O documentário Max Roach: The Drum Also Waltzes deposita igual importância ao músico e ao homem ora retratado.
O músico
Como músico, o filme revela um baterista que queria ocupar a posição de frente nos grupos e projetos de sua carreira. Começou entre outras feras do jazz como ele: Charlie Parker e Miles Davis. Com seu jeito único de tocar bateria, ajudou a construir o cenário do bebop nos anos 1940. Enfrentou problemas com as drogas, das quais se afastou quando sua primeira filha nasceu. Para assumir a posição de liderança numa banda, formou o seu próprio quinteto, ao lado de Clifford Brown. A morte prematura deste, aos 25 anos, num acidente de carro, levou Max Roach às bebidas, para longe da família. Reergueu-se com um novo projeto, junto a sua nova esposa, Abby Lincoln.
A criatividade inquieta de Max Roach, inconcebível para um baterista, o levou a experimentalismos inéditos. Assim, colocou seu ritmo jazzístico junto a um grupo vocal gospel. Além disso, fazia shows sozinho, apresentando uma hora e meia só de solos de bateria. Nos anos 1970, fundou o M’Boom, um grupo formado apenas por percussionistas. Aliás, é impagável a declaração do músico de hip hop Questlove, que diz brincando que um grupo só de percussionistas representa o seu pior pesadelo. Depois, nos anos 1980, apresentou-se com músicos de rap. Enfim, a última cena, com Roach tirando um tremendo som apenas de um chimbal sintetiza toda a criatividade deste músico sempre inventivo.
O ativista
Por outro lado, como homem, Max Roach é lembrado por seu ativismo. Ele experimentou as humilhações de não poder se sentar num restaurante por ser negro – como vimos no recente filme Green Book (2018). Por isso, lutou sempre contra essa discriminação, conforme sua figura pública se tornava mais evidente. O documentário destaca seu LP “We Insist!” (1960) como um símbolo dessa sua luta.
O documentário
O longa do experiente Samuel Pollard, com co-direção de Ben Shapiro, apresenta um abrangente relato da vida de Max Roach. O projeto do filme começou no final dos anos 1980, quando Pollard entrevistou Roach. Após uma breve introdução sobre o longo processo até finalizar o longa, o documentário começa a contar a história de Roach desde sua infância. Não havia, claro, registros filmados dessa época, nem do início da carreira musical. Assim, os realizadores se valem de recorrentes entradas de depoimentos de músicos e de familiares. Em alguns momentos, utilizam montagens com fotos e capas de álbuns sincronizadas com a música.
Mas os melhores trechos são mesmos aqueles que mostram Max Roach em ação, em diferentes fases de sua vida. As imagens mais abundantes surgem na parte final do filme, e da carreira de Roach, em seus vários projetos experimentais.
Embora maturado durante três décadas, Max Roach: The Drum Also Waltzes não traz muito material inédito. As entrevistas, pelo jeito, foram registradas em áudio apenas, pois há poucos trechos filmados de Roach com exclusividade. Mas, em relação a conteúdo, não deixa nada de fora e traz uma completa biografia desse essencial baterista e ativista.
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Ficha técnica:
Max Roach: The Drum Also Waltzes | 2023 | 82 min | EUA | Direção: Samuel Pollard, Ben Shapiro | Com Ibrahim Abdullah, Harry Belafonte, Jimmy Heath, Quincy Jones, Abbey Lincoln, Questlove, Max Roach, Sonny Rollins, Sonia Sánchez, Randy Weston.
O filme está na programação do festival In-Edit Brasil 2023.
Obs: poster não-oficial.