Caminho Áspero

Título original: Tobacco Road

Ano de lançamento: 1941

Direção: John Ford

Gênero: , ,

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Avaliação: 7,5/10

Em Caminho Áspero (Tobacco Road), John Ford adapta a peça de Jack Kirkland, baseada no romance de Erskine Caldwell de 1932. O tom predominantemente cômico do filme não esconde o drama da situação sem saída dos camponeses que ficaram sem trabalho depois da crise da bolsa de valores.

A história se passa em Tobacco Road, na Georgia, região que 100 anos antes prosperava com a plantação de algodão e tabaco. Mas, as terras e tornaram inférteis e se desvalorizaram. A Grande Depressão agrava as condições miseráveis dos trabalhadores rurais, porque os donos das terras vendem suas propriedades para os bancos, e estes as desocupam sem piedade. O próprio John Ford retratou esse cenário em As Vinhas da Ira (The Grapes of Wrath, 1940).

A família Lester

O roteiro individualiza esse drama no camponês Jeeter Lester (Charley Grapewin). Iletrado, ele teve vários filhos, mas só sobraram dois em sua casa, Dude (William Tracy) e Ellie May (Gene Tierney). Sua família passa fome e o desespero e a falta de formação os fazem agir de forma inescrupulosa, até entre si.

Sintomaticamente, o filho Dude é um rapaz de 20 anos infantilizado e agressivo. Comporta-se como um endiabrado – sua expressão maligna ao ver o vizinho se aproximando com um saco de nabos parece pertencer a um filme de terror. Desrespeita os pais e a todos. Casa-se com Bessie (Marjorie Rambeau), uma viúva maluca e fanática religiosa. Esse fanatismo, aliás, aparece com muita força nesse ambiente de desespero. Por isso, muitas gags cômicas envolvem situações em que as pessoas param tudo que estão fazendo para entoar hinos da igreja.

Porém, Bessie também não tem educação, e gasta todo os USD 800 que recebeu do seguro pela morte de seu marido comprando um carro que Dude destrói de imediato. A trama ressalta a importância desse gasto inconsequente, porque a premissa repousa na alucinada busca de Jeeter pelos USD 100 de aluguel que garantiriam a permanência da família na fazenda por um ano.

Ellie May, a outra filha, parece um animal no cio. Nas suas primeiras aparições, ela mal fica de pé e não fala nada. Resume-se a poses sedutoras para convencer o seu cunhado Lov (Ward Bond) a deixa-la ocupar o lugar da esposa que está sempre fugindo dele.

O cinema de Ford

A natureza, como costuma acontecer no cinema de Ford, acentua os sentimentos dos personagens e os dramas do enredo. Assim, na noite em que Jeeter rouba os nabos do genro e mente para a religiosa Bessie, uma forte tempestade castiga a sua casa como se fosse uma punição divina. Além disso, a história se passa em outubro, estação da tristeza caracterizada por folhas que caem das árvores como lágrimas dos olhos. E, os dias curtos outonais permitem que o entardecer se transforme em imagens expressionistas, com seu preto e branco contrastante e o fundo de cenário em silhueta.

A conclusão ameaça pausar a tristeza da estação e abrir espaço para um brilho de esperança. No entanto, parece ser um mero truque fordiano para enganar o Código Hays. Um olhar mais atento evidencia que a atitude de Jeeter e a desconfiança da sua esposa indicam que nada vai mudar. A preguiça do protagonista levará à procrastinação e a colheita não passará de uma boa intenção nunca executada. Na verdade, não só nesse final, mas também no filme inteiro, a música alegre apenas disfarça o olhar pessimista sobre esse falso sonho americano.  

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Ficha técnica:

Caminho Áspero | Tobacco Road | 1941 | 84 min. | EUA | Direção: John Ford | Roteiro: Nunnally Johnson | Elenco: Charley Grapewin, Marjorie Rambeau, Gene Tierney, William Tracy, Elizabeth Patterson, Dana Andrews, Slim Sumerville, Ward Bond, Grant Mitchell, Zeffie Tilbury.

Ward Bond, Charley Grapewin e Gene Tierney em "Caminho Áspero"
Ward Bond, Charley Grapewin e Gene Tierney em "Caminho Áspero"

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