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Barbie (filme)
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Barbie

Avaliação:
7.5/10

7.5/10

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Crítica | Ficha técnica

Barbie encara a guerra dos sexos na Gerwig Land.

Causa estranheza que o filme sobre essa boneca que virou fenômeno do consumo em massa tenha direção de Greta Gerwig. Seu nome, bem como a do seu marido e parceiro de trabalho Noah Baumbach (autor do roteiro deste longa), está identificado com o cinema independente, e não com o lado blockbuster da indústria. Prova disso é o cultuado Frances Ha (2012), dirigido por Baumbach e estrelado por Gerwig. Além disso, ela tem representado a identidade feminina nos filmes que dirige. Por exemplo, em Lady Bird (2017) e na sua adaptação de Adoráveis Mulheres (Little Women, 2019). Então, como poderia ela estar à frente de um filme sobre um brinquedo que se opõe a essa bandeira?

A sequência de abertura procura responder essa questão, mas com cinismo. Emulando o famoso trecho de 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), a narração na voz de Helen Mirren argumenta que Barbie teve um impacto libertador para as mulheres. Afinal, substituiu os bonecos que eram sempre bebês, e que já moldavam as meninas para serem mães quando crescerem. Talvez até seja verdade que essa fosse a intenção (a personagem que interpreta a criadora da boneca tem essa visão benevolente), mas o resultado foi outro. As várias versões de Barbie viraram modelos estereotipados e, pior ainda, serviram apenas como fantasia para compensar a desigualdade de gêneros do mundo real.

A primeira parte do filme apresenta esse mundo fantasioso, a Barbie Land, onde as mulheres são as poderosas. Com produção primorosa, os cenários trazem casas, carros, ruas etc. tal qual acompanhavam as bonecas. E, em meio a tudo isso, a protagonista Margot Robbie parece que foi moldada a partir de uma Barbie. Uma escolha de elenco perfeita. É a parte mais cativante do longa, pelo menos visualmente.

O mundo real

Mas a Barbie de Margot Robbie, de repente, começa a ter questionamentos existenciais. Pensa na morte, algo que não existe para uma boneca. Os efeitos físicos em seu corpo vão contra a ideia de perfeição implícita nas Barbies: seus pés ficam planos, surgem estrias em suas pernas etc. Então, para resolver isso, ela parte para o mundo real, com Ken (Ryan Gosling) a tiracolo, para falar com o presidente da Mattel, a fabricante das bonecas Barbie. O filme fica menos interessante nesse segmento. Traz piadas previsíveis sobre a não adaptação desses dois personagens, que são bonecos, numa Los Angeles de verdade. Lembra até a situação semelhante em Mulher-Maravilha (Wonder-Woman, 2017). Entra na história Will Ferrell, que faz o CEO da Mattel, com seu humor besteirol que parece deslocado do restante de Barbie. Para compensar a queda de ritmo na narrativa, apela-se para muita correria.

Enfim, o que importa para a trama é que, enquanto a Mattel tenta capturar Barbie, ela descobre como as pessoas se sentem em relação ao conceito da boneca. Ou seja, bem diferente da idealização da Barbie Land, como mostra a garota Sasha (Ariana Greenblatt). Aliás, a mãe dela, Gloria (America Ferrera), dará um belo discurso na parte final sobre feminilidade – como se fossem as palavras da própria Greta Gerwig. Além disso, Ken descobre a sociedade patriarcal do mundo real, e retorna para Barbie Land para implantar esse pensamento por lá, durante a ausência de Barbie. Na parte final, Barbie, junto com Sasha e Gloria, tenta retomar a Barbie Land para as mulheres. Assim, tudo se resume, basicamente, a uma guerra dos sexos. Nisso, o humor se apropria das idiossincrasias machistas, e consegue arrancar gargalhadas, exceto nos números musicais supostamente engraçados, que são longos demais.

O marketing e a essência de Gerwig

A estratégia de marketing para promover Barbie é vencedora. Lotou as salas de cinema já no primeiro dia de estreia, com grande parte dos espectadores vestindo rosa, a cor que foi vendida como sinônimo da marca. Com certeza, se tornará caso de estudo futuramente para a indústria. A execução começou com meses de antecedência, tanto nas redes sociais como em displays e reproduções físicas estrategicamente instalados. Mas pairava uma dúvida: qual o público-alvo do filme? Serão as meninas, hoje adultas, que buscam nostalgia? Os créditos finais, especialmente, agradarão esse grupo. Mas nas salas, a predominância era de crianças e adolescentes, o que pode levar a uma onda de venda de bonecas.

Esse público, certamente, sairá satisfeito do cinema. Mais pelo visual muito próximo dos bonecos e seus acessórios do que por outro motivo. Mas, entre erros e acertos, o filme Barbie diverte com consciência. A diversão vem a tiracolo da abordagem auto-depreciatória da própria Mattel, que é a produtora do longa. Não se levar a sério é crucial para que essa empreitada funcione. No entanto, nem tudo soa engraçado como deveria, e a trama aventureira não se sustenta como deveria. Sem contar que a proposta de que a forma como os brinquedos são tratados pelas crianças repercute neles parece surrupiada de Toy Story (1995). E, no quesito humor ácido, o trecho com bonecas em Fora de Série (Booksmart, 2019), de Olivia Wilde, é muito mais incisivo.

Para um outro público, aquele tocado pelas críticas sociais, se sobressai a autenticidade de Greta Gerwig mesmo numa produção como essa. Não é novo, nem surpreendente. Mas a sua Frances Ha sobrevive naquele discurso de Gloria, ou seja, na mensagem de liberdade para as mulheres serem o que quiserem ser. Suas vontades não cabem em caixinhas estereotipadas da Barbie Princesa, Barbie Tenista, Barbie Operária, Barbie Executiva etc. São várias as Barbies em cada mulher, assim como diversos Kens em cada homem.

O filme, assim, afasta as suspeitas de ser uma grande besteira, porque, no lugar de Barbie e Ken, temos Gerwig e Baumbach.

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Ficha técnica:

Barbie | 2023 | 114 min | Reino Unido, EUA | Direção: Greta Gerwig | Roteiro: Greta Gerwig, Noah Baumbach | Elenco: Margot Robbie, Ryan Gosling, America Ferrera, Ariana Greenblatt, Emma Mackey, Will Ferrell, Simi Liu, Michael Cera, Kate McKinnon, Issa Rae, Ncuti Gatwa.

Distribuição: Warner Brothers Pictures.

Trailer aqui.

Onde assistir:
Barbie (filme)
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