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Domicílio Conjugal (filme)
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Domicílio Conjugal

Avaliação:
9/10

9/10

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Crítica | Ficha técnica

“Domicílio Conjugal” se distingue dos demais romances dirigidos por François Truffaut porque opta pela via cômica e não pela dramática. A estória dá continuidade à saga de Antoine Doinel, que o cineasta leva às telas desde a infância de seu personagem em “Os Incompreendidos” (Les Quatrecents Coups, 1959), sempre interpretado por Jean-Pierre Léaud. Desta vez, ele está casado com Christine (Claude Jade), e vivenciará com ela a primeira gravidez e o nascimento do filho, enquanto a trai com uma amante japonesa.

O início do filme descortina características próprias de Truffaut. A câmera acompanha nas ruas as pernas à mostra sob uma saia com comprimento até o joelho, sem revelar o restante do corpo. Obsessão do diretor, as pernas femininas sempre surgem em seus filmes escancarando seu fetiche. Ao mesmo tempo, a preferência pelas locações urbanas mostra resquícios da nouvelle vague francesa. Após o passeio acompanhando as pernas esguias, surge então um leve zoom no lindo rosto de Claude Jade. A admiração de Truffaut pela beleza feminina ilumina a tela.

Humor

Os momentos de humor povoam “Domicílio Conjugal” através dos personagens secundários, retratando variadas personalidades do cotidiano comum de uma cidade como Paris. Os moradores da vila onde o casal protagonista vive possuem características bem definidas, com um tom cômico, mas sem cair no caricato. Assim, há a garçonete Ginette, sempre dando em cima de Antoine, o senhor que nunca sai de seu apartamento, o artista de televisão que todos pensam ser um estrangulador, e outros que se revelam aos poucos, em diferentes momentos. Um dos mais engraçados é o amigo que sempre pede dinheiro emprestado para Antoine quando o encontra nas ruas.

Imagens

Acima de tudo, Truffaut respeita o conceito da primazia do visual no cinema. Ou seja, as imagens contam a narrativa sem necessidade de palavras. Aliás, é dessa forma que Antoine se dá conta da gravidez de Christine. Ele a conduz até um endereço e, após ela entrar, Antoine lê a placa de ginecologista. Logo depois, um pôster de propaganda com bebês chama-lhe a atenção. Há um corte seco e a cena seguinte já traz o bebê do casal na tela. Em outra sequência, o início do caso entre Antoine e a amante Kyoko ganha uma metáfora nos barcos de brinquedo que se aproximam no canal da maquete arquitetônica.

Enquanto o relacionamento extraconjugal ainda é um segredo, Antoine e Christine estão deitados na cama lendo. Ela lê a biografia de seu ídolo, o bailarino Rudolf Nureyev, e ele um livro sobre mulheres japonesas, mostrando o que os estimula na cama. O dançarino russo voltará em outra cena, quando Christine descobre sobre a traição e, ao arrancar a foto de Antoine do porta-retratos, surge uma outra embaixo de Nureyev. Por outro lado, o desgaste do caso com Kyoko surge na tela retratando o desconforto de Antoine em se sentar nas baixas mesas japonesas.

Mais humor

Truffaut ousa escapar do convencional para ressaltar o humor. Usa o stop motion para animar as flores que Kyoko deu para Antoine e que este usou presentear sua esposa. Dentro delas, mensagens de amor da amante começam a pular à medida que as rosas desabrocham. Christine descobre assim a traição, e sons farsescos de trovão ecoam na cena.

O diretor ainda presta homenagem ao cinema em duas referências, uma a “O Ano Passado em Marienbad” (L’année dernière à Marienbad, 1961), de Alain Resnais, em um comentário de um personagem, e o faroeste “Les Cheyennes” (provavelmente o filme “Arrisca-te Mulher” de 1943), estrelado por John Wayne, que está em cartaz em um cinema dentro filme.

“Domicílio Conjugal” integra o tema amor, tão comum na filmografia de Truffaut. Mas, a originalidade que lhe dá um tempero especial é o humor onipresente.


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