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Esperando Bojangles (filme)
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Esperando Bojangles

Avaliação:
6/10

6/10

Crítica | Ficha técnica

Qual é o limite que separa a realidade da fantasia? Quanto podemos esticar essa linha sem cair num ponto em que não há mais retorno? São questões que surgem enquanto assistimos a Esperando Bojangles (En Attendant Bojangles), terceiro longa do diretor Régis Roinsard. Antes desse, o diretor francês tinha feito a comédia romântica A Datilógrafa (Populaire, 2012) e o suspense Os Tradutores (Les traducteurs, 2019).

Não é tarefa fácil definir o gênero de Esperando Bojangles. Sua trama se inicia na ensolarada Riviera Francesa, em 1958, em tom alegre, de farsa. O galanteador Georges Fouquet (Romain Duris, mesmo ator que fez o protagonista de A Datilógrafa) se diverte como um verdadeiro penetra bom-de-bico numa festa chique, inventando estórias diferentes para convidados diferentes. Então, acaba encontrando um par à sua altura, Camille (Virginie Efira), e imediatamente os dois se apaixonam. O filme não perde tempo com delongas, e logo os dois se casam e têm um filho. A maior parte do enredo acontece quando o menino Gary (Solan Machado Graner) tem uns dez anos, e Camille adentra na loucura sem volta.

A internação de Camille num hospício permite que Esperando Bojangles contraste a alegria das fanfarrices dessa família alternativa com a brutalidade dos tratamentos mentais daquela época. Além disso, também momentos tristes, porque a personagem entra em um estado incurável de insanidade.

O que é loucura?

Por outro lado, o filme discute o conceito social da loucura. A família protagonista desafia os padrões de comportamento aceitos pela sociedade. Por exemplo, empilham suas correspondências sem abrí-las, fazem festas todas as noites, tiram o filho da escola etc. Ou seja, colocam em prática o “tomar banho de chapéu” sugerido por Raul Seixas, aqui adaptado para sair para a rua pelado, entre outras ousadias. Mas, a filosofia da esposa de aproveitar todos os momentos da vida não comporta as várias horas dedicadas ao trabalho. Assim, diferente do H.D. Thoreau de “Walden”, eles precisam pagar as suas contas, e os credores não aceitam ilusões como moeda de troca.

Para apreciar Esperando Bojangles, o espectador precisa se abrir para as ideias libertárias dos seus protagonistas. Não precisa concordar, mas, pelo menos, não pode assistir ao filme com reprovação prévia. Ademais, não pode julgar esses personagens. Em complemento, deve ainda aceitar as liberdades poéticas do diretor Régis Roinsard, coerentes com o espírito dos protagonistas. Por exemplo, na cena da dança da esperança de cura, que se inicia no pátio do castelo na Espanha e transita para um cenário interno de estúdio.

Contudo, o maior destaque da direção está na conclusão. O plano final inclui duas portas abertas para o exterior. Ao contrário do habitual, o enquadramento é assimétrico; a porta do lado direito ocupa um espaço maior da tela do que a do lado esquerdo. E, justamente na direita estão os personagens que escolhem a fantasia, simbolizada pelo pássaro exótico que retorna à vida de Gary.

Não é um filme para qualquer espectador. Tem um toque de Terry Gilliam, na recusa de simplesmente aceitar a vida ordinária.

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Ficha técnica:

Esperando Bojangles | En Attendant Bojangles | 2021 | 2h05 | França, Bélgica | Direção: Régis Roinsard | Roteiro: Romain Compingt, Régis Roinsard | Elenco: Romain Duris, Virginie Efira, Grégory Gadebois, Solan Machado Graner.

Distribuição: California Filmes.

Obs: o filme está na seleção do Festival Varilux de Cinema Francês 2022.

Assista à entrevista com o diretor Régis Roinsard:

Onde assistir:
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