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Fora de Série (filme)
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Fora de Série

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

A estreia da atriz Olivia Wilde na direção não poderia ser mais promissora. Fora de Série é uma comédia colegial acima do costumeiro besteirol americano.

Duas adolescentes, a lésbica Amy (Kaitlyn Dever) e a gordinha Molly (Beanie Feldstein), se orgulham em serem as nerds (ou as “cdfs” do título original) da classe. Amigas inseparáveis, elas sacrificaram suas vidas sociais para serem as melhores estudantes para entrar nas universidades top dos EUA. Porém, no penúltimo dia de aula do ensino médio, descobrem que os colegas menos aplicados também conseguiram passar no exame de admissão dessas instituições. As duas tentarão, então, recuperar o tempo perdido na tradicional festa de classe da noite que antecede o último dia de aula.

Sem experiência no assunto diversão, Amy e Molly trilharão um caminho tortuoso até chegar à festa dada por Nick (Mason Gooding), o crush secreto de Molly. Lá Amy pretende flertar com Ryan (Victoria Ruesga) e assim ficar pela primeira vez com uma mulher. Porém, muito mais que diversão, elas encontrarão amadurecimento.

Sem preconceitos

Fora de Série evita os estereótipos sociais que tantos filmes do gênero recorrem para construir seus personagens. Para começar, os colegas da turma não mostram nenhum preconceito em relação a Molly ser gordinha e Amy gay. É a atitude delas em se dedicarem exclusivamente aos estudos que as isola socialmente. Ou seja, ao invés de a culpa ser dos outros, a responsabilidade é delas próprias, o que é uma mensagem diferente dos nerds vítimas de bullying que vemos em outras comédias juvenis. O mesmo acontece com o casal que é super rico, e que quer agradar os colegas usando o dinheiro. E também com os artistas, os atores da turma. As tentativas frustradas de promoverem festas à parte não dão certo e todos partem para a festa de Nick, e todos são bem recebidos por lá.

Há quebra de paradigma também no aspecto físico dos dois crushes dos protagonistas. Nick e Ryan não são loiros com corpos delgados. Nick tem pele morena e Ryan é latina e passam longe do padrão de beleza dos filmes americanos. As duas protagonistas, nesse aspecto, igualmente se distanciam daquela estória furada de “patinhos feios que se tornam cisnes”. Kaitlyn Dever e Beanie Feldstein são bonitas como todos os demais personagens. Ainda em relação ao elenco, o que funciona muito é que todos aparentam a idade dos personagens, e realmente acreditamos que todos são adolescentes inexperientes, mesmo que os atores sejam um pouco mais velhos na realidade.

Amadurecimento

É essa aparência de ingenuidade que permite alguns momentos de epifania que levam ao amadurecimento das protagonistas. Primeiro, quando Molly descobre que os demais estudantes também entraram na Stanford, Yale e Harvard. E, depois, quando as duas brigam na festa, e deixam de lado suas paixões infantilizadas para buscar um sentimento mais forte. O trabalho de Olivia Wilde, como diretora, se destaca nessas cenas.

Na primeira, ela filma Molly com o recurso de “dolly in zoom out”, que Steven Spielberg eternizou em Tubarão (1975), para mostrar sua perplexidade por ver que seus esforços para se destacar como estudante foram em vão. Adicionalmente, reforça ainda com um close de uma camisinha cheia de água jogada pelos colegas que explode na sua cara – um verdadeiro banho de água fria! Na segunda, a diretora aumenta o som da música e não ouvimos o que Molly e Amy falam enquanto brigam. Dessa forma, o espectador é conduzido a querer interferir e dizer: “Não briguem, não destruam a bela amizade de vocês!”.

Olivia Wilde monta Fora de Série com planos muito curtos nas gags visuais, como se não quisesse provocar gargalhadas, apenas risos rápidos. Muitas sequências recorrem ao fantástico, como a engraçada sequência animada em que Amy e Molly se drogam involuntariamente e se enxergam como bonecas do tipo Barbie, tirando sarro de suas formas perfeitas mas assexuadas. A fantasia também serve de instrumento para mostrar a infantilidade do sentimento de Molly em relação a Nick, na cena em que se imagina dançando com ele.

Ritmo ágil

Porém, o ritmo ágil do filme deixa algumas pontas sem amarrar, como a aparição do diretor da escola como motorista de aplicativo. Como ele pouco havia aparecido no filme, em apenas uma cena curta anterior, a piada não funciona porque dificilmente o espectador o reconhecerá. É verdade que os diálogos o identificam, mas nisso o timing da graça já se perdeu.

Além disso, soa estranho também como a fotografia em algumas cenas noturnas está ruim, muito escura e com pouca nitidez, algo a se questionar ao diretor de fotografia Jason McCormick.

Em suma, Fora de Série é bem divertido e engraçado. Seus atores, principalmente a dupla central, são encantadores e convincentes. Mas, o que mais se sobressai é como o filme apresenta aquele momento de amadurecimento que todos passamos, quando deixamos a vida adolescente para a adulta. Afinal, é o fim de uma fase, uma passagem com alta carga emocional. Aliás, lembra muito The Myth of the American Sleepover (2010), de David Robert Mitchell.

Por fim, como curiosidade, vale apontar que Lisa Kudrow, a Phoebe da série Friends (1994-2004), faz um pequeno papel em Fora de Série, como a mãe de Amy.


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