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O Regresso (filme)
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O Regresso

Avaliação:
10/10

10/10

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Crítica | Ficha técnica

“O Regresso” deixa você caído na neve, em êxtase

Há uma sensação especial durante o assistir de “O Regresso”. Aparentemente, a beleza da paisagem tomada pela neve da região norte dos Estados Unidos surge como principal suspeita deste embevecimento. Porém, um olhar cinematográfico revela que a magistral condução do diretor Alejandro G. Iñárritu conduz a esse efeito.

No prólogo, Iñárritu coloca uma sequência sussurrada em língua indígena, um talvez sonho místico. Essas imagens se tornarão recorrentes durante o filme, revelando gradativamente seu teor enigmático.

Preparação

Esse início prepara o espírito do espectador para os momentos de ação subsequentes. Usando planos longos, o diretor sustenta as tomadas até o instante ideal de inserir um corte, que chega num misto de clímax e alívio. Duas situações paralelas ocorrem, uma focando em Hugh Glass (Leonardo DiCaprio) e seu filho Hawk (Forrest Goodluck), mestiço de índio Pawne, e outra no Capitão Andrew Henry (Domhnall Gleeson) e John Fitzgerald (Tom Hardy) e seus demais companheiros. Logo, descobrimos que todos são caçadores de peles pertencentes à mesma equipe, e fisicamente situados no mesmo local, justamente no momento em que os índios Rees os atacam. Os caçadores sobreviventes fogem em um barco pelo rio.

Durante essa sequência, o espectador já está inevitavelmente extasiado. E, sem entender o motivo. Afinal, um ataque de índios a homens brancos, em uma floresta no oeste americano, não representa novidade alguma na história do cinema. O diferencial vem do talento do diretor Iñárritu. Ele posiciona a câmera muito baixa, direcionada para cima. Por isso, os personagens são sempre enquadrados com o topo das árvores da floresta e as nuvens em segundo plano, enfatizando o poder da natureza, que limita as possiblidades dos homens. Essa opção de câmera é mantida durante quase todo o filme, integrando-se cada vez mais à narrativa, conforme o desenvolvimento da trama.

Um urso ataca brutalmente Glass, em uma cena rápida e visceral, deixando-o quase morto. A partir daí, a câmera insiste em se manter no nível do solo, para acompanhar a condição em que o personagem se encontra. Para que os demais companheiros avancem em direção à cidade mais próxima, Glass é deixado para trás, com seu filho e um jovem amigo dele, e também Fitzgerald, que aceita o trabalho em troca de pagamento oferecido pelo capitão.

Obstáculos inesgotáveis

Após alguns acontecimentos dramáticos que não serão revelados aqui, para não ser estragar a experiência de assistir “O Regresso”, Fitzgerald abandona Glass, que fica sozinho, gravemente ferido, à beira da morte. O sobrevivente precisa rastejar para se locomover, pois suas pernas ainda não o sustentam, e a câmera toma a mesma posição, solidarizando-se com ele.

Glass parte para a praticamente impossível jornada atrás de Fitzgerald, motivado pelo desejo de vingança. Além de enfrentar sua delicada condição física, encara os desafios dos índios Rees que seguem a mesma trilha, dos inimigos franceses, e das duras condições geográficas. Usa até um artifício que vimos em “O Império Contra Ataca” (The Empire Strikes Back, 1980) , quando Han Solo e Luke Skywalker se abrigam do frio dentro de uma criatura chamada Tauntaun, usado como veículo como um cavalo, que aqui acomoda Glass.

Os obstáculos para Glass cumprir sua missão parecem inesgotáveis. Iñárritu retrata a desesperança ao fugir do constante enquadramento fechado para um plano aberto que expõe a imensa dimensão territorial dominada totalmente pela neve, ao redor do personagem que se encontra no meio da tela, diminuto.

Retorno dos mortos

A história se baseia no livro de Michael Punke. Seu título se origina da palavra francesa “revenant”, que significa “retorno”, e é usada também com sentido sobrenatural, como retorno dos mortos. Apesar de ser contundente, um detalhe parece um tanto frágil, que seria o motivo de o capitão não solicitar mais homens para perseguir Fitzgerald, na parte final.

“O Regresso” deu a Leonardo DiCaprio seu primeiro Oscar. Aliás, merecidamente, pois Hugh Glass é um papel difícil. Representa um lado oposto a sua figura padrão de rosto de menino e gestos delicados. Ou seja, Glass é bruto, mas emotivo, não é jovem e possui uma barba imensa. Durante grande parte do filme, ele não consegue falar, espuma pela boca ao tentar se comunicar, e está sozinho, lutando pela sobrevivência. Tom Hardy também concorreu, como coadjuvante, mas não conseguiu o prêmio. O ator, que também ganhou evidência na cerimônia por ser o protagonista de “Mad Max: Estrada da Fúria” (Mad Max: Fury Road, 2015), careceu de uma pitada a mais de distinção para fortalecer o papel do vilão em “O Regresso”.

A Academia não conseguiu negar a Alejandro G. Iñárritu o prêmio de melhor diretor, mesmo que já tivesse ganhado no ano passado por “Birdman  ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)” (Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance), 2014). Afinal, “Birdman” era genial, mas experimental, fundamentado em técnica cinematográfica. Já “O Regresso” é uma obra prima, onde a técnica é a ferramenta para a sublime experiência de se assistir cinema.


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