Em História de uma Prostituta, acompanhamos parte da vida de Harumi, a profissional do título. Na cidade de Tianjin, na China ocupada pelos japoneses, ela se apaixonou por um homem que a abandona por outra. Resolve fugir, mas ela e suas colegas são capturadas e levadas para trabalhar em um bordel perto de um quartel.
Lá, o assistente do imperador, cargo mais alto da região, escolhe Harumi como sua favorita. Isso se torna seu fardo, pois ele é bruto e a violenta no primeiro encontro. Então, Harumi dedicará sua afeição ao jovem subordinado do assistente, que ela desvirgina. Por fim, seu objetivo maior passará a ser conquistar o coração de seu novo amor.
Drama romântico
O diretor Seijun Suzuki, acostumado a filmar produções B policiais, realiza em História de uma Prostituta um drama romântico. Para isso, adapta seu estilo a esse gênero. Nesse sentido, escolhe a fotografia em preto e branco e deixa de fora as cores vibrantes que caracterizam sua filmografia. Além disso, a narrativa segue uma ordem cronológica, e não há retornos ao passado ou grandes elipses.
Mesmo assim, Suzuki não abandona seu poder criativo. À frente de seu tempo, coloca em cena o recurso metalinguístico que só veríamos várias décadas mais tarde. Repare como é inusitado, ainda mais num melodrama, o recurso gráfico da figura do assistente do imperador sendo rasgado como um cartaz de papel quando Harumi deseja sua morte. Note também como Harumi chora, em close, com a câmera se deslocando em slow motion enquanto sua voz se mantém na velocidade normal.
Simbolismo
Acima de tudo, destaca-se em História de uma Prostituta o simbolismo na cena em que vemos o uniforme do assistente, após estuprar Harumi, em close, com a patente bem visível. Mais tarde, um plano similar, depois de Harumi tirar a virgindade do jovem amado, mostra o uniforme do rapaz sendo encoberto pelas roupas civis dele. A ideia por trás dessas cenas é mostrar que, para o jovem, o homem está acima da sua profissão. Pelo menos nessa sequência, pois depois ele se mostrará bem frio com Harumi.
Suzuki surpreende também no momento mais dramático do filme, quando o casal se abraça e o diretor demonstra a cena com vários fotogramas, montados em sequência. Dessa forma, o recurso reflete a vontade do casal de preservar por mais tempo esse momento sublime, apesar de isso ser impossível.
Prostituição
Suzuki retrata a prostituição com crítica social. Com isso, a profissão da protagonista é discutida no filme, revelando o sonho quase impossível de elas se casarem e a luta para serem tratadas com respeito. Aliás, é um tema recorrente em sua filmografia, como no anterior Portal da Carne (1964).
Como resultado, essa abordagem crítica de História de uma Prostituta resulta num filme que provoca a empatia do espectador. E, talvez consiga mudar sua visão em relação às prostitutas. Ou seja, não é intenção desse romance dramático provocar o choro. Até por isso, a narração por uma voz masculina, e não pela protagonista Harumi, afasta o sentimentalismo mais fácil.
Em suma, História de uma Prostituta é um melodrama romântico com toques da criatividade ousada de Seijun Suzuki.
Ficha técnica:
História de uma Prostituta (Shunpu den, 1965) Japão. 96 min. Dir: Seijun Suzuki. Rot: Hajime Takaiwa. Elenco: Tamio Kawaji, Yumiko Nogawa, Isao Tamagawa, Shoichi Ozawa, Toshio Sugiyama, Daisaburo Hirata, Tomiko Ishii.
A Versátil Home Video lançou História de uma Prostituta em dvd no box “A Arte de Seijun Suzuki“