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Kimi: Alguém Está Escutando (filme)
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Kimi: Alguém Está Escutando | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
6/10

6/10

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Crítica | Ficha técnica

Já nas primeiras imagens, o radar apita: filmado durante a pandemia. E logo veremos a protagonista, Angela (Zoë Kravitz, filha do músico Lenny Kravitz com a atriz Lisa Bonet), colocando máscara para sair de casa. Ela recua, porque tem medo de sair. Mas o recado está dado. Assim é Kimi: Alguém Está Escutando, novo longa de Steven Soderbergh, sintonizado com os novos tempos.

Vemos, ainda no início, uma entrevista realizada por meio de um desses aplicativos de comunicação à distância. Um homem explica por que a Kimi é uma inteligência maior que Siri ou Alexa: porque a Kimi é aprimorada por pessoas, não por um algoritmo que busca entender o que queremos. Sua imagem no vídeo é ótima, usa terno e gravata e uma estante de livros por trás, passando a impressão de um intelectual sério, além de CEO da empresa criadora da Kimi.

Mas Soderbergh nos revela mais: de um lado, uma bagunça, cadeira de vime de ponta cabeça em cima de uma mesa; do outro, uma escada de metal, prateleiras com mais bagunças de todos os tipos, um ambiente pouco convidativo. Procedimento um pouco preguiçoso, e que nada ajuda na trama a não ser para logo percebermos que esse cara é um picareta. No entanto, a imagem típica da pandemia é uma estante de livros por trás da pessoa, e intuímos que se trata de um cenário armado no meio de um ambiente menos nobre. Não é nada censurável, ou não deveria ser. Em se tratando de um filme de Soderbergh, porém, convém não esperar muito mais.

Um Soderbergh de pandemia

Kimi é um dos chamados filmes propositalmente menores do diretor. De baixo orçamento, sem ator ou atriz de primeira grandeza (Kravitz, aliás, atua com uns trejeitos que não ajudam muito), com duração de filme B (89 minutos), produzido pela New Line Cinema (subsidiária da Warner reservada a produções menores) e pela HBO Max. Fazer um filme relativamente barato é uma ótima ideia de pandemia. A covid é um assunto na narrativa, por sinal. Angela, diz a sinopse, é agorafóbica. Mas é isso mesmo ou ela só tem medo de se contaminar pelo vírus? No auge da pandemia era comum termos medo de tudo, até do vento. Bem, provavelmente sua agorafobia se agravou com a pandemia. Logo descobriremos o motivo de seu medo: ela fora estuprada tempos atrás e a polícia a tratou como ré. Bem típico deste patriarcalismo nojento em que vivemos.

Uma das coisas mais chatas do cinema contemporâneo é ver mensagens ou ligações de vídeo. Uma tela dentro de outra. O sobreenquadramento é um recurso sempre interessante no cinema, mas quando as molduras são portas, arcos, espelhos, janelas, raramente uma outra tela que emite imagem. Mesmo antes da pandemia, era comum vermos smartphones, notebooks e tablets em cena, raramente usados de modo inteligente. Kimi, por sua própria natureza de filme pandêmico com protagonista em isolamento, tem essas imagens em abundância. O grande monitor do desktop de Angela, o notebook por onde ela se comunica com a mãe, a analista ou companheiros de trabalho, o celular que ela usa para mandar mensagens para o vizinho com quem tem um caso, temos uma inflação de telas que certamente ajudam uma narrativa pandêmica a andar, mas raramente elevam o filme artisticamente. Pelo contrário: são bem maçantes essas imagens.

Um final engenhoso

Angela trabalha num escritório de Seattle para melhorar o algoritmo da Kimi, interpretando o que as pessoas falam e “ensinando” Kimi a dar a melhor resposta a elas. Ela é uma das pessoas a que o figurão se referia no início. Num dos áudios, descobre o que pode ser um estupro seguido de assassinato. Então, com a ajuda de um hacker romeno, ela tem acesso a outras mensagens da mesma usuária. Numa dessas mensagens, começa a imaginar o crime cometido, quem o cometeu, e as imagens são distorcidas, em fusão com a imagem de Angela desesperada pela impotência da ocasião.

O espectador descobrirá algo antes de Angela, no estilo de Hitchcock, mas Soderbergh não fará muito esforço para imitar o mestre nas consequências desse saber. Tudo é tão pobre de ideias, o contrário do que costuma acontecer com um bom filme pobre de orçamento, que da metade para o fim a coisa vai degringolando em meio a tanta afetação. Os dez minutos finais de Kimi: Alguém Está Escutando, contudo, são engenhosos, sobretudo a última imagem. Se não redimem o filme como um todo, ao menos fazem valer a pena vê-lo até o fim.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

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Ficha técnica:

Kimi: Alguém Está Escutando | Kimi | 2022 | 89 min | EUA | Direção: Steven Soderbergh | Roteiro: David Koepp | Elenco: Zoë Kravitz, Byron Bowers, Rita Wilson, Erika Christensen, India de Beaufort, Derek DelGaudio, Sarai Koo, Jaime Camil, Koya Harada, Betsy Brantley (voz).

Distribuição: HBO Max.

Trailer:

Quer ler mais críticas de filmes de Steven Soderbergh? Então, acesse: Logan Lucky: Roubo em Família; A Lavanderia; e A Toda Prova.

Onde assistir "Kimi":
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