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Essa Pequena é uma Parada (filme)
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Essa Pequena é uma Parada

Avaliação:
10/10

10/10

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Crítica | Ficha técnica

Após despontar como cineasta promissor em A Última Sessão de Cinema (The Last Picture Show, 1971), Peter Bogdanovich realizou a irresistível comédia Essa Pequena é uma Parada (What’s Up Doc, 1972). É um filme que só um diretor cinéfilo poderia fazer, trabalhando o maneirismo para criar um cinema autoral.

A principal referência desta screwball comedy é Levada da Breca (Bringing Up Baby, 1938), arquétipo desse subgênero dirigido por Howard Hawks. Não por coincidência, Bogdanovich já filmara uma entrevista com Hawks em 1967 para a televisão. Em linhas gerais, as tramas dos dois filmes se assemelham. O protagonista leva uma vida focada em sua especialidade, não se importando com nada mais. Por isso, está prestes a se casar com a noiva que obviamente é inadequada para ele. Então, surge uma mulher atrevida e amalucada que mudará o rumo do personagem principal.

O papel de bonitão sonso interpretado por Cary Grant no filme de Hawks agora ganha a figura de Ryan O’Neal. O seu Howard Bannister, porém, é uma versão mais exagerada do David Huxley de Grant, sem medo de soar artificial. A sua noiva, então, de nome Eunice Burns, é totalmente caricata. Na verdade, deliciosamente caricata na interpretação de Madeline Kahn. Até o nome é engraçado, pois Eunice lembra “eunuch” (eunuco), marcando a sua castração. O fato de esses personagens serem caricatos não significa um demérito, pois essa característica é necessária para que o público ria delas. Se fossem humanizadas, poderiam evocar outros sentimentos, como de piedade.

Bunny Girl

E, quem encarna a mulher que entra como um furacão nessa história é Barbra Streisand. A cantora já provara ser uma boa atriz na sua surpreendente estreia em Funny Girl: A Garota Genial (Funny Girl, 1969). Em Essa Pequena é uma Parada, Streisand arrasa num dos mais criativos personagens cômicos do cinema. Além da impetuosidade e da sexualidade da Susan Vance de Katharine Hepburn em Levada da Breca, sua Judy Maxwell incorpora os trejeitos do Pernalonga (!).

Fisicamente, encontramos similaridade entre Streisand e o personagem animado quando vistos de perfil. No entanto, isso fica mais acentuado nas expressões faciais e corporais da atriz. Além disso, o personagem capta as características do coelho da Looney Tunes e incorpora em Judy Maxwell. Assim, na sua apresentação, a personagem não fala nada, mas as confusões acontecem ao seu redor e ela fica impassível. Depois, começa a surgir do nada na frente de Howard, principalmente na célebre cena na drogaria. Por fim, para confirmar a inspiração, Judy mastiga uma cenoura e diz sua famosa frase “What’s Up, Doc?”.

Aliás, vale comentar que o título nacional deveria ser a usual tradução para essa frase do Pernalonga. Ou seja, “O que é que há, velhinho?”, no lugar da gíria que ficou datada e que lembra nome de música da Jovem Guarda. Contudo, a favor do título oficial, pode-se argumentar que “Levada da Breca” também trazia um jargão que caiu em desuso.

Influências

Enfim, conhecedor da obra de Hawks, Bogdanovich deve ter criado essa ideia do personagem inspirado no Pernalonga em outra screwball comedy do mestre. Estamos falando de Bola de Fogo (Ball of Fire, 1941), que trazia figuras que se emulavam “Branca de Neve e os Sete Anões”. Há outras dicas da referência do Pernalonga em Essa Pequena é uma Parada. Por exemplo, os sobrenomes do casal Howard Bannister e Eunice Burns, que lembram foneticamente o nome original do coelho, Bugs Bunny. No entanto, quem não pescou a semelhança durante todo o filme, terá a explícita evidência na cena final, quando a abertura do desenho aparece na tela no avião.

Tal qual os protagonistas, os personagens secundários também são incrivelmente engraçados. E, há um grande número deles, do recepcionista do hotel desonesto à senhora rica, do concorrente de Howard ao benfeitor que dará uma verba para pesquisa, e outros que nascem das subtramas desse inteligente roteiro. Todas se entrelaçam num corredor do Bristol Hotel em San Francisco. Depois, descambam numa louca perseguição pelas famosas ladeiras da cidade. Esse trecho é o mais engraçado do filme, e lembra as arriscadas façanhas do cinema mudo de Buster Keaton, num ousado trabalho dos dublês. Não por acaso, este é o primeiro filme americano a listar o nome desses profissionais nos créditos finais.

Por fim, Peter Bogdanovich ainda se deixa influenciar por Frank Tashlin, cineasta responsável por convencê-lo a trocar a cena teatral de Nova York pelo cinema hollywoodiano, no início de sua carreira. De Tashlin, notamos as gags visuais, em especial, a cena em que Howard fala diretamente para a câmera.

Com tudo isso, Essa Pequena é uma Parada é um dos melhores exemplos de comédia maluca extremamente engraçada e inteligente.


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