários pontos. Não só pela óbvia obrigação de manter a coerência com a trama inicial, mas até para não soarem tão distantes quanto as prequels Prometheus (2012) e Alien: Covenant (2017), ambos de Ridley Scott. Outra estratégia, aliás, para conseguir uma bilheteria maior.
A história
O enredo, assim, segue uma estrutura não muito diferente do filme original mesclado com a do subsequente Aliens: O Resgate. A tripulação descobre gradativamente a presença de uma ameaça alienígena. Então, viram vítimas, primeiro por causa dos facehuggers (as criaturas que parecem escorpiões gigantes com casca de crustáceos), que grudam no rosto da vítima para introduzir uma semente que cresce e usa esse corpo como uma incubadora. Depois, surgem os alienígenas bebês que eclodem do peito da vítima. Em seguida, aparece o Alien em sua forma mais conhecida, gigante e com a arcada letal. Mas, desta vez não para aí, pois Fede Alvarez e seu parceiro criativo Rodo Sayegues vão além para adentrar o terror, habitat natural desses cineastas.
Um ponto de contato muito forte entre a trama desse filme e do original é o papel crucial que desempenha o androide (ou humano sintético). Seguindo a diretriz programada, essa máquina pode ser tão extremamente radical a ponto de parecer o vilão da história. E em Alien: Romulus, a imagem do falecido ator Ian Holm (o Ash de Alien) aparece recriado digitalmente, como um androide parcialmente danificado e dedicado exclusivamente a servir aos interesses da Weyland-Yutani. Desta vez, outro androide possui um protagonismo maior. É Andy (David Jonsson), a quem Rain trata como um irmão. Mas, ao ser reiniciado para ajudar na fuga dos jovens, ele se torna perigosamente racional.
A direção de Fede Alvarez
O uruguaio Fede Alvarez, junto com Rodo Sayegues, é o responsável pela dispensável nova versão de A Morte do Demônio (2013). Mas, também pelo excelente O Homem nas Trevas (2016) – cuja sequência Sayegues dirigiu. O terror sempre esteve presente na franquia Alien, porém, Alvarez intensifica aqui esse gênero. E, pelo jeito, ele precisa, porque, depois da apresentação da colônia mineira e dos personagens principais, o filme parte para uma sonífera viagem de fuga.
Alvarez demonstra aqui dificuldade em captar na câmera as dimensões espaciais e o design do cenário. O que é um erro fatal para essa franquia que se apoia nas horripilantes criações de H.R. Giger (1940-2014). Além de não conseguir captar essa atmosfera, Alvarez ainda cria cenas confusas, incapazes de explicar a disposição estrutural da estação espacial. Assim, os personagens correm de um setor a outro, se separam, se reencontram, mas o espectador não entende onde eles estão – e nem onde se localizam os alienígenas que representam o perigo. Aliás, demora uns 40 minutos para uma criatura aparecer, e é quando o filme melhora. Mas, a inabilidade do diretor é tanta que, no auge da tensão, ele estraga tudo ao não conseguir mostrar se o elevador com os protagonistas está subindo ou descendo.
Ainda assim, Alien: Romulus possui bons momentos. Principalmente quando aposta no terror puro. Alvarez sabe criar eficientes jump scares, sabe inserir imagens grotescas de forma assustadora – como no túnel de terror com várias vítimas em decomposição grudadas nas paredes. A aterrorizante criatura híbrida, novidade na franquia, confirma que o diretor tem talento para o gênero.
No entanto, esses trechos de terror que funcionam não conseguem apagar a fraca direção da maior parte de Alien: Romulus. Cabe agora a Fede Alvarez mostrar em seus próximos filmes que O Homem nas Trevas (2016) não foi uma exceção.
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Ficha técnica:
Alien: Romulus | 2024 | 119 min | EUA, Reino Unido | Direção: Fede Alvarez | Roteiro: Fede Alvarez, Rodo Sayagues | Elenco: Cailee Spaeny, David Johnsson, Archie Renaux, Isabela Merced, Spike Fearn, Aileen Wu, Rosie Ede, Ian Holm.
Distribuição: 20th Century Studios.