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Soberba (filme)
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Soberba

Avaliação:
7/10

7/10

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Crítica | Ficha técnica

“Soberba” é aquele eterno grande filme em potencial

Depois da desconcertante estreia com “Cidadão Kane” (Citizen Kane, 1941), um dos melhores da história de todos os tempos na lista de qualquer cinéfilo, Orson Welles dirigiu “Soberba”. Novamente com muitas boas ideias, mas apenas algumas delas permaneceram no filme. Infelizmente, a produtora, RKO montou o filme sem a presença do diretor, descartando 50 minutos de filmagem, que foram destruídos. Uma das maiores incógnitas do cinema, então, é supor se, em sua versão integral, este poderia ser tão bom ou talvez melhor que “Cidadão Kane”.

George Minafer é o esnobe filho de Isabel Amberson Minafer, uma rica família em uma cidade pequena dos Estados Unidos. Eugene Morgan (Joseph Cotten), um antigo pretendente de Isabel, é um empreendedor da nascente indústria automobilística, que volta a cortejá-la após a morte do pai de George, a contragosto deste. Essa oposição ao novo relacionamento da mãe se torna um obstáculo para o namoro dele com Lucy Morgan (Anne Baxter), filha de Eugene. No entanto, a inversão dos poderes, pelas perdas econômicas da família Amberson e pela ascensão da empresa dos Morgans, pode alterar esse desajustado estado.

Marcas do talento de Orson Welles

O prólogo de “Soberba” é arrebatador. Orson Welles entra como narrador da estória, que começa em 1873, com a tela toda em preto por alguns segundos. Então, entra a imagem da enorme casa dos Ambersons, em tom sépia, enquanto se descreve o poder da família naquela cidade, com entonação cômica. A íris do filme deixa as bordas arredondadas, imitando os primeiros filmes mudos. A mise en scène somente se torna contemporânea quando na estória George se torna adulto, tomando o centro do quadro, com postura arrogante.

O interior da casa dos Ambersons, onde se passa a maior parte da narrativa, sempre surge nas telas com muitas sombras, enquadramentos deslocados, e com câmera em altura abaixo da cintura, dando a impressão de um teto com pouca altura, oprimindo os personagens. Quando o pai de George morre, os personagens olham para a câmera dentro do caixão, como uma impossível câmera subjetiva do falecido. Dessa forma, fica evidente como George foi criado em ambiente que o tornou um rapaz tão insolente.

Orson Welles trabalha enfaticamente o antagonismo entre a tradição dos Ambersons e a modernidade dos Morgans. George menospreza o automóvel, como sendo uma invenção sem futuro, e prefere levar Lucy para passear em um trenó puxado por um cavalo. Enquanto isso, Eugene conduz sua mãe e outros convidados em um automóvel que atola na neve. O adorno de madeira em frente à casa dos Ambersons traz a figura de um cavalo. E será justamente a opção por investir na moderna indústria automobilística que tornará os Morgans mais ricos que os Ambersons.

Em defesa do moderno

Acima de tudo, o fato que muda o comportamento de George envolve um carro. Aliás, Welles defende a modernidade, porque sentiu na pele as críticas que “Cidadão Kane” recebeu, por utilizar técnicas narrativas de forma tão intensa como nenhum outro filme havia ousado até então. De fato, seu cinema moderno não foi tão bem compreendido na época. Porém, anos mais tarde, foi reconhecido como um dos marcos da história dos filmes, da mesma forma que ocorreu com os automóveis, considerado indispensável depois de algumas décadas.

Welles não abandona as técnicas que empregou em seu filme de estreia, como usar os noticiários de jornais para contar eventos da estória, ou montagens com comentários de personagens. Seu uso não é tão enciclopédico quanto em “Cidadão Kane”, o que talvez tornasse “Soberba” mais fluido que este, e isso o espectador pode apreciar, especialmente, até sua primeira metade. Porém, a mutilação da RKO tornou incompreensível o arco dos personagens, finalizando de maneira rasa a transformação de personagens até então construídos com profundidade.

Em suma, “Soberba”, como foi entregue ao público, não é um grande filme. Mas, “Soberba”, como Welles o filmou, talvez seja – contudo, nunca saberemos.


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