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Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades
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Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades

Avaliação:
7/10

7/10

Crítica | Ficha técnica

O início de Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades nos faz pensar em Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), outro filme com título comprido do seu diretor, Alejandro G. Iñárritu. Numa tomada enganosamente simples, vemos a sombra de uma pessoa projetada no solo de um deserto. Com um esperto movimento de câmera, entendemos que essa pessoa está tentando voar, até conseguir, por fim. Mas, na verdade, o filme tem outra abordagem, bem diferente daquela adotada no filme estrelado por Michael Keaton. E, isso fica claro no trailer de divulgação de Bardo, pela escolha da canção “I Am The Walrus”, dos Beatles. Seguindo a proposta da música, o filme envereda pelo psicodelismo. Para não deixar dúvida, o trailer ainda vende o longa como uma experiência.

De início, é preciso seguir essa sugestão para apreciar quase duas horas e quarenta minutos de imagens surreais, filmadas com lentes que distorcem as bordas laterais. Como fez Luis Buñuel na sua estreia Um Cão Andaluz (1929), Iñárritu desfila sequências que aparentemente desprezam o racional e desafiam a imaginação. Mas Buñuel, que viria a dirigir no México, país natal de Iñárritu, deixou tudo muito dinâmico no seu curta-metragem de 16 minutos. Já Bardo possui sequências longas demais, aumentando, assim, a chance de o público dispersar sua atenção. Acaba lembrando mais os delírios de Terry Gilliam em Brazil: O Filme (1985), principalmente; com a diferença de que o universo aqui não é o futuro distópico, mas um exercício existencial.

Imagens deslumbrantes

E, como nos filmes de Gilliam, as imagens em Bardo são deslumbrantes. Imagine um vagão de metrô com o solo cheio de água com axolotes, ou um bebê recém-nascido retomando o caminho ao útero da mãe. Em outra cena memorável, para mostrar que o protagonista Silverio (Daniel Giménez Cacho) se sente inferiorizado, ou melhor, na posição de uma criança diante do pai, Iñárritu não se contenta apenas com o uso do plongé e do contra-plongé. Prefere ousar e colocar a cabeça do ator adulto no corpo de uma criança. Mas talvez o trecho mais impressionante seja o bebê do tamanho de uma palma de mão sendo libertado no mar, uma metáfora para a superação da perda do bebê natimorto. Vale notar também certa semelhança com o cinema de Federico Fellini quando a fantasia surge com mise-en-scène mais simples e com efeito mais sentimental, como quando o protagonista se despede da família, que está sob postes de luz no meio do deserto.

Surreal com racionalidade

Mas o surreal de Iñárritu não está à solta como a de Buñuel, ou a de Gilliam. Tudo o que vemos se justifica ao final, quando descobrimos que são devaneios de um moribundo. Afinal, quem pode contrariar que pouco antes de morrermos não enfrentemos o que mais nos aflige em nossa vida? No caso de Silverio, além da superação do filho que perdeu logo após o nascimento, há o conflito interno do jornalista mexicano que só fez sucesso quando imigrou para o Estados Unidos, entre outros pontos. Essa questão imigratória, aliás, assume também a forma de preconceito (na cena no aeroporto). Com isso, o filme se aproxima da vida do próprio diretor Iñárritu, que só agora volta a filmar em seu país de origem, após se consagrar com o citado Birdman e com seu mais recente filme até agora, O Regresso (2015) – ambos filmes premiados com o Oscar. Além disso, não se pode ignorar que o personagem principal possui um visual muito parecido com o diretor.

Assim, o desfecho de Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades permite que o espectador tenha a satisfação de encontrar explicações sobre as cenas surrealistas que viu durante o filme. Não precisava disso, embora boa parte do público prefira essa segurança. De qualquer forma, tal liberalidade não impede que as sequências fantásticas pareçam longas demais. Ora, o trailer convida para vivenciarmos essa experiência – ok, mas não precisamos entrar num estado de alteração para apreciarmos as imagens sem pensarmos sobre elas. E a conclusão acaba por confirmar que esse bardo traz histórias com uma base bem racional.

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Ficha técnica:

Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades | Bardo, falsa crónica de unas cuantas verdades | 2022 | 159 min | México | Direção: Alejandro G. Iñárritu | Roteiro: Alejandro G. Iñárritu, Nicolás Giacobone | Elenco: Daniel Giménez Cacho, Griselda Siciliani, Ximena Lamadrid, Íker Sánchez Solano, Luis Couturier.

Distribuição: O2 Play / Netflix.

Onde assistir:
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