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Femme Fatale (filme)
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Femme Fatale

Avaliação:
9/10

9/10

Crítica | Ficha técnica

A sensualidade de uma femme fatale moderna em um filme genial

Depois do fracasso comercial de “Missão: Marte” (Mission to Mars, 2000), o diretor Brian De Palma resolveu retomar as idiossincrasias que caracterizaram sua carreira. Ou seja, movimentos de câmera, tela dividida, voyeurismo, cenas ousadas de sexo, trama com reviravoltas, releitura de gênero, a incerteza do que representa a realidade… Enfim, “Femme Fatale” reúne o que há de mais precioso em seu estilo, em uma das melhores obras de sua filmografia.

Film noir

O gênero que ganha uma releitura é o film noir, que De Palma revisitaria, novamente, no seu filme seguinte, “Dália Negra” (The Black Dahlia, 2006). Essa referência se evidencia desde os primeiros minutos, quando “Pacto de Sangue” (Double Indemnity, 1944), de Billy Wilder, está passando na TV que Laure (Rebecca Romjin-Stamos) assiste. O mistério que toda femme fatale possui nesse gênero surge logo nessa cena, quando não se pode ver seu rosto claramente. O que não se esconde, porém, é que essa mulher não preza a honestidade, e se encontra prestes a participar de um ousado roubo de uma joia.

Bela, sedutora e manipuladora, acompanharemos sua trajetória de golpes até a virada surpreendente da história. Logo, o mundo sujo peculiar do film noir impregna a trama. Laure trai os bandidos que a contrataram e ela foge com o produto do golpe, após seduzir uma modelo (Veronica, interpretada por Rie Rasmussen) em pleno Festival de Cannes.

Durante o processo de fuga, arremessam Laure do mezanino de um hotel, em uma cena emocionante em câmera lenta. Ela consegue sobreviver, e confundem-na com uma mulher que desapareceu, por isso a levam para a casa dos pais dessa moça. Então, quando ela retorna para casa, Laure presencia seu suicídio, e aproveita a oportunidade para assumir a identidade dela e escapar para os Estados Unidos. Até então, transcorrem mais de 30 minutos de filme praticamente sem diálogos, celebrando o que Alfred Hitchcock afirmava ser a principal vocação do cinema: as imagens.

Virtuosismo

O split screen, a tela dividida, acompanha o fotógrafo Nicolas Bardo (Antonio Banderas) desde a sua primeira aparição, como um voyeur registrando o lesbianismo de Veronica. E, também, após decorrerem sete anos, quando o contatam para fotografar a esposa do novo embaixador americano em Paris, que é justamente Laure. Essa repetição de cenas e situações é uma constante no filme, e se encaixa perfeitamente na sua ideia principal, como revela o último terço da estória.

Uma das sequências mais brilhantes de “Femme Fatale” é aquela em que os bandidos encontram e perseguem Veronica. A cena, que as lentes de Nicolas Bardo registram, começa com o fotógrafo em sua sacada, e desce até a mesa na calçada onde ela está com Laure. De relance, vemos um anúncio da revista Deja Vue, com a foto de Laure tirada por Bardo. As duas se despedem e, em câmera lenta, acompanhamos as pernas da modelo caminhando pela rua, até entrar por uma porta. Então, ela sai correndo, perseguida por duas outras pessoas, de quem também só vemos as pernas.

Após um acidente que envolve os três, o anúncio da revista agora aparece claramente. De Palma orquestra essa sequência com maestria ímpar, onde todos os elementos se encaixam devidamente. E, se não bastasse esse momento, a genialidade de De Palma ousa retomar essa cena no terço final do filme, de forma ainda mais sublime.

Revisitando as cenas

Da mesma forma, o filme retoma a queda de Laure, em outras circunstâncias, mas novamente sendo atirada pelos dois bandidos, desta vez de uma ponte. Ao cair no rio, em câmera lenta, a antes vestida protagonista agora está nua, dando um sentido onírico ao que vemos na tela. Essa nudez inesperada e ilógica, somada ao elemento água, leva o filme para outra situação. Assim, revela uma surpresa que se justificará pela transformação pela qual passa a personagem Laure.

O sexo, antes presente com ousadia principalmente em “Vestida para Matar” (Dressed to KIll, 1980) e “Dublê de Corpo” (Body Double, 1984), ganha forte presença em “Femme Fatale”. De fato, este é o filme mais sensual de De Palma. As belíssimas Rebecca Romjin-Stamos e Rie Rasmussen se beijam fogosamente no banheiro feminino na cena do roubo. Além disso, a protagonista ainda pratica duas vezes o strip tease. Primeiro, rapidamente, quando seduz Antonio Banderas no hotel, resultando em beijos que parecem além do chamado beijo técnico. Depois, quando Laure seduz um homem no bar para enciumar Bardos, em um strip na mesa de snooker que ficou antológico. Aliás, foi o melhor papel da carreira da atriz, que ficou famosa somente como Mystique na série de filmes dos X-Men.

Enfim, “Femme Fatale” escancara a liberdade que De Palma buscou para dirigir sem as imposições dos estúdios para superproduções, como enfrentou em “Missão: Impossível” (Mission: Impossible, 1996). Com isso, comprova o quão brilhante ele consegue ser, sem essas amarras. Afinal, além das cenas que analisamos acima, muitas outras merecem um escrutínio atencioso para se apreciar cada detalhe.


Ficha técnica:

Femme Fatale (Femme Fatale, 2002) 114 min. Dir/Rot: Brian De Palma. Com Rebecca Romjin-Stamos, Antonio Banderas, Peter Coyote, Eriq Ebouaney, Edouard Montoute, Rie Rasmussen, Thierry Frémont, Gregg Henry, Fiona Curzon, Sandrine Bonnaire, Régis Wargnier, Beata Ben Ammar.

Assistir: entrevista com diretor e elenco de “Femme Fatale”

Onde assistir:
Femme Fatale (filme)
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