Kóblic é mais um belo filme que reúne o diretor Sebastián Borensztein e o ator Ricardo Darín, dupla que fez o igualmente bom Um Conto Chinês (Un Cuento Chino, 2011).
Um filme policial tenso
Neste novo filme não há espaço para a comédia. Sua história se passa em junho de 1977, ou seja, durante a ditadura militar na Argentina. O capitão Kóblic (Ricardo Darín) procura refúgio numa pequena cidade do interior, na fazenda de um amigo. O filme revela o motivo aos poucos, conforme exibe gradativamente o flashback do momento em que ele fez algo que desagradou os seus superiores. Mas, na cidadezinha, ele arruma um novo desafeto, o chefe de polícia local. E, ainda, se envolve num romance com Nancy (Inma Cuesta), despertando a ira do companheiro dela. Com tudo isso, sua desejada clandestinidade se fragiliza. É uma trama envolvente, que poderia ser ainda mais forte se aprofundasse na relação abusiva chocante de Nancy com seu companheiro.
A direção
O diretor Sebastián Borensztein contribui para que o filme aproveite esse roteiro ao máximo. Já no começo, utiliza um plano sequência que acompanha o protagonista, recurso que induz o espectador a se perguntar para onde ele está indo.
Vários elementos aproximam o longa de um faroeste. Há o personagem principal solitário, que executa os seus inimigos com um tiro certeiro. Tem também a cidade pequena do interior com ruas cheias de areia. Além disso, um xerife usurpador e um homem que violenta a sua mulher, que costuma se locomover em cima de um cavalo. Por fim, tudo se resolve à base da violência, e o protagonista-herói vai embora para longe.
Mas a maior qualidade da direção está em enriquecer o filme com detalhes importantes dessa narrativa enigmática. Conforme essas peças se encaixam, o público pode deduzir o que acontece na história, sem a necessidade de empobrecer o relato com explicações verbalizadas.
Porém, cabe uma crítica negativa em relação ao flashback. Talvez para expressar a lembrança turva de Kóblic, ou simplesmente para diferenciar das cenas atuais, o visual desse momento complicado do passado recente do protagonista é muito feio, meio azulado, meio desfocado, e que torna difícil até reconhecer um dos personagens chaves do enredo.
Mas não restam dúvidas que o filme Kóblic é mais um exemplo do cinema argentino de primeira qualidade.
Ficha técnica:
Kóblic | 2016 | 92 min | Argentina, Espanha | Direção: Sebastián Borensztein | Roteiro: Sebastián Borensztein, Alejandro Ocon | Elenco: Ricardo Darín, Oscar Martínez, Inma Cuesta, Marcos Cartoy Díaz, Gustavo Masó, Rafael Fernández Rosendo.