Em Anna: O Perigo Tem Nome, Luc Besson capricha nas cenas de ação, mas exagera nas reviravoltas da trama de espionagem.
O diretor francês Luc Besson se tornou um craque em filmes de ação, desde Nikita: Criada para Matar (1990). Agora, ele novamente visita o subgênero da espionagem com uma protagonista feminina. E não desaponta nas cenas de luta. Na principal delas, Anna enfrenta sozinha uns trinta homens em um restaurante, com a missão de assassinar o líder deles. Besson filma essa sequência com muitos cortes em variados planos de câmera, mas mantendo uma duração mínima que permite o espectador compreender cada golpe do combate. Bem melhor do que muitas cenas similares produzidas no cinema norte-americano, em que os cortes são tão rápidos que se tornam incompreensíveis.
Mas Anna: O Perigo Tem Nome pretende se aprofundar na personagem principal, e mergulha nas motivações de um espião altamente treinado em uma organização de serviços secretos – nesse caso, a KGB. Então, o filme começa em tom sisudo, mostrando vários espiões da CIA sendo capturados pelos russos e um deles decapitado. Após a apresentação do título, sem saber acompanhamos Anna em uma missão.
Depois da revelação surpresa, o filme volta no tempo, sem nenhuma indicação clara, numa longa sequência que revela como Anna foi recrutada pela KGB. O propósito de Besson é construir uma personagem que não seja rasa, mas poderia ter montado essa sequência com uma duração menor. Como está, ela prejudica a fluência do filme.
Reviravoltas da trama
Por outro lado, essa opção em prol de uma protagonista consistente se encaixa com as várias reviravoltas da trama. Como Anna deseja deixar a KGB, sempre espera que possa estar livre após concluir suas missões. Contudo, os serviços secretos exigem lealdade vitalícia, e isso torna Anna suscetível a uma oferta dos inimigos, os membros da CIA. Para complicar, além da dualidade profissional, ela também estará dividida no campo sentimental, pois se apaixona por um colega da CIA e por um da KGB.
E Anna: O Perigo Tem Nome embarca na característica principal do gênero filme de espionagem, que consiste em planos meticulosamente planejados que, de preferência, surpreendem o público. Muitos livros de John le Carré representam tipicamente esse padrão, e por isso, geraram adaptações para o cinema, como O Espião Que Sabia Demais (2011) e A Casa da Rússia (1990). Luc Besson levou isso para o roteiro de Anna: O Perigo Tem Nome, porém exagerou na dose.
Como consequência, o filme anda com dificuldade. A sua estória vai e volta várias vezes, e isso fica ainda mais cansativo porque Besson repete o mesmo recurso para mostrar as surpresas da trama. Ele revisita uma cena que já assistimos para mostra-la novamente com um ponto de vista diferente ou informações adicionais, geralmente para revelar que o que vimos antes não era verdade.
Elenco
Para o papel principal, Luc Besson escolheu a modelo Sasha Luss, que já trabalhara com o diretor em Valerian e a Cidade dos Mil Planetas (2017), vivendo uma personagem menor. Esguia, Sasha Luss dá conta do recado nas cenas de luta e sua atuação não atrapalha o aprofundamento do personagem que o diretor buscou. Por outro lado, Helen Mirren como uma das líderes da KGB força demais sua atuação.
Mas o que fica no caminho mesmo é esse exagero de reviravoltas. Ainda assim Anna: O Perigo Tem Nome garante uma boa diversão.
___________________________________________
Ficha técnica:
Anna: O Perigo Tem Nome (Anna, 2019) França/EUA. 119 min. Dir/Rot: Luc Besson. Elenco: Sasha Luss, Helen Mirren, Luke Evans, Cillian Murphy, Lera Abova, Alexander Petrov, Anna Krippa.
Paris Filmes