Dirigido por Lucy Walker, Lixo Extraordinário concorreu ao Oscar de melhor documentário em 2011. É verdade, o Brasil continua ainda sem uma estatueta da Academia, mas este filme é um prêmio por si mesmo. Afinal, o longa metragem mostra o incrível trabalho do artista plástico brasileiro Vik Muniz com o lixo do gigantesco aterro metropolitano do Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro.
Essencialmente, a magia do filme está em revelar o desenvolvimento criativo do artista. Em paralelo, envolve o espectador com as pessoas que são apresentadas na tela. Logo, tanto o artista como o filme recorrem a alternâncias de perspectivas muito próximas e panorâmicas nesse processo.
A comunidade do aterro
A princípio, temos a impressão de que o aterro é um mundo selvagem, onde só há lixo e sub-humanos. Porém, ao nos aproximarmos mais, vemos pessoas rindo e conversando como qualquer trabalhador de outras profissões. Então, nos aproximando mais ainda, ficamos surpreendidos em saber que existe uma associação dos catadores do Jardim Gramacho, ACAMJG. E que, Tião, presidente da associação, leu Maquiavel e Nietzsche. Aliás, esse são apenas alguns entre outros livros que encontrou no lixão e que está reunindo para formar uma biblioteca comunitária.
Adicionalmente, conhecemos a eloquência do discurso de seu vice-presidente, Valter dos Santos, que nunca estudou. Mesmo assim, ele nos ensina a importância do trabalho destes operários da reciclagem para o meio ambiente.
Dessa forma, de uma perspectiva panorâmica, Vik Muniz tem a inspiração para sua obra. Ou seja, fotografar do alto alguns dos catadores e preenchê-los com material reciclado. Então, entramos na intimidade desses catadores que farão parte da obra do artista. E, assim, descobrimos que, apesar de terem orgulho do trabalho que fazem, há um sonho em cada um de conseguir outro ofício, em outro lugar.
Por isso, Lixo Extraordinário emociona. Aliás, ao abordar a reciclagem, o filme recicla nossos sentimentos e nossa forma de ver esse pequeno e desconhecido universo dos catadores. Juntamente com a vida como um todo.
