Dentre os universos pop omeléticos, Star Wars possui um apelo especial no meu caso. Memória afetiva, pode-se chamar assim. Evoca lembranças de minha primeira chamada para ver e rever várias vezes um filme, no caso o Guerra nas Estrelas (depois rebatizado de Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança), de 1977. Então, junto com os demais fãs, senti calafrios quando George Lucas vendeu seus direitos sobre essa propriedade intelectual para a Disney. O maior medo era de a nova proprietária lançar várias produções derivadas da aquisição para rentabilizar o valor da compra. De fato, surgiram a trilogia final, e spin offs. Entre as séries, Mandalorian logo emplacou com a novidade de ser procedural, e rendeu até um spin off do spin off, O Livro de Boba Fett; a minissérie Obi-Wan Kenobi agradou aos fãs nostálgicos (como eu); e Ahsoka parece mirar o público mais jovem. Andor é um caso à parte. As avaliações no IMDb e as impressões na Jedicon SP deste ano indicam uma aprovação absoluta. Mas não consigo ver assim e, na posição de crítico (e não de fã), tenho que me posicionar nesse sentido.
Seriedade sufocante
A proposta de Andor parecia promissora, pois deriva de Rogue One (2016), o segundo melhor filme Star Wars da era Disney (perdendo apenas para Star Wars: O Despertar da Força [2015]). O showrunner é Tony Gilroy, um dos roteiristas do longa. Mas, ao invés de Gilroy reproduzir a ação eletrizante do seu filme, ele se concentra em fazer do tom sério o maior diferencial. E consegue, pois a série possui uma sisudez sufocante. Não há nenhum momento de alívio, nem mesmo indiretamente através de personagens charmosos, pois esses não existem nessa produção. Nem mesmo o protagonista cumpre essa função, já que Cassian Andor (Diego Luna) está num momento anterior a Rogue One, e por isso ainda um proto-herói titubeante (e sem carisma).
A trama coloca Cassian numa função chave em um grande plano para roubar dinheiro do Império. Misto de heist movie e filme de espionagem, Andor demora cinco capítulos para apresentar o personagem principal e chegar ao clímax da execução do plano. O ritmo é lento, e assim segue pelos demais seis episódios que mostram a repercussão dessa ousadia dos rebeldes. No meio disso, para quebrar o marasmo, a trama força uma prisão um tanto aleatória de Cassian, apenas para dar a oportunidade de uma fuga. A conclusão é bem frustrante, um conflito nas ruas durante uma cerimônia. A cena final, bem como as outras subtramas paralelas que não se resolvem aqui, indicam que essa primeira temporada prepara os acontecimentos do que ainda está por vir.
O que ainda virá
Espero que a segunda temporada faça valer o esforço de ver essa penosa preparação. Mas, seja lá o que Tony Gilroy esteja guardando em suas mangas, preferia ter acompanhado um spin off de Jyn Erso, a protagonista genuinamente carismática de Rogue One. E, com certeza, num tom menos sisudo, pois isso não combina com esse universo.
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Ficha técnica:
Andor | 1ª temporada | 2022 | 12 episódios de 40 min. | EUA | Criado por Tony Gilroy | Elenco: Diego Luna, Kyle Soller, Stellan Skarsgård, Genevieve O’Reilly, Denise Gough, Adria Arjona, Jacob James Beswick, Varada Sethu, Faye Marsay, Fiona Shaw.