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Luna (filme)
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Luna

Avaliação:
6/10

6/10

Crítica | Ficha técnica

O filme Luna leva para as telas o sério problema do cyberbullying entre jovens.

O prólogo retrata exatamente o drama que um vídeo íntimo pode provocar na vida de uma jovem de 18 anos. Luna (Eduarda Fernandes) se desespera quando percebe que seus colegas de classe estão vendo um vídeo sensual dela e logo vários comentários maldosos surgem em seu perfil numa rede social. Essa introdução se encerra quando ela grava uma mensagem em vídeo onde se despede da mãe, chorando.

Daí em diante, o filme mostra os fatos recentes que levaram a essa situação.

Luna inicia rapidamente uma amizade com a nova aluna da classe Emília (Ana Clara Ligeiro), que a leva para experimentar novas formas de se divertir. A atitude liberal de Emília inclui ficantes, baladas LGBT e sexo entre as duas. Luna já usava uma plataforma onde compartilhava a câmera de seu notebook com estranhos, mas quando, sem querer, encontra Emília nesse programa, resolve se soltar mais.

Expectativa de suspense

Como o filme antecipa um acontecimento e o enredo volta no tempo para construir os episódios que levaram até esse momento, cria-se uma expectativa de suspense no público. Porém, a narrativa assume um tom leve demais, sem alguns picos dramáticos para criar um crescendo de ansiedade. Ao desprezar o suspense para se fixar somente no drama, Luna perde sua força.

Aliás, havia potencial para se criar um clima envolvente. A primeira sequência, quando Emília começa seu primeiro dia na escola de Luna, consegue criar uma intimidade inicial instigante com as duas protagonistas. A câmera está logo atrás de Emília enquanto ela entra na sala de aula, obtendo o efeito de mostrar o que a personagem vivencia, como foi brilhantemente realizado em O Filho de Saul (2015) por László Nemes. Mas, depois entra uma câmera subjetiva de um colega que insiste em filmar Luna, o que é válido pelo tema porém questionável quanto à narrativa, pois a subjetividade não é de um personagem importante.

Luna

No entanto, o público certamente sentirá empatia pela protagonista Luna, pela ótima atuação de Eduarda Fernandes. A carga dramática em seu depoimento para a mãe é emocionante, assim como a cena em que ela retorna ao colégio depois de ter sua intimidade exposta. O trabalho da atriz é favorecido pela boa construção de sua personagem. Um detalhe simples, mas bem inserido no roteiro, não deixa a reviravolta final incoerente. O pai de Emília, na tentativa de seduzir Luna, elogia os seus dentes e diz que são fortes como ela.

Então, uma metáfora evidencia a vontade de Luna para quebrar barreiras, não aceitando limites impostos por outros. Estamos falando das duas cenas em que ela atravessa uma cerca de arame que foi cortada. Assim, o único ponto falho na criação dessa personagem está no fato de ela ser popular na escola mas não ter uma melhor amiga na classe, antes de Emília.

Emília

Já a outra protagonista, Emília, em contraste, é um dos pontos fracos do filme Luna. Não pela atuação de Ana Clara Ligeiro, mas porque o roteiro não aprofunda em suas caracterizações. A família de Emília é rica, mora numa casa de luxo, mas ela vai estudar em uma escola pública, o que parece não fazer sentido. Ela convive, também, com pessoas de classe mais baixa, não só Luna, como outras pessoas. Se a classe social não tem nenhuma função na estória, não haveria motivos para essa diferenciação.

Além disso, não entendemos os motivos para Emília frequentar baladas LGBT à noite e fazer sexo a três com pessoas que, aparentemente, mal conhece. Enfim, a narrativa se concentra tanto em Luna que essa outra protagonista, também essencial para o filme, foi apenas rascunhada no roteiro.

O roteiro

Aliás, o roteiro falha ao evitar os momentos de maior carga dramática. A ausência dessa potencialização, além de enfraquecer o filme, coloca em dúvida a atitude dos seus personagens. Em essência, são três esses momentos. O primeiro quando Luna e Emília se desentendem pela primeira vez por causa da tentativa de assédio do pai. O segundo na cena em que Luna questiona a amiga sobre a gravação do vídeo. E, por fim, a elipse que não mostra como a mãe encontrou Luna em sua tentativa de suicídio.

Em relação ao uso dos fenômenos naturais para reforçar a narrativa, o filme Luna acerta ao colocar muita chuva na estória. A chuva, aliada às névoas, intensifica o clima dramático do filme. Faltou, porém, dosar esse recurso, pois nem tudo é melancólico na estória. Um clima mais ensolarado poderia ressaltar a felicidade que as duas encontram na amizade entre elas.

Enfim, Luna lembra o filme Ferrugem, de Aly Muritiba. Ambos são de 2018 e tratam do cyberbullying em um grupo de jovens. A diferença na abordagem reside no teor panfletário que o filme de Cris Azzi assume na sua conclusão. E, se Muritiba acertou na escolha da estrutura de seu filme, dividido em duas narrativas com pontos de vistas diferentes, Azzi pecou por adiantar um fato futuro no prólogo, gerando uma falsa expectativa de suspense. Porém, Azzi se redime na última parte, ao arriscar cair na pieguice para concluir com uma mensagem panfletária com um surpreendente otimismo.

 

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