Dividir o livro de 900 páginas de Frank Herbert (lançado em 1965) em dois filmes foi uma decisão crucial para a adaptação de Denis Villeneuve. Dessa forma, se evita o erro de David Lynch, que condensou o conteúdo em uma versão incompreensível de 2h17min, em 1984. Villeneuve, no primeiro Duna (2021), apresenta os personagens e explica a situação desse mundo imaginário onde se passa a história. Por isso, o ritmo é lento, só acelera na parte final, que se encerra com o fim do reinado dos Atreides, destruídos pela Casa Harkonnen.
Em Duna: Parte 2, os sobreviventes Paul Atreides (Timothée Chalamet) e sua mãe Jessica (Rebecca Ferguson) se juntam aos Fremens, o povo que vive nas areias do planeta Arrakis. A aceitação deles passa pela crença de que Paul é o tão esperado Messias, ideia defendida pelo líder de uma das tribos, Stilgar (Javier Bardem). Enquanto Paul se decide entre aceitar esse papel, ele se envolve romanticamente com Chani (Zendaya), uma Fremen sem essa fé mística.
Ainda dentro da ficção-científica, o novo filme tem muito mais ação. A Casa Harkonnen, sob ordens do Império, emprega gigantescos tanques e naves, além de batalhões de soldados, para dominar Arrakis. Os Fremens se defendem e contra-atacam em combates visualmente deslumbrantes. No epílogo, abre-se espaço para um duelo um a um entre Paul e o sanguinário Feyd-Rautha (Austin Butler) dos Harkonnens. E, mesmo quando não há lutas, as cenas são movimentadas – por exemplo, com os Fremens surfando sobre os gigantescos vermes da areia.
As especiarias do filme
Ao contrário do filme de Lynch, este Duna: Parte 2 é muito fácil de entender. Até para quem não viu o primeiro filme. Mas isso não significa que o enredo deixe de provocar pensamentos sobre questão importantes. Uma das mais proeminentes é a questão da ciência versus religião, que leva também ao perigo do fanatismo religioso (o que fica evidente no final surpresa). Deriva disso o abuso do poder, óbvio nos que começam no topo desde o primeiro filme, assim como nos que chegam lá no (de novo) encerramento inesperado. E, desde o livro de Frank Herbert, fica subentendido o retrato do colonialismo que invadiu e conquistou terras em busca de riquezas.
Além da ação, o drama romântico também emerge com força nesse segundo filme. O relacionamento entre Paul e Chani avança para uma nova etapa, e se encerra num momento problemático, na tocante cena interpretada por Chalamet e Zendaya através de trocas de olhares. A construção do protagonista, assim, atinge o seu clímax. Em retrospecto, Paul começa como um rapaz imaturo e, depois de muitas dúvidas, assume o papel de um líder espiritual. Mas o Imperador lhe ensina que o líder que segue as regras do coração é fraco.
O que vem por aí
Duna 2 termina no mesmo ponto que se encerra o livro. Mas deixa evidente que uma nova sequência virá. Uma ou mais, seguindo o que aconteceu com o próprio Frank Herbert, que escreveu mais cinco romances dentro do que viria a se tornar uma vasta franquia.
O próximo filme deve trazer uma evolução em importância da personagem de Florence Pugh. Assim como o surgimento da personagem de Anya Taylor-Joy, que aqui faz uma aparição relâmpago numa das previsões de Paul. Ou seja, mais uma vez a produção grandiosa contará também com uma vasta constelação de estrelas.
Ora, elenco estelar, efeitos visuais e especiais espetaculares, e um material de sucesso como origem. Sem contar um diretor que, desde A Chegada (Arrival, 2016), e passando por Blade Runner 2049 (2017) e Duna (2021), se tornou um dos principais nomes da ficção-científica no cinema. Um cineasta que soube que era necessário realizar um filme menos blockbuster para estabelecer a trama para o público, para então mergulhar de cabeça na aventura. Tudo isso impacta na bilheteria, que tem sido enorme, especialmente nas salas com telas IMAX – aliás, filmões de sci-fi desse quilate perdem muito se assistidos em casa. Agora, é essencial que Villeneuve se mantenha no comando dos próximos lançamentos, com força para evitar que Duna se torne tão prolífico, e cada vez menos interessante, quanto Star Wars.
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Ficha técnica:
Duna: Parte Dois | Dune: Part Two | 2024 | 166 min | EUA, Canadá | Direção: Denis Villeneuve | Roteiro: Denis Villeneuve, Jon Spaihts | Elenco: Timothée Chalamet, Zendaya, Rebecca Ferguson, Javier Bardem, Josh Brolin, Austin Butler, Florence Pugh, Dave Bautista, Christopher Walken, Léa Seydoux, Stellan Skarsgård, Charlotte Rampling, Souheila Yacoub.
Distribuição: Warner.
Veja o trailer aqui.