O documentário MLK/FBI se debruça sobre a revelação de que o FBI espionou o ativista Martin Luther King em busca de motivos para desmoralizá-lo publicamente. Segundo o filme, apesar de esse órgão de segurança ter como objetivo principal evitar o crime e o comunismo, tal ação investigativa foi iniciada com base na alegação de que King representava uma ameaça aos EUA.
Na verdade, o mote principal para a realização de MLK/FBI parece insuficiente para fornecer conteúdo interessante para preencher um longa-metragem. Ainda mais porque, numa conclusão decepcionante, descobrimos que as gravações nas fitas que o FBI coletou somente poderão ser reveladas em 2027. Por isso, o que o diretor Sam Pollard consegue aqui, e com competência, é contextualizar a trajetória de Martin Luther King durante essas investigações. Assim, cria evidências de que o diretor do FBI, J. Edgar Hoover, agiu por impulsos pessoais contra o líder ativista.
Disputa de poder
MLK/FBI dialoga com o recente longa ficcional Judas e o Messias Negro (2021), que retrata Hoover com inclinações racistas. E o documentário reforça sua oposição a King também por uma disputa de poder. Afinal, King tinha acesso direto aos presidentes John F. Kennedy e seu sucessor Lyndon B. Johnson. Além disso, ainda ganhou o Nobel da Paz em 1964. E, como mostram as impressionantes imagens, ele foi capaz de levar milhões à famosa Marcha a Washington em 1963. Então, como último recurso, Hoover buscou provas de condutas sexuais inapropriadas do reverendo King, que, provavelmente, estão nas fitas ainda protegidas por sigilo.
O documentário possui um ritmo ágil, conseguido com uma sucessão rica de variados materiais. Nesse quesito, há trechos de reportagens, entrevistas, propaganda do governo e, até cenas de filmes. Aliás, uma das ferramentas do governo era a cultura popular, que vendia a imagem heroica dos G-Men, os agentes do FBI deliberadamente padronizados como homens brancos, altos e conservadores.
Enfim, MLK/FBI se apressa em explorar a descoberta sobre a investigação tendenciosa do FBI sobre Martin Luther King. Naquela época, a revelação indireta do que foi encontrado provocou certo abalo psicológico de King, mas ele continuava a seguir seu caminho com vigor, como comprova o seu discurso um dia antes de seu assassinato. Ou seja, a exposição dessa investigação é importante, mas ela não seria suficiente para mudar o curso da trajetória do líder ativista.
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Ficha técnica:
MLK/FBI (2020) EUA. 104 min. Direção: Sam Pollard. Roteiro: Benjamin Hedin, Laura Tomaselli. Com Martin Luther King, J. Edgar Hoover, David Garrow, Clarence B. Jones, Donna Murch, Beverly Gage, Marc Perrusquia.